sábado, 28 de novembro de 2020

Mr. Love: Queen's Choice [ARCO 2] ~ Capítulo 13 (Lucien) ~ "Acima das Mentiras"

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♦ Capítulo 13 - Acima das Mentiras ♦

(12 partes)




♕ Parte 1


Céu limpo, um bom vento.


Eu seguro uma linha de pipa


e corro por campos infinitos de centeio.




Eu caí. Eu vejo a pipa voar para longe.


Como se fosse para um mundo onde nunca mais seria vista novamente.



Olhei para baixo,


para minha mão cortada pela linha,


lentamente escorrendo sangue.



Como isso dói!


................



Era apenas outra noite normal, não muito diferente de qualquer outro tempo.


Só que neste dia, estava bem frio.


Fazia tempo que não havia sinais de pedestres nas ruas à meia-noite. Debaixo do céu sem estrelas, havia somente luzes fracas à distância.


A última luz nas altas torres gêmeas piscou e depois se apagou.


No telhado, uma jovem garota vestida de branco apareceu de repente, do nada. Ela caiu no chão, olhando ao redor totalmente aterrorizada.


Atrás dela, uma sombra se levantou. Um homem de preto, com as mãos no bolso, andou até a garota.


Garota: A--Ares! É você...


Os olhos do homem nem se mexeram enquanto ele olhava sem expressão para a garota.


Garota: Foi você que me fez desaparecer de lá? Eu...Eu estava prestes a ter sucesso...


Lucien: Por que você decidiu agir sozinha?


Seu tom era tão neutro quanto um lago imóvel. Ele claramente não estava a interrogando, mas isso deixou a garota tão aterrorizada que ela esqueceu de se explicar.


O corpo da garota lentamente começou a ficar transparente. Ela parecia saber o que a esperava.


Ela queria lutar, mas seu corpo não se mexia, como se estivesse preso no lugar.


Garota: Eu não quero ir para lá! Ares, por favor, por favor, por favor! Eu não quero ir...


O último fio de cabelo dela desapareceu no ar, e então toda sua súplica, raiva e desespero acabaram nesse momento.


O homem lentamente saiu das sombras. Seus olhos indiferentes pareciam estar olhando para um espécime de teste arruinado.


Lucien: DCPS2486. Ondas cerebrais estáveis. Sem linguagem extrema presente.


As palavras frias e mecânicas foram sopradas na noite escura como uma névoa e se dissiparam.


Uma rachadura se abriu nas nuvens da noite, e o luar gelado se derramou no telhado vazio e silencioso.


As engrenagens da cidade começaram a funcionar, ninguém percebeu uma luz fraca piscando na noite.


.......


Nesse dia eu fui dormir cedo, tanto por causa do surpreendente clima frio como também por causa de uma sonolência repentina.


Um som abafado de eletricidade acontecia nas proximidades e eu acordei assustada de um sonho. Um resquício daquela luz dourada deslumbrante parecia surgir diante de mim.


Eu abri minha mão. Estava coberta de suor.


Fazia muito tempo que não tinha um sonho tão confuso. Desde o meu despertar, meus sonhos estavam bem claros e coerentes.


Eu levantei da cama, sentei na mesa e anotei meu sonho como sempre.


O caderno estava se enchendo rapidamente. Desde que eu tive a visão com o Gavin no incêndio, eu estava anotando todos os meus sonhos diariamente.


Muitos dias haviam se passado e ainda nenhuma notícia do Gavin.


Eu continuei ligando para ele todos os dias, mandando mensagens e perguntando aos Agentes da Força-Tarefa, mas sem respostas para meu desapontamento.


Me lembrando de sua silhueta distante e solitária enquanto ele partia, meu coração se apertou.


Mei: Gavin... O que aconteceu com você agora...?


Eu deitei a cabeça na mesa, observando o céu claro pela janela, o som de eletricidade em meus ouvidos não parava.


Eu tenho ouvido esse som desde o dia que Gavin e eu nos separamos.


Primeiro eu pensei que fosse só um sintoma de excesso de ansiedade, mas nada que eu tentei conseguiu me livrar disso.


A próxima vez que eu falar com o Gavin, eu tenho que contar sobre isso para ele.


Quando o relógio marcou 7h o telefone ainda não tinha tocado.


Hoje era o dia do Victor me ligar. A ligação semanal dele lentamente se tornou um hábito.


Victor nunca se atrasa um segundo para nada. O que está fazendo ele demorar hoje?


Pensando nisso, peguei o telefone e eu mesma liguei para ele.


"Desculpe, o número que você discou está indisponível..." Eu tentei várias vezes, mas sem resposta.


Victor já deveria ter atendido, e mesmo se o celular não estivesse com ele, a ligação deveria pelo menos ter completado.


Meu coração se acelerou de repente. Depois de pensar por um momento, eu fui até a LFG.


Quando cheguei no escritório do CEO o Goldman já estava lá trabalhando.


Mei: O Victor está?


Goldman balançou a cabeça negativamente e me olhou curioso.


Goldman: Ele não está. Estranho, ele na verdade está bem atrasado hoje.


Mei: Que tal você ligar para ele e perguntar?


Goldman: Não sou louco. Eu gosto muito do meu emprego.


Mei: Apenas diga que fui eu que liguei! Por favor, eu realmente preciso falar com o Victor sobre algo!


Goldman hesitou, mas provavelmente ele se lembrou do conflito que eu e o Victor tivemos da última vez no escritório, e pegou seu celular.


Goldman: Quando ele atender você começa a falar, okay? Diga que você pegou meu telefone...


Eu concordei, olhando ansiosa enquanto o Goldman sorria e discava o número do Victor.


Um tempo depois o sorriso do Goldman congelou no seu rosto.


Goldman: Não completa a ligação.


Mei: Você tem o telefone da casa dele?


Goldman: Por que eu teria? Mas isso é muito estranho. Em todos esses anos ele nunca se atrasou e ele nunca ficou todo esse tempo sem atender o telefone.


Vendo o Goldman sem respostas também, eu batia o pé ansiosamente. O que aconteceu com o Victor?


Espera! Talvez ele esteja lá!


Eu rapidamente pedi para o Goldman me avisar caso o Victor voltasse e então corri até o Souvenir.


Sr. Mills: Desculpe, Srta. Mei, mas eu não vejo o chefe há muito tempo.


Mei: Quanto tempo?


Sr. Mills: Bem, faz duas semanas desde a última vez que ele veio.


Eu parei na porta do Souvenir, olhando para o menu no quadro-negro de duas semanas atrás. Eu me senti vazia.


Para uma pessoa que eu via com freqüência e que estava sempre em contato comigo desaparecer de repente...Eu não sentia só ansiedade, mas também um pouco de medo.


Eu levantei a cabeça, olhei a multidão ir e vir pela rua, secretamente desejando que o Victor só tivesse tido algum tipo de trabalho repentino hoje e não olhou seu celular.


Eu vou esperar até mais tarde e tento ligar para ele de novo.


Eu dei ao Sr. Mills as mesmas instruções que havia dado ao Goldman e decidi voltar para casa.



 

♕ Parte 2



No caminho, eu ainda tinha um sentimento persistente que não saía de mim.


Principalmente depois de não conseguir entrar em contato com o Victor hoje.


Enquanto eu andava por Verdant Plaza, uma multidão reunida chamou minha atenção.


Em uma tela grande no centro da praça, a última reportagem do Notícias da Cidade passava. Um estranho incidente havia ocorrido no oeste da cidade.


A reportagem dizia que uma mulher havia acordado durante a noite e percebeu que sua costela havia sido quebrada, mas as câmeras não detectaram ninguém entrando ou saindo.


Pedestre A: Que estranho, já é a terceira vez esse mês...


Pedestre B: Eu também ouvi que o elevador da torre panorâmica quebrou de repente. As pessoas quase morreram!


Pedestre C: Sim, sim! O que está acontecendo ultimamente? Eu vou falar para o meu filho tentar ficar dentro de casa...


Os pedestres estavam discutindo a recente onda de eventos que acontecia na cidade de Loveland. Parecia que eles estavam tendo muito efeito na vida cotidiana.


De repente eu pensei naquela cena que aconteceu na Força-Tarefa, com aquele Agente Evol fora do controle.


E a notícia que o Comandante nos disse sobre Evolvers por toda a cidade perdendo o controle.


Será que isso estava conectado com os incidentes recentes? A questão pesava na minha mente, e eu peguei meu celular para procurar mais informação e verificar minha hipótese.


Eu lentamente percebi que em todos esses incidentes havia uma causa sobrenatural que desafiava a lógica e a explicação científica.


Se esses são os resultados dos superpoderes saírem do controle...Eu não quero nem imaginar o que aconteceria com essa cidade.


Mas agora com o desaparecimento do Gavin e do Victor, eu não tinha ninguém que me ajudasse sobre isso. O que eu posso fazer?


Enquanto eu pensava sobre isso, uma onda de gritos agudos surgiram próximo de mim, um após o outro.


Eu olhei para a tela e vi um plantão de notícia que estava passando -- notícia sobre o Kiro.


Notícia: Agora há pouco em uma entrevista coletiva feita pela B.S Entretenimento, Kiro anunciou pessoalmente que ele irá se retirar da vida pública.


Notícia: Essa notícia deixou toda a indústria do entretenimento e toda a sociedade em atenção.


Notícia: De acordo com uma fonte, a razão pelo afastamento do Kiro é possivelmente devido à série de incidentes recentes com fãs enlouquecidos.


Notícia: Mas ninguém imaginava que essa grande mudança também incitaria um tumulto de grande escala entre os fãs.


Notícias: No telhado da Agência B.S. já há vários fãs segurando faixas e até mesmo ameaçando pular do prédio.


Eu olhava para a tela atordoada, enquanto mostrava um Kiro super-protegido sendo escoltado rapidamente para longe sob a proteção de seguranças.


Eu não pude deixar de pensar na conversa que nós tivemos recentemente.


Naquela última ligação telefônica, ele parecia bem exausto e também fraco. Ele me disse que tinha tomado uma grande decisão.


Eu acho que essa decisão foi se afastar da vida pública.


Cortar laços com a indústria de entretenimento que ele tanto ama, pensar no que é melhor para os fãs dele...esse era definitivamente o resultado de muita reflexão da parte dele.


Mas também era muito estranho os fãs criarem um tumulto desse jeito. Será que isso tem a ver com os Evol fora de controle também?


Eu queria ligar para o Kiro, mas então pensei que ele tinha acabado de sair de uma entrevista coletiva e definitivamente não iria querer ser perturbado.


Eu vou dizer da próxima vez que nos falarmos. Que não importa a decisão que ele tome, eu sempre vou apoiá-lo!


Guardando meu celular, eu decidi ir até o escritório. Tem tido muito caos ultimamente. Os funcionários precisam de um descanso.


Quando eu cheguei na estação de metrô eu fui repentinamente empurrada para frente pela multidão que estava atrás de mim.


Mei: O que está acontecendo?


Eu rapidamente perguntei a um pedestre o que estava acontecendo.


Pedestre: Alguma coisa ali! É melhor você correr senhorita!


Ele apontou para as torres gêmeas atrás de mim, com um olhar de preocupação.


Eu olhei na direção das torres. Vários carros de polícia já estavam reunidos ali, e os policiais estavam evacuando a multidão.


Mei: Você sabe o que é?


Pedestre: Como eu saberia? Eu só ouvi que um enorme vento preto apareceu e o prédio vai cair!


Hã? Eu estava de olhos arregalados e sem palavras.


Pedestre: Parece inacreditável, mas é verdade! É melhor nós corrermos!


Com isso, ele se virou e correu na frente.


Antes, eu nunca acreditaria em um conto tão estranho, mas sabendo agora que Evols estavam saindo do controle, eu tinha que acreditar.


E ele disse que era um vento. Será que o Gavin estava envolvido?


Meu coração pulou imediatamente na garganta, e eu corri em direção às torres em pânico.


No caminho, eu tropecei em um degrau de pedra e caí, ralando um pouco o joelho. Eu limpei a sujeira e continuei em frente.


As torres gêmeas estavam envolvidas por uma tempestade preta, como um enxame de nuvens carregadas, varrendo outdoors rasgados e pedaços de metal.


Sob as rajadas de vento, uma enorme rachadura apareceu na passarela que conectava as duas torres. Pedras caíam da fenda enquanto a multidão gritava.


Pedestre: Ainda tem gente ali em cima! Muita gente! Oh não, como isso pode estar acontecendo?!


A rachadura estava visivelmente se expandindo, Uma das pontas da passarela começou a ceder. Começou a acelerar, e não havia nada que a equipe de salvamento pudessem fazer.


É o Gavin que está lá em cima? O que eu faço? Se isso continuar assim, todos que estão em ambos os prédios estarão em perigo!


Uma mulher estava chorando e rezando. Parecia ser a única coisa que se poderia fazer agora.


A única coisa que todos podiam fazer era ficar parados, olhando enquanto a rachadura aumentava rapidamente. A passarela parecia que ia desabar a qualquer momento.


Nesse momento tenso, de repente tudo parou.


A rachadura parou de aumentar e a passarela parou de ceder, como se uma mão invisível estivesse segurando ela no ar.


Algumas pessoas que haviam escapado do prédio saíram do estado de choque e começaram a abraçar umas as outras, chorando de alegria.


A polícia acelerou seus esforços para resgatar as pessoas que ainda estavam na passarela.


Eu esfreguei meus olhos e pude ver e perceber vagamente um campo de força transparente aparecendo na passarela, que brilhava levemente e a mantinha firme.


O que é isso?!


Quando tentei olhar de novo, a luz suave havia desaparecido. Outras pessoas na rua disseram não ter visto nada. Poderia ser um Evol?


Logo, as pessoas que estava presas dentro do prédio começaram a sair, dizendo que a passarela havia parado de rachar bem na frente de seus olhos.


Eles diziam assustados e com alegria que aquilo era um milagre. A polícia se aproximou para manter a ordem e dispersar a multidão restante.


Eu observei cuidadosamente cada onda de pessoas que saía dos prédios até que a última ambulância partiu, mas eu não vi nenhum sinal do Gavin.


Aquele inexplicável vento preto se dispersou, e as coisas que ele havia varrido junto com ele caíram livremente no chão.


Graças a deus todos ao redor do prédio já tinham saído, ou então isso causaria mais um grande tumulto.


Mei: Eu acho que estava pensando demais...


Eu guardei meus sentimentos desconfortáveis e me virei para ir embora.


Pedestre: Cuidado!


Um grito veio de trás de mim. Antes que eu tivesse tempo de me virar, eu pude sentir meu corpo todo ser envolvido por uma força calorosa.


A força me separou da multidão, fazendo os gritos parecerem bem longe.


Eu virei minha cabeça com olhos arregalados.

 



♕ Parte 3



Um outdoor arrancado pelo vento de repente desviou em sua queda e estava indo direto para mim.


O tempo pareceu ficar mais lento. Eu vi a imagem distorcida de uma pessoa no outdoor. A multidão em pânico correu em todas as direções. Minha mente pareceu congelar...


Quando estava a menos de 1 metro de mim, parou completamente no lugar!


Era aquela mesma luz brilhante, dessa vez aparecendo bem diante dos meus olhos.


Então eu vi duas mãos, duas mãos esbeltas e rápidas me afastando.


Elas eram tão familiares, meu coração imediatamente voltou à sua posição normal.


Atrás de mim, o outdoor caiu no chão com um barulho alto.


Eu esqueci de gritar, esqueci de reagir. Atordoada, eu segui aquele par de mãos subindo o olhar até encontrar um par de olhos pretos, lábios apertados com força e um rosto que mostrava um momento de preocupação.


Ele era sempre tão seguro de si. Eu raramente via um olhar como aquele em seu rosto.



Mei: Lucien!


Eu o olhei admirada, e seu nome simplesmente saiu da minha boca.


Lucien pareceu ter respirado fundo e sua boca se curvou um pouquinho.


Lucien: Não tenha medo. Está tudo bem.


Suas palavras vieram do outro lado do campo de força. Nós podíamos estar centímetros longe, mas parecia que eram mundos de distância.


Vendo que eu parecia estar fora de mim, Lucien esticou o braço e gentilmente acariciou meu cabelo.


Lucien: Eu ouvi dizer que acariciar o cabelo quando se está com medo ajuda a evitar o medo da próxima vez.


No momento que ele se aproximou, o campo de força desapareceu. Eu finalmente caí na real e meu rosto ficou vermelho.


Mei: Obrigada...Mas o que você está fazendo aqui?


Lucien abaixou a mão e a colocou no bolso.


Lucien: Simplesmente aconteceu de eu estar passando. Você...se machucou agora há pouco?


Sem esperar minha resposta, ele me olhou de cima a baixo. Quando seu olhar chegou no meu joelho, suas adoráveis sobrancelhas se juntaram.


Mei: Ah, foi só um pequeno arranhão...


Lucien: Está doendo?


Mei: Está tudo bem! Não dói muito...


Lucien suspirou e me fez sentar em um banco.


Ele tirou um cotonete desinfetante de uso único do seu bolso e limpou meu ferimento. A sensação de ardência me fez puxar o ar profundamente.


Lucien: Isso vai dor um pouco.


Eu olhava enquanto ele lavava meu joelho atenciosamente. Sua franja caía sobre a ponta de seu nariz e seus longos cílios estremeceram.


Finalmente, ele levemente colocou um curativo.


Lucien: Pronto. Ainda está doendo?


Eu olhei para o curativo no meu joelho e balancei a cabeça negativamente.


Mei: Bem melhor.


Lucien: Muito bem.


Lucien olhou para o outdoor que havia caído no chão e lentamente franziu a testa.


De repente eu pensei naquele campo de força transparente que havia me envolvido agora há pouco. Será que foi o Lucien que fez isso?


Nos conhecemos por tanto tempo mas ele nunca me disse nada sobre ter seu próprio Evol.


Mas se ele me dissesse que é uma pessoa normal, eu não acho que acreditaria.


Aquela vez que o Gavin atirou em minha direção e bloqueou aquela bala, havia uma barreira branca também.


Poderia ser o Evol do Lucien?


Mei: Lucien...hmm...posso te perguntar uma coisa?


Lucien: Claro, pergunte.


Mei: Você é um Evolver?


Lucien: Eu sou.


Mei: Quando aquela passarela estava caindo, foi você que...


Lucien confirmou sem hesitar.


Mei: Então, qual é o seu Evol?


Lucien pensou por um momento e então sorriu para mim, mas não respondeu.


Lucien: Desculpe, no momento eu não posso te dizer.


Eu balancei a cabeça. Eu não me importava tanto assim. Afinal de contas, era um assunto particular.


Lucien: E você? O que você estava fazendo aqui?


Mei: Na verdade, eu também só estava passando...


Mei: Eu simplesmente ouvi as pessoas dizendo que um vento estava derrubando as torres gêmeas. Pareceu estranho, então eu vim...


Lucien: Você sabia que era perigoso? Por que você não fugiu?


Lucien: Da próxima vez que houver perigo, você pode não ter tanta sorte novamente.


Ele disse isso tão suavemente, como uma névoa flutuando ao nascer do sol.


Ele está bravo? Eu olhei cuidadosamente para a expressão dele. Não parecia muito diferente do normal.


Vendo que eu estava confusa, Lucien deu uma piscadinha para mim.


Lucien: O que você está pensando? Eu só estou dizendo que pode ser que não aconteça de eu estar andando por perto da próxima vez.


Ele estava de volta ao seu antigo eu. Eu provavelmente estava interpretando coisas demais.


Mei: Eu não posso ver o perigo e simplesmente correr, e eu acho que esse incidente dessa vez é realmente sério...


Lucien me olhou e lentamente abriu a boca.


Lucien: Porque Evol está saindo do controle.


Mei: Hã? Você sabe?


Lucien: Sim. Recentemente vários incidentes como esse está acontecendo na cidade de Loveland.


Seu tom era moderado, como se ele estivesse dizendo algo completamente normal.


Meu coração afundou. Antes, isso era só um perigo pessoal, mas agora era um problema para todos.


A Força-Tarefa provavelmente começou a investigar isso há muito tempo. Se eu for buscar a ajuda deles agora, eles provavelmente só irão me colocar sob proteção.


Se eu apenas pudesse encontrar algumas pistas sozinha...


Mei: Lucien...Se eu disser que quero investigar esses incidentes, você pensaria que eu sou boba?


Lucien: Não pensaria.


Eu olhei para ele e pisquei meus olhos.


Lucien: Porque eu te conheço.


Mei: Mas...eu nem tenho idéia por onde começar a investigar...


Lucien: Você parece ter esquecido que sentado ao seu lado está um pesquisador Evol.


Mei: Certo! Você tem alguma pista?


Lucien me deu o celular dele. Eu o peguei confusa, e então meus olhos se arregalaram em choque.


Mei: Arquivos detalhados desses casos! Como você conseguiu eles?


Lucien: É claro que eu tenho meus próprios métodos. Eu apenas estou feliz por eles ajudarem você.


Mei: Definitivamente será uma grande ajuda! Muito obrigada!


Eu olhei os casos cuidadosamente. Além do elevador turístico quebrar, os outros 3 casos eram todos de doenças repentinas ou ossos quebrados.


Mei: Lucien, quando você salvou aquelas pessoas, você viu quem foi que causou a rachadura no edifício?


Lucien: Não.


Esse incidente repentino não tinha nenhuma pista. Parece que eu vou ter que começar pelo primeiro caso.


Pensando nisso, eu estava prestes a pedir para o Lucien investigar junto comigo. Então eu pensei que alguma coisa poderia acontecer com o Lucien e decidi não envolver ele nisso.


Eu peguei a informação do primeiro caso e devolvi o celular para o Lucien.


Mei: Hmm...de repente eu me lembrei que tem algo que preciso fazer...Até mais...


Eu me levantei, e antes que eu pudesse dar o primeiro passo, eu ouvi um suspiro atrás de mim.


Lucien: Não nos vemos há mais de um mês. Parece que eu voltei a ser alguém que você pensa que pode simplesmente mentir.


Eu parei com vergonha e me virei.


Mei: Uh...Eu nunca mentiria para você...


Lucien: Então por que você não me convida para ir com você na sua investigação?


Lucien: Eu disse antes, se tiver qualquer coisa que você queira fazer, eu sempre vou te ajudar.


Eu balancei a cabeça solenemente.


Mei: Não é isso. Eu planejei fazer isso originalmente, mas essa é minha escolha própria. Eu não posso envolver os outros nisso.


Mei: Não se preocupe. Eu posso fazer isso sozinha!


Lucien: Mas eu não posso fazer isso sozinho.


Mei: Huh?


Lucien: Eu me preocupo com você.


Eu fiquei olhando enquanto Lucien vinha na minha direção. Com suas costas viradas para o sol, ele estava contornado por um anel de ouro.


Lucien: O gato comeu sua língua boba de novo? Deixe-me ir com você, está bem?


Mei: Está bem...


 


♕ Parte 4



Quando chegamos na torre panorâmica, era meio-dia.


Ao contrário do dia frio e melancólico ontem, hoje o sol estava brilhando, iluminando essa torre que tinha mais de 40 anos de história.


Mei: Olá, nós somos repórteres do Notícias da Cidade. Estamos aqui para entrevistar o operador do elevador que quebrou.


Eu peguei o meu passe de imprensa e entreguei para a funcionária. Ela me devolveu ele, parecendo estar acostumada com isso agora.


Recepcionista: Eu vou te levar até ele. Você já é a enésima repórter...


Mei: Desculpe, mas posso ver o elevador em questão primeiro?


A recepcionista concordou e nos levou até o elevador que agora estava funcionando novamente.


Recepcionista: É esse aqui. Se você precisar tirar fotos, seja rápida.


Mei: Ótimo, obrigada.


Lucien e eu olhamos um para o outro. Eu peguei meu celular e cuidadosamente tirei fotos de cada canto. Lucien examinou atentamente os detalhes.


Porque a recepcionista ainda estava nos esperando e nos apressando, nós não encontramos nada anormal. Nós só pudemos seguir ela para ver o operador.


No caminho, eu continuei perguntando para a recepcionista o que ela pensava sobre a situação.


Recepcionista: Vai saber, com essas coisas paranormais. Eu ouvi que uns 100 anos atrás esse lugar costumava ser um cemitério. Talvez seja um fantasma!


Mei: Um fantasma?


Recepcionista: É. A companhia de reparos já veio e verificou, disse que tudo estava em perfeita ordem. Se não foi um fantasma, então o que foi?


Recepcionista: Chegamos. Ele está aí dentro.


Nós ficamos parados na porta do dormitório de funcionários, um cheiro forte de álcool vinha de dentro. A recepcionista abriu a porta com uma expressão de nojo em seu rosto.


Havia somente um homem de meia idade, bêbado, deitado no chão, com garrafas de bebida ao redor dele.


Recepcionista: Vá em frente com sua entrevista. Eu tenho coisas para fazer.


A recepcionista, parecendo não querer ficar mais nem um minuto naquele lugar, saiu apressada.


Quando o homem no chão nos viu ali, ele riu e então lentamente se levantou.


Operador do Elevador: Outros repórteres? Vocês já não tiveram o bastante? Foi só um defeito no elevador!


Eu o observava enquanto relembrava todas as informações sobre o caso na minha cabeça.


Cinco dias antes, o elevador da torre panorâmica teve defeito. A porta não fechava e ele até caiu. Depois de múltiplas inspeções não foi encontrada nenhuma causa.


Depois de uma queda repentina ter machucado duas crianças, todos os operadores dos elevadores que testemunharam a cena foram dispensados do trabalho para cooperar com a investigação policial.


Mei: Olá, eu sou a repórter do 'Descobertas Milagrosas'. Hoje eu gostaria de entrevistar você sobre o incidente do defeito no elevador.


Operador do Elevador: 'Descobertas Milagrosas'? Você está falando daquele programa bobo que procura por super poderes?


Como se ele tivesse ouvido alguma coisa muito engraçada, o operador do elevador caiu na gargalhada.


Operador do Elevador: Que piada! Não existe essa coisa de super poderes! Por que você simplesmente não volta de onde veio? Eu sou só uma simples testemunha!


Uma simples testemunha teria esse tipo de reação? Ela estaria bebendo até cair em plena luz do dia?


Esse cara tinha muita coisa errada acontecendo com ele, mas eu não sabia onde poderia encontrar uma brecha.


Eu silenciosamente entrei no pequeno quarto.


Olhando para o operador, eu andei em direção a ele.


Mei: Você planeja ir para algum lugar?


Mei: Eu ouvi que os gerentes iriam te readmitir depois que tudo isso acabasse. Mas você recusou?


Mei: Tem alguma coisa que você descobriu? Ou algo que você se sinta culpado?


Operador do Elevador: Você só está falando besteira!


Eu não sabia se era por estar bêbado ou se era raiva, mas o corpo dele começou a tremer. Ele olhou para mim como se fosse me atacar a qualquer momento.


De repente me senti perdida e fiquei parada ali completamente imóvel.


Lucien levemente me puxou para trás dele, ficando entre eu e o operador como se fosse um protetor.


Lucien: Você vai simplesmente fugir do problema? Abandonar sua família?


Enquanto Lucien observava o operador abrir a boca, seus olhos estavam indiferentes como sempre.


Operador do Elevador: ...Você!


Uma expressão nervosa passou pelo rosto do operador, como se ele tivesse sido cutucado entre as costelas.


Lucien: Por causa da resolução de conflitos com as partes lesadas, você está em maus lençóis.


Lucien: Você é a única fonte de renda da sua família. Suponho que você não quer ser associado a este incidente.


Lucien falou friamente e calmamente, mas uma de suas mãos estava fortemente segurando a minha por trás de suas costas.


A pressão firme de sua mão na minha encheu meu coração de segurança e carinho.


Eu silenciosamente estiquei a cabeça e observei tudo.


Operador do Elevador: O que vocês todos sabem? O que você sabe?!


As emoções do homem se tornaram instáveis, como se ele estivesse tendo um surto. Ele correu em nossa direção, mas Lucien criou uma barreira que  o manteve a metros de distância.


Ao lado dele, em uma mesa bagunçada, um par de tesouras enferrujadas e algumas chaves começaram a tremer e flutuar no ar.


Quando estavam há meio metro acima, elas de repente perderam o controle e caíram de volta fazendo um barulho alto.


O som fez o operador estremecer também. Seus olhos se arregalaram e ele olhou para nós com pavor e desespero.


Mei: Todos esses incidentes com os elevadores...


Operador do Elevador: Não fui eu!


Operador do Elevador: Não foi por minha causa! Você também é um Evolver?!


Ele apontou para mim. No momento que ele disse aquela palavra, eu sabia que esse assunto provavelmente seria mais complicado do que eu imaginava.


Operador do Elevador: Eu não sou como vocês dois! Eu nunca usei esse poder! Eu sou só uma pessoa normal. Esse poder não tem utilidade nenhuma para mim!


Operador do Elevador: Eu não tenho habilidade para usar isso! Eu também nem sei porque isso está acontecendo. Realmente não fui eu...


Operador do Elevador: Eu quero trabalhar. Eu preciso fazer dinheiro! Eu sou só uma pessoa normal. Quem iria querer esse poder estranho?! 17 anos atrás ele até me machucou uma vez!


Operador do Elevador: Todos os dias eu luto para esconder esse poder maluco, eu trabalho duro e agora está tudo arruinado. Deve ser tudo por causa daquela médica imprestável!


Mei: Que médica?


O operador não falou. Vendo ele hesitar, eu rapidamente o pressionei mais.


Mei: Nós estamos procurando pela verdadeira causa desse incidente!


Mei: Se você nos disser a verdade, poderemos conseguir encontrar uma maneira de consertar esse problema.


Mei: Você não precisará se demitir desse emprego e não precisará se preocupar desse jeito.


Operador do Elevador: Alguns dias atrás eu fui tirar um raio-x de tórax no Hospital Central. Depois disso, eu tive esse sentimento desconfortável, como se o ar no meu peito quisesse explodir.


Operador do Elevador: No dia seguinte no trabalho, o defeito no elevador havia acabado de acontecer.


Operador do Elevador: O que isso tem a ver comigo? Eu claramente não fiz nada! Deve ser simplesmente porque o elevador está ficando velho!


Eu olhei para o Lucien. Ele franziu a testa.


Lucien: Você se lembra dessa médica que fez seu raio-x de tórax?


Operador do Elevador: Eu não vi seu rosto todo. Eu só sei que era uma mulher jovem, estatura média, com rabo de cavalo, usando um óculos com armação preta.


Lucien acenou com a cabeça para mim. Parecia que esse hospital e a médica seriam nossa próxima parada para investigação.


Enquanto Lucien me tirava dali, o operador do elevador me chamou.


Operador do Elevador: Sabe de uma coisa? Eu realmente só quero ser uma pessoa normal.


Eu nunca vou esquecer o olhar de desespero e luta em seus olhos naquele momento.


Mei: As coisas vão melhorar. E sua família também.


Eu sabia o quanto essa frase soava inútil. Eu abri a boca para dizer mais uma coisa, mas tudo o que eu pude fazer foi sair em silêncio.


Antes que a verdade seja descoberta, qualquer coisa que eu disser será fútil.


 


♕ Parte 5



Saindo do prédio, a ofuscante luz do sol brilhou sobre mim, mas eu não sentia nem um pouco do seu calor.


Eu olhei para cima, para a enorme torre panorâmica e estremeci.


Lucien: Você está pensando no que ele acabou de dizer?


Mei: Sim...De repente eu me senti pesada. Me lembra disso: Ter superpoderes na vida normal é um fardo e uma maldição.


Mei: Ter Evol realmente não é uma coisa boa?


Lucien se virou e olhou para o prédio. O sol podia estar brilhando sobre ele, mas não havia nem um pouco de calor em seus olhos.


Lucien: Evol não é bom ou ruim, está tudo em como os humanos usam.


Lucien: Quando está sob controle, se uma pessoa quiser causar estragos, mesmo se for o Evol mais inútil, ele ainda será colocado em uso.


Lucien: Mas mesmo se a pessoa não tiver Evol, ela ainda pode causar estragos.


Mei: Lucien, o que você acha que vai acontecer com essa cidade se Evol continuar saindo do controle?


Lucien: Se isso não puder ser colocado sob controle, esse tipo de incidente acontecerá com mais freqüência, e mais seriamente.


Mei: Mas então isso não colocaria a cidade toda em pânico?!


Lucien: Talvez coloque.


A imagem de uma cidade em ruínas após uma guerra surgiu em minha mente.


Mei: Se um pânico se instalar e todos tiverem medo de sair, preocupados com suas vidas, se isso acontecer...


Enquanto eu divagava, eu não sei quando, mas meus dedos gelados foram envolvidos por uma mão quentinha.


Lucien: Se esse dia chegar, eu não posso fazer previsões, porque então o mundo todo seria um desastre.


Lucien: Mas se a sociedade humana continuar se desenvolvendo, certamente será assim.


Lucien: Pessoas se tornarão mais inteligentes, mais sensitivas. Mas não melhores, não mais felizes.


Lucien: Você deve acreditar, antes que o pior chegue, que tudo pode renascer e ser transformado.


Lucien olhou para frente. Quando ele disse "renascer", a luz em seus olhos brilhou.


Eu não entendi realmente o que ele estava dizendo. Eu só senti que o mundo de que ele estava falando era muito, muito próximo a mim.


Lucien: Me prometa que, se esse momento realmente chegar, você não deixará que o peso dele te arraste para baixo também.


Lucien segurou minha mão. Seu tom era tão suave e carregava um poder calmante, gradualmente me acalmando.


Certo. Mesmo diante de um desastre devastador, antes que ele nos atinja completamente, mesmo um poder insignificante ainda é um poder.


Lucien: Ainda quer continuar a investigação?


Mei: Sim. Eu quero continuar. Mesmo se o desastre realmente vier, eu preciso saber a verdade.


Mei: Eu quero fazer minha parte para fazer essa transformação acontecer.


Eu olhei para o Lucien e solenemente disse aquelas palavras para ele.


Mei: Eu não vou especular sobre o futuro, mas pelo menos eu não posso deixar esses incidentes ficarem pior.


Mei: E eu tenho o pressentimento que isso está intimamente ligado com a verdade que estou procurando.


Lucien não falou. Ele ficou olhando para mim com a cabeça inclinada, suas pupilas preenchidas com meu reflexo.


Eu pisquei meio confusa e olhei de volta para o Lucien.


Lucien: Se eu não estivesse aqui hoje, o que você teria feito?


Lucien abaixou seus olhos e sua expressão no rosto se tornou séria.


Eu pensei em como o operador do elevador avançou em nós repentinamente, e no campo de força do Lucien, e de repente eu entendi o porque ele estava me perguntando isso.


Mei: Eu...Eu teria...


Na verdade, eu não tenho idéia do que eu teria feito. Basicamente, a única razão por eu não ter me machucado ou enfrentado um ataque maior foi porque Lucien estava ali.


Mei: Eu vou tentar ao máximo não fazer nada precipitado...


Lucien: Se você encontrar esse tipo de situação de novo, você vai tentar contrariá-los com perguntas?


Olhando em seus olhos, eu balancei a cabeça afirmativamente.


Mei: Talvez eu ainda faria isso...


Lucien: ...Garota boba.


Lucien suspirou, esticou sua mão e acariciou meu cabelo.


Então ele pegou minha mão. Estava um pouco dolorida por eu ter mantido ela fechada com força.


Lucien foi estendendo meus dedos um por um, muito gentilmente...como se ele tivesse fazendo isso pela última vez.


Lucien: Até aquele ponto, você tinha se saído muito bem.


Lucien: No futuro, não seja tão precipitada, okay?


Eu olhei em seus olhos e concordei fervorosamente.


Lucien riu e esticou as duas mãos.


Lucien: Isso representa duas escolhas.


Lucien: A direita é para placidamente aceitar uma vida de proteção, sem se misturar mais na turbulência deste mundo.


Lucien: A esquerda é para buscar ativamente a verdade, mas tudo é desconhecido e quem sabe quantos perigos terão à frente.


Eu nunca tinha visto uma expressão tão séria no rosto do Lucien. Parecia que a minha escolha teria um grande impacto na vida dele.


Sem pensar duas vezes, eu coloquei minha mão em cima da mão esquerda dele.


Mei: Eu escolho essa. Eu não vou fugir.


Lucien: E se essa escolha te fizer mal e virar sua vida de cabeça para baixo? Você ainda a escolhe?


Mei: Sim, com certeza sim.


Lucien riu e fechou sua mão esquerda com força, seu calor fervente fluindo em minha mão.


Mei: ...Por que você está rindo?


Lucien: Eu entendo a sua escolha.


Com isso, ele olhou para mim, uma luz brilhante fluindo no fundo de seus olhos.


Lucien: Eu vou te acompanhar.


Ele não disse que me acompanharia para procurar a verdade, nem para suprimir esses superpoderes fora de controle.


Na época, eu simplesmente assumi que era isso o que ele quis dizer.


Mais tarde, quando me lembrei dessas palavras, só pude suspirar com a ironia e inconstância do destino, nos levando por um caminho como este...


 

 

♕ Parte 6



Lucien: Isso é para você.


Uma caneta tinteiro de aço branco prateado brilhava à luz do sol, com um "X" gravado de forma proeminente em sua superfície.


Mei: Essa não é a caneta que você deixou no set de filmagem a primeira vez que foi no show?


Lucien: Sim. Na época, eu corri de volta para o set. Todos já tinham saído, mas uma garota ainda estava tolamente sentada ali, só para me devolver essa caneta.


Lucien: Pela primeira vez eu pensei que, comparado com minha própria ação de correr de volta até ali, ela não parecia tão tola assim afinal de contas.


Os lábios do Lucien se curvaram em um sorriso e seus olhos se suavizaram.


Mei: Foi realmente tão tolo...?


Eu cobri meu rosto e olhei para ele de canto de olho.


Lucien: Não, não foi tolo. Eu fui mais devagar que você, mas no fim eu entendi.


Eu não entendi o que ele quis dizer. Eu inclinei a cabeça e olhei para o Lucien. Seus olhos estavam manchados de sombra e luz pelo sol.


Mei: Por que você está me dando a caneta?


Lucien: Essa caneta tem um nome. Chama Iridescent. É um amuleto da sorte que está comigo há muitos anos.


Lucien: Agora, essa sorte pertence à você.


Mei: Oh, não, não, eu não poderia aceitar...


Lucien abriu minha mão e colocou a caneta nela, então fechou minha mão novamente com firmeza.


Lucien: É só uma caneta. Pegue.


Lucien virou a cabeça e olhou para mim, a luz do sol brilhava em seus lábios, clara e calorosa.


Eu corri meus dedos pela superfície da caneta e a guardei em segurança no meu bolso.


Depois de sair da torre panorâmica, nós fomos ao Hospital Central que o operador havia mencionado.


Esse é o maior hospital na cidade de Loveland. Era como uma máquina bem lubrificada, aparentemente sem sinais de distúrbios Evol.


Devido a grande quantidade de funcionários, encontrar a médica que o operador do elevador havia falado seria muito difícil.


Por sorte, Lucien conhecia bem o presidente do hospital, e ele nos levou diretamente para o setor de radiologia.


Mas depois de procurar ao redor, nós ainda não conseguimos encontrar a médica que o operador descreveu.


Olhando para todos os médicos do sexo masculino aqui, minhas dúvidas cresceram mais e mais. Será que ele mentiu para nós? Ou ele se lembrou errado?


Mei: Vocês tem uma médica de sexo feminino aqui? Estatura média, usa óculos com armação preta?


Médico A: Costumava ter, mas então...


Um médico pequeno e magricela falou, mas imediatamente recebeu olhares pedindo silêncio por vários de seus colegas.


Mei: O que você quis dizer com "costumava ter"?


Médico A: Nada, nada. Eu me enganei.


Presidente do Hospital: Ou ela trabalhava aqui ou não! O que é esse absurdo?! Minhas desculpas, Professor Lucien.


O presidente do hospital começou a repreender aqueles médicos, e todos eles olharam um para o outro e suspiraram.


Médico A: Na verdade, nós costumávamos ter uma médica aqui, mas ontem ela se demitiu.


Mei: Por que?


Médico A: Porque...porque houve algumas reclamações recentes de pacientes sobre vários problemas que eles tiveram após serem radiografados.


Médico B: Nós descobrimos que todos eles eram pacientes dela, e embora o conselho de revisão não tenha encontrado nenhum problema e não tenha tomado nenhuma ação, mesmo assim, ela se demitiu por vontade própria.


Eu não pude evitar olhar para o Lucien. Era exatamente o que o operador do elevador disse! Agora o mais importante era encontrar a médica!


Mei: Você sabe onde podemos encontrá-la? Nós temos um assunto muito importante para discutir com ela!


Médico C: Nenhum de nós sabe. Ela era uma especialista e só foi contratada mês passado, e ninguém imaginou que algo assim aconteceria...


Incapaz de obter qualquer informação útil dos colegas dela, nós fomos para o Departamento de RH do hospital. Mas eles também não tinham nenhuma informação concreta sobre ela.


O número que o hospital tinha no arquivo dela era inválido. Repentinamente e inesperadamente, nossas pistas haviam secado.


Eu saí cabisbaixa do hospital com o Lucien, sem saber o que fazer depois.


No gramado em frente ao hospital estavam vários meninos empinando pipas, rindo e se divertindo.


Os eventos que estavam acontecendo no mundo parecia não infringir em nada sua diversão simples.


Observando eles, eu não pude deixar de sentir inveja. Eu respirei fundo o ar fresco.


Mei: Deve ser bom! Faz muito tempo que eu não empino uma pipa.


Lucien estava parado ao meu lado, seus olhos se fixaram nas engenhocas subindo.


Mei: Lucien, você gosta de empinar pipas também?


Lucien: Eu nunca empinei uma.


Lucien se virou e viu minha expressão de surpresa.


Lucien: Então, você precisa me ensinar.


Mei: Está bem! Eu amava empinar pipas quando era criança. Era tão libertador ver elas voando no céu.


Mei: ...Mas, depois eu cortei minha mão uma vez em um fio de pipa e nunca mais tive coragem de tentar de novo.


Lucien: Mas você não tem medo de cortar sua mão agora?


Mei: Não. Eu tenho você, não tenho?


Lucien: Garota boba.


Lucien: Antes que a primavera acabe, nós vamos empinar pipa juntos.


Eu não sei o porque, mas eu estiquei a mão para entrelaçar meu dedinho com o Lucien.


Lucien: Assim como uma criança.


Lucien riu suavemente, mas não me rejeitou.


Nossos dedinhos se entrelaçaram enquanto fazíamos nossa promessa infantil.


Já que parecia que não teríamos mais nenhuma pista aqui, Lucien e eu decidimos deixar o hospital.


Mas uma mulher com óculos de sol bloqueou nosso caminho.


Mulher: Eu sou a pessoa que vocês estão procurando.


 


♕ Parte 7



A expressão da mulher não mudou nem um pouco enquanto ela olhava nossos rostos surpresos.


Mulher: ...Meu Evol mudou.


Mei: Seu...


Eu estava atordoada. Ela simplesmente apareceu e disse que tem Evol?!


Mulher: Você ouviu certo. Eu sou uma Evolver, e meu palpite é que vocês dois também são. Estou usando óculos escuros, mas ainda consigo distinguir alguns traços.


Mei: Traços? E o que é essa mudança que você acabou de falar?


Mulher: Meu Evol é a habilidade de ver através das coisas. Eu posso ver claramente qualquer coisa que acontece dentro de uma pessoa. Uma habilidade útil para uma médica ter.


Mulher: Mas então recentemente...


Mulher: Começando há 4 dias atrás, os pacientes que eu via e radiografava começaram a apresentar desconforto, febre, ossos da costela quebrados...


Mulher: E para alguns, suas células começaram a sofrer mutação...


Ela começou a falar devagar e cada vez mais baixo.


Mulher: Primeiro eu pensei que fosse algum problema no equipamento ou alguma coisa errada com eles. Mas depois de descartar outras causas, percebi que eu era o problema.


Mei: Como você pode ter tanta certeza que é por causa da mudança no seu Evol? Várias doenças acontecem repentinamente...


Mulher: Como costelas quebradas? Não seja boba. Eu não poderia me acalmar com racionalizações como essa.


Eu abri a boca mas não consegui responder. Então foi assim que aqueles incidentes de doença repentina e machucados foram causados...


Mulher: Tão irônico... Eu deveria ser uma médica, encarregada da missão de salvar vidas e não fazer mal. Mas eu causei ainda mais malefícios e dores ao invés disso.


Mulher: Se eu não tivesse saído de lá naquela época, talvez tudo isso não estaria acontecendo hoje...


Eu não podia ver os olhos dela através do óculos de sol e não podia imaginar o olhar de tristeza que ela devia ter em seu rosto.


Mei: Então é por isso que você está usando óculos de sol?


Mulher: Sim. Esses são óculos de sol especiais. Eu não vou machucar mais nenhuma pessoa inocente de novo.


Eu senti uma pequena dor no meu coração.


O operador do elevador nos fez perceber como poderia ser assustador um Evol fora de controle, mas essa médica na nossa frente cimentou em nossas mentes suas consequências assustadoras.


Ou seja, que a cidade inteira - o mundo inteiro - seria lançado no caos.


Lucien: Você teve algum contato com qualquer outra pessoa misteriosa ou evento há 4 dias atrás?


Mulher: Não, eu estive no hospital o tempo todo. Eu nem fui para fora.


Mei: Como você sabia que nós estávamos te procurando?


Mulher: Na verdade, eu nunca saí do hospital. Eu queria ver como aquelas pessoas estavam...


A mulher parecia cansada, seu rosto pálido. Quando ela falou parecia que estava implorando por misericórdia.


Mulher: Vocês podem me ajudar? Eu não quero ficar com esses óculos até quando vou dormir.


Mei: Nós...


Nós não podíamos fazer nenhuma promessa e eu provavelmente não tinha nenhuma habilidade para responder essa pergunta. A seriedade da situação já tinha excedido muito a minha imaginação.


Vendo que eu era incapaz de responder, a mulher virou a cara e riu de si mesma amargamente.


Mulher: O que eu sou de verdade? Uma médica ou um carrasco? Esse Evol é minha boa sorte ou minha ruína?


Enquanto nós saíamos do hospital, eu olhei para trás, para o prédio branco. De repente eu tive a sensação de que era um vórtice sem fim.


Eu não tinha percebido que os olhos do Lucien estavam focados no telhado do hospital. Ele franziu a testa enquanto um brilho branco iluminava seus olhos.


 


♕ Parte 8



Sem mais pistas para seguir e lugar nenhum para ir, eu voltei com o Lucien para o seu Instituto de Pesquisa.


Eu estava meio atordoada o caminho todo até que o Lucien colocou uma xícara de chá quente na minha frente.


Lucien se sentou silenciosamente ao meu lado, com seu chá em mãos, o assoprando levemente.


Depois de um longo tempo, eu voltei à realidade. Eu virei minha cabeça e vi o Lucien olhando atenciosamente para mim.


Ele colocou a xícara de chá na minha frente.


Lucien: Não está tão quente.


Nesse instante, eu percebi que Lucien me entendeu. Ele entendeu meu choque, minha incapacidade, minha indomável autoconfiança e minha relutância em desistir.


Mei: Eu acho que tenho sorte. Muita sorte.


Lucien riu e tomou um gole do chá.


Lucien: Assim como eu. Eu sou muito sortudo por ter você ao meu lado.


Eu não conseguia ver seu rosto através do vapor denso, mas de repente pensei que suas palavras estavam longe da verdade.


Eu olhei para a luz do sol que entrava pela janela, e eu parecia ver diante de mim os olhos trágicos da médica por trás dos óculos de sol.


Agora que eu havia decidido encontrar a verdade e tentar restaurar o controle, como eu poderia alimentar pensamentos de desistência depois de ver tudo o que eu vi.


Eu não posso deixar que minhas promessas solenes sejam descartadas ou palavras vazias. Eu devo continuar buscando a verdade!


Com isso em mente, eu me levantei e comecei a escrever tudo o que eu sabia no quadro-negro.


Mei: O operador do elevador tinha um Evol magnético. A médica podia ver através das coisas. Poder do vento foi usado nas torres gêmeas...


Lucien: O poder de ver através das coisas é equivalente ao raio-x.


Eu olhei surpresa para o Lucien. Essas pistas pareciam se conectar!


Mei: Os poderes Evol da médica e do operador, ambas habilidades tem a ver com ondas eletromagnéticas! Mas como isso explicaria o incidente dessa manhã?


Lucien: E outra coisa, com o incidente da rachadura do prédio desta manhã, eu vi um receptor eletromagnético atrás daquele outdoor.


Mei: Um receptor?


Lucien se levantou e andou até mim, me trazendo uma foto em seu celular para que eu pudesse ver.


Olhei para o canto deste outdoor, onde a cobertura externa foi rasgada. Havia um dispositivo preto fixado ali, parecendo não ser maior que um celular, fino e visualmente imperceptível.


Mei: Como você sabe que é um...?


Lucien: Eu já vi equipamentos como esse antes em um relatório de pesquisa dos Estados Unidos.


Lucien: Meu palpite é que este receptor está usando a tecnologia principal desse equipamento, que está relacionado a ondas eletromagnéticas.


Mei: Todos os 3 incidentes são ondas eletromagnéticas! Isso não é uma coincidência!


Lucien:  Eu suspeito que todos esses casos de perda de controle devem ser causados por essa onda eletromagnética especial.


Meu coração acelerou. Eu sentia que tinha dado um grande passo nesse caminho obscuro em direção à verdade.


Lucien: Nada acontece por acaso. Deve sempre haver alguma conexão casual entre os eventos.


Lucien escreveu no quadro-negro as palavras: "17 anos atrás".


Mei: 17 anos atrás?


Mei: Eu lembro do operador dizer que "foi machucado por isso há 17 anos atrás", mas qual é a conexão com a médica?


Lucien soltou o giz, andou rapidamente até um armário e voltou segurando um documento lacrado.


Lucien: Nossas pistas não são limitadas ao que está diante de nossos olhos. O passado de todos contém pistas.


Eu peguei o documento, o abri, e fiquei em choque ao encontrar uma lista das pessoas que foram machucadas no incidente do orfanato 17 anos atrás!


Os nomes do operador e da médica estavam ali!


Mei: Bem...


Eu estava muito chocada para falar qualquer coisa.


Lucien: Depois que a médica disse: "Se eu não tivesse saído de lá naquela época", eu decidi pesquisar o passado dela.


Lucien: Além do incidente encoberto do orfanato, não havia outros pontos questionáveis.


Lucien: Então não é difícil supor que ela deveria estar falando do orfanato.


Minha mente deu um branco. Agora que isso estava conectado ao incidente de 17 anos atrás, as coisas eram mais terríveis do que eu imaginava.


Lucien: Continue lendo.


Eu folheei a página tremendo. O nome 'Ultima Instituto de Pesquisas Biológicas' apareceu para mim.


O documento mostrava que esse 'Instituto Ultima' ajudou um grupo de sobreviventes do incidente do orfanato, e esses dois nomes estavam entre eles!


O Instituto Ultima agora estava envolvido nisso. Minha mente começou a vagar.


Lucien acariciou as costas da minha mão e me levou até um quadro onde havia um mapa detalhado da cidade de Loveland.


Lucien: Me diz tudo o que você está pensando ou anote.


Lucien: Não importa o quão absurdo ou sem sentido, eu quero ouvir tudo.


Olhando para os olhos encorajadores do Lucien, uma calma veio sobre mim e eu virei em direção ao mapa.


Como se eu estivesse sob algum feitiço, eu peguei um marcador e marquei a torre panorâmica, o hospital e as torres gêmeas. E então fiz outra marca no Instituto Ultima.


Lucien: Certo. Você descobriu alguma coisa com isso?


Olhando para os 4 pontos no mapa, eu queria conectá-los em algum tipo de símbolo significativo ou carta, como nas histórias de detetive.


Mas três pontos em uma linha e um ponto separado não podiam ser organizados juntos em algo significativo.


Mei: Parece não ter nada...


Lucien: Porque isto está errado.


Parado atrás de mim, Lucien segurou minha mão e desenhou um "X" sobre o Instituto Ultima. Então, ele fez uma marca em cima de uma parte não urbanizada do mapa.


Mei: Onde é isso?


Lucien: Esse é o local antigo do instituto, de 17 anos atrás.


Eu podia sentir a respiração dele na minha nuca, e eu comecei a ter arrepios.


Eu queria afastar minha mão, mas Lucien não soltou. Ele pegou minha mão e lentamente começou a conectar aqueles pontos no mapa.


Formou uma letra: S.


O marcador caiu no chão fazendo barulho. O sol do lado de fora da janela foi coberto por uma densa camada de nuvens, como se fosse cair uma tempestade.


 


♕ Parte 9



Lucien e eu corremos para o antigo endereço do Instituto de Pesquisas Ultima. O tempo todo, imagens recentes passavam pela minha cabeça.


Era sobre o que o Comandante havia nos contado sobre o totem da Black Swan.


Quando chegamos àquele pedaço de terra, à distância eu pude ver um prédio simples surgindo alto.   

        

Parecia um palácio cheio de mistérios, esperando eu chegar.


A porta não estava trancada. Quando a empurrei para abrir, uma nuvem de poeira se levantou.


Eu estava surpresa em descobrir que o instituto parecia o mesmo tanto por dentro quanto por fora, nada além de paredes vazias.


No entanto, atrás da porta principal, eu vi algumas palavras gravadas na parede.


Fui até lá e descobri uma seqüência de palavras na parede: através de um vidro, obscuro.


As gravações na parede não pareciam tão velhas.


Mei: Lucien, vem ver isso, rápido!


Eu me virei e descobri que o Lucien estava agachado atrás das escadas, olhando cuidadosamente para alguma coisa.


Um feixe de luz brilhou de repente pela janela ao meu lado. Através do borrão, vi o flash do rosto de alguém.


Mei: Quem era aquele?!


Eu paralisei no lugar, incapaz de me mexer, uma película de suor nas minhas mãos.


Enquanto eu fui pega desprevenida, minha mão foi coberta pela mão do Lucien. Ele beliscou meu dedo, com um olhar de preocupação em seu rosto.


Lucien: O que foi?


Mei: Não...Não foi nada. Talvez eu só esteja muito nervosa...


Mei: Ah é, olha isso!


Lucien examinou as palavras na parede, um brilho indescritível de algo piscava em seus olhos.


Lucien: Essa é uma frase do Novo Testamento. Capítulo 13 do 1 Coríntios.


Lucien: Por agora vemos através de um vidro, obscuramente.


Lucien: A verdade é projetada no coração dos homens através de uma lente de vidro. É distorcida, borrada, e unidimensional.


Eu estava um pouco perdida. Por que um Instituto de Pesquisa teria algo desse tipo cravado na parede?


De repente aquele som de eletricidade crepitou nos meus ouvidos novamente, levando pulsos de dor para minhas têmporas.


Lucien passou seus dedos pelas palavras cravadas e então franziu a testa.


Lucien: Não muito tempo depois que o Instituto Ultima saiu daqui, alguém deve ter vindo e deixado essas marcas.


Mei: Você quer dizer há mais de um ano? Mas essas marcas parecem recentes...


Lucien: Essas marcas são recentes, mas a poeira aqui não mostra sinais de ter sido mexida. Os únicos rastros são os que nós deixamos.


Mei: Quem poderia ser...?


No canto do meu olho, eu vi uma figura passando de novo. Eu não esperei mais tempo, agarrei o Lucien e mergulhei para as sombras atrás das escadas.


Um olhar de espanto apareceu em seu rosto.


O espaço triangular estreitamente confinado estava cheio de poeira e teias de aranha. Mas pelo menos oferecia esconderijo.


Antes que eu tivesse tempo para explicar, alguém entrou vindo pelo lado de fora. Parecia ser umas 5 ou 6 pessoas, todas gritando sobre alguma coisa.


Lucien apertou sua mão ao redor da minha cintura e me virou silenciosamente em direção a ele, me segurando firme contra seu tórax.


Envolta em seu casaco, eu não conseguia fazer nenhum som ou nenhum movimento. Meu rosto estava ficando vermelho.


Seus olhos não mostravam nenhuma mudança, mas eu podia sentir seu corpo ficar tenso, junto com a atmosfera tensa.


Vendo como eu parecia nervosa, Lucien sorriu e acariciou meu cabelo para tentar me confortar.


Lucien: Não tenha medo.


Vendo o sorriso dele, meu coração que batia como louco foi lentamente voltando ao seu ritmo normal.


Mei: Não estou com medo.


Eu o retribui com um sorriso e Lucien riu, apertando mais os seus braços em mim. Ele inclinou a cabeça e observou os intrusos pelo canto do olho.


Pelo som, eles tinham ido ao segundo andar. Depois de um longo tempo, eles desceram de novo.


??: Alguém esteve aqui antes de nós! Não tem nada no segundo andar!


??: O dispositivo receptor que estava aqui foi pego por outra pessoa?


Meu coração congelou! Eles sabiam sobre os receptores eletromagnéticos e vieram procurar aqui! Quem são essas pessoas?


Furtivamente eu inclinei minha cabeça para fora, mas não consegui ver os rostos claramente. Eu só conseguia dizer que eles estavam todos vestidos com casacos pretos, com uma luz prata brilhando em suas cinturas.


??: Tem algumas palavras cravadas aqui!


??: Isso não tem nada a ver com nosso objetivo. O tempo é curto, vamos correr para a próxima localização!


Eles olharam ao redor por um tempo e então saíram de mãos vazias.


Quando nós não conseguimos mais ouvir passos, eu respirei aliviada, mas Lucien ainda não estava me soltando.


Mei: Lucien, eles já foram.


Voltando à atenção, Lucien me soltou. Essa era a primeira vez que eu via ele tão distraído.


Lucien: Obrigado por aquilo. Para ser honesto, eu fiquei surpreso.


Mei: Não foi nada...Eu pensei ter visto alguém várias vezes. Eu só entrei em pânico e fiz aquilo...


Lucien: Fez o que?


Mei: Simplesmente...mergulhei em você...


Vendo o quão envergonhada eu estava, a voz do Lucien se tornou carinhosa e suave.


Lucien: Você estava muito fofa agora há pouco, mas eu ainda prefiro não ver isso acontecer uma segunda vez.


Mei: Huh?


Lucien: Me prometa que, se tiver algum perigo, você vai se proteger primeiro.


Mei: Eu--Eu sei. Eu reagi por instinto. E, eu posso te proteger também, sabe.


Lucien estendeu a mão e limpou a poeira que havia caído na minha cabeça.


Lucien: O que eu faço com você...? Eu meio que quero agradecer aquelas pessoas. Desligar o instinto de alguém parece um pouco difícil.


Mei: Você...Eu não vou fazer isso da próxima vez...


Eu abaixei meu rosto corado. Eu senti que estava caindo dentro do olhar profundo do Lucien.


Lucien: Está bem, eu não vou te provocar. Deixa eu ver, como eu devo te agradecer por ter me protegido agora há pouco?


Mei: Você não precisa me agradecer...


Lucien: Eu preciso.


Lucien: Qualquer coisa que você precisar ou desejar, é só me dizer.


Lucien me olhou com uma surpreendente expressão séria que me deixou momentaneamente sem palavras.


Lucien: Quando você pensar em alguma coisa, me avise. Dá uma olhada nisso.


Então eu percebi que Lucien estava segurando uma pequena caixa preta em sua mão.

 



♕ Parte 10



Mei: O receptor eletromagnético?!


Lucien confirmou, com um olhar pesado em seu rosto.


Lucien: Deve ter sido isso que aquelas pessoas estavam procurando.


Mei: Onde você achou isso...?


Os olhos do Lucien se direcionaram para a escada. Seguindo seu olhar, finalmente eu vi que havia um pedaço de tapete falso ali, que parecia fazer parte do chão.


Mei: Incrível! Como você descobriu isso?


Lucien: Havia mais poeira ali do que outros lugares. Às vezes, quanto mais você tenta esconder uma coisa, mas fácil se torna encontrá-la.


Mei: Eu acho que alguém colocou ali. Eu me pergunto qual é o objetivo deles?


Lucien balançou a cabeça e examinou cuidadosamente o receptor em sua mão.


Mei: Eu ouvi eles falando sobre o dispositivo receptor agora há pouco. Eles sabiam que esse dispositivo estava escondido aqui?


Lucien: É uma possibilidade.


Mei: Então não temos tempo a perder!


Mei: Não importa o que, se esse dispositivo cair nas mãos erradas, há uma boa chance de isso acabar em desastre.


Mei: Mas eu acho que nós somos muito sortudos! Nós não tivemos nenhum problema e ainda encontramos isso!


Me ouvindo dizer isso, Lucien não ergueu o olhar, mas sua mão parou.


Eu segui Lucien para o segundo andar. Ele estava estudando a caixa intensamente, e eu estava parada bem para trás tentando não distraí-lo.


O tempo estava passando, e para mim parecia que o Lucien estava um pouco preocupado.


Se pelo menos as ondas eletromagnéticas fossem visíveis aos olhos humanos.


Eu olhei para fora da janela, para o céu escurecendo, e deixei meus pensamentos vagarem.


De repente um raio de luz entrou na minha visão. Eu me virei com a boca aberta.


Assim como a cena de um filme, o receptor na mão do Lucien estava emitindo uma luz branca, condensada em um feixe e disparando para fora da janela.


Como uma espada afiada, fria e ameaçadora.


Eu esfreguei os olhos e confirmei que eu não estava vendo coisas.


O rosto do Lucien por trás daquela luz parecia ter sido esculpido em gelo. Seus olhos normalmente indiferentes agora se iluminavam com um brilho feroz.


Mei: Mas que...


Lucien: Olhe para fora da janela. O que você vê?


Eu andei até o Lucien e olhei pela janela com olhos arregalados.


Mei: Eu vejo vários feixes de luz, finos e frágeis.


Lucien: E?


Mei: E...nada, eu acho...


Lucien pegou minha mão e deu alguns passos para trás. Sua mão estava começando a ficar fria.


Nós paramos em um local protegido da luz do pôr do sol. As luzes fracas lentamente começaram a ficar mais brilhantes para mim.


O receptor na mão do Lucien tremeu violentamente e fez um som contínuo de zumbido.


Mei: Eu vejo 3 pontos de luz! O mais próximo...


Mei: Está na direção da torre panorâmica!


Eu olhei na direção do Lucien com medo. Ele estava acenando com a cabeça como se estivesse absorvido em pensamentos.


Lucien: Não só isso.


Lucien: Os outros dois pontos são o Hospital Central e as torres gêmeas.


Meu cérebro deu branco. Um som agudo de eletricidade tocou em meus ouvidos e eu senti uma força crescendo, como se alguma coisa fosse quebrar meu crânio.


Eu agarrei no parapeito da janela enquanto todo tipo de imagem passava pela minha mente.


Eu olhei para a forma de quatro lados criada pelos 3 feixes de luz mais o do Lucien, que convergiam em um ponto distante.


Uma pirâmide de quatro lados de feixe de luzes se formou em minha mente. Os feixes fracos das outras luzes focavam em um edifício ponto de referência.


Aquele é...!


Meus olhos se arregalaram enquanto eu olhava na direção dele, pensando vagamente que eu havia pisado em um mundo misterioso do desconhecido.


De repente, eu me esqueci de perguntar para o Lucien como ele transformou as ondas eletromagnéticas em um feixe de luz.


E não pensei em como ele poderia fazer isso além de ser capaz de criar campos de força.


Sem eu perceber, Lucien já havia andado até mim.


Lucien: O centro para o qual esses feixes estão convergindo é a fonte das ondas eletromagnéticas.


Lucien olhou para a luz mais distante, uma influência oculta se movia em seus olhos estreitos.


Lucien: Esse é o prédio mais alto da cidade de Loveland: a Torre de TV de Loveland.


Lucien guardou o receptor em seu bolso.


Mei: ...A Torre de TV...


Certo! Esse é um prédio relacionado à ondas eletromagnéticas. Se lá for a origem de tudo isso, então faz sentido...


Mei: Lucien...você sabia desde o começo que lá era a fonte, não sabia?


Lucien pareceu um pouco surpreso com a minha pergunta. Nem eu mesma sabia o porque eu disse aquilo tão de repente.


Mei: Porque você apenas fez eu ficar parada na sombra...


Lucien concordou, com um sinal de orgulho em seus olhos.


Lucien: Eu julguei que aquele deveria ser o lugar.


Lucien: Mas eu não tinha certeza...


Lucien: Lembra daquela frase gravada na parede lá embaixo? Essa sombra é como se fosse as lentes obscuras que projetam a verdade. Se você não permanecer nas sombras, não verá a luz.


Lucien: Em contrapartida, se não houver o lado escuro, então você não está ficando na luz.


Lucien: Então, não tenha medo da escuridão. Quanto mais obscura as coisas são, mais luz você verá.


Eu olhei fixamente para ele, falhando em entender completamente seu significado.


Lucien riu e lentamente acariciou meu cabelo.


Lucien: Vou te dar uma analogia. É como quando você ouviu que Evol estava saindo do controle, você viu lugares no mapa que se conectaram formando uma letra, e sua mente imediatamente buscou conspirações e a verdade.


Lucien: Além das conspirações que já aparecem na sua vida, não é porque há uma luz brilhando sobre elas que você foi capaz de discerni-las com mais clareza?


Eu finalmente entendi e concordei.


Mei: Certo. As pessoas ao meu redor são minhas fontes de luz, me dando coragem e fé para procurar a verdade.   

    

Lucien: A verdade deste mundo se revela para as pessoas apenas por meio de decepções e sofrimentos. Se você sentir dor, então você definitivamente deve perseverar.


Lucien: Mesmo que a luz se apague brevemente, ela se acenderá novamente.


Enquanto Lucien dizia isso, ele manteve seus olhos mim, sua voz era como um brilho fraco rasgando a noite escura e profunda.


Seus olhos profundos pareciam vórtices sem fundo nos quais eu poderia cair se não tomasse cuidado.


Um vento frio soprou pela janela, acariciando minhas bochechas vermelhas.


Uma luz suave brilhou no céu à distância. Hoje deveria ser um dia tranquilo e gentil.


Eu olhei para o Lucien ao meu lado. Hoje ele estava mais gentil que o normal. Ele também mostrou um raro momento de raiva e uma estranheza sobre ele que me iludiu.


Suas palavras sempre pareciam estar me alertando sobre alguma coisa, mas eu não consegui perceber o quê.


De repente eu pensei que tinha conseguido ver  o ponto fraco no coração do Lucien, mas agora estava coberto por uma névoa, para nunca mais ser visto.

 



♕ Parte 11



Quando nós chegamos ao pés da Torre de TV, já havia passado do horário de funcionamento.


Levaria mais dois dias até abrir de novo.


Eu não podia esperar tanto assim. Quem sabe o quanto poderia acontecer nesse tanto de tempo?


Mei: Nós precisamos encontrar uma maneira de entrar ali...


Lucien: Sem pânico. Eu já contatei alguém para nos ajudar a abrir a porta...


Lucien parou de se mexer de repente. Eu podia sentir aquele clima tenso sobre ele novamente.


Mei: O que foi?


Um vento negro apareceu, surgindo com violentas correntes de ar.


Era exatamente o mesmo vento que eu vi nas torres gêmeas!


Sem dizer uma palavra, Lucien ergueu a mão e me colocou atrás dele.


Em um flash, vários homens vestindo preto apareceram na nossa frente, bloqueando nosso caminho.


??: É você?


O líder riu friamente e eles se transformaram em um vento negro, obscurecendo o céu enquanto eles atacavam o Lucien.


Mei: Lucien!


Eu dei um passo à frente nervosa, mas descobri que aquela barreira branca brilhante havia me envolvido mais uma vez.


Lucien se virou e colocou a mão no meu ombro. Ele tinha um olhar gelado em seu rosto que eu nunca vi antes.


Lucien: Mei, espere por mim.


Antes que eu tivesse tempo para falar, Lucien e a luz começaram a se distorcer.


Uma intensa luz branca brilhou, e quando percebi, a cena na minha frente havia mudado completamente.


Mei: O que aconteceu?


Tudo tinha acontecido tão rápido. Eu olhei ao redor atordoada. Eu estava em uma rua desconhecida e a única coisa à vista era a Torre de TV à distância.


Como eu vim parar aqui de repente...?


A imagem da mão do Lucien no meu ombro apareceu de repente em minha mente. Isso foi coisa do Lucien?


Ele queria enfrentar aquelas pessoas sozinho?


Um emaranhado de pensamentos fervilhavam na minha mente. A razão me dizia que eu só seria uma distração para ele se eu estivesse lá, mas minhas emoções não me deixavam ficar aqui parada.


Se eu me aproximar, só mais um pouquinho...


Eu senti a caneta que o Lucien me deu no bolso e a agarrei com força. Essa caneta amuleto da sorte definitivamente vai me dar alguma boa sorte.


Eu corri em direção à Torre de TV.


Eu nunca corri tão rápido antes, como se um grande e terrível perigo estivesse me perseguindo, como se cada segundo fosse vida ou morte.


Eu podia ver a torre bem na minha frente, mas ainda parecia tão distante, como se eu nunca fosse chegar lá.


Um feixe de luz dourada de repente atravessou o céu e um vento frio e preto passou por mim. O som estrondoso me fez parar.


Poderia ser...?


Eu não ousava pensar em uma possibilidade tão horrível. Não podia ser. Lucien não podia estar em perigo!


Lucien: Por que vocês estão aqui de repente?


Era a voz do Lucien! Eu podia ouvir alguns fragmentos. Enquanto eu me aproximava mais, eu pude ver Lucien parado na frente daqueles homens.


Vendo que ele estava de pé, minha ansiedade se acalmou um pouco.


Eles pareciam estar discutindo alguma coisa. Aconteceu algo depois que eu saí?


??: Ares, nós recebemos a ordem para te levar de volta. Você não cumpriu sua missão e a organização acha que você se tornará um traidor.


Lucien: Quem disse? Todos vocês?


Lucien: Ordem de quem?


Eles olharam uns para os outros e balançaram a cabeça.


??: Nós não queremos te afrontar. Mas você está enrolando com esta missão. Mesmo com o requerimento de que o alvo permaneça vivo, você teve várias oportunidades...


Lucien: Um bom caçador não deixará sua presa sentir um indício de que algo está errado antes de ser capturada.


Lucien: Ela já caminhou passo a passo em minha armadilha. Se você todos não tivessem aparecido eu já teria conseguido.


Lucien: Quem vai assumir a culpa por esse erro?


Aquelas palavras me enviaram em um espiral.


Um terror como eu nunca senti antes brotou dentro de mim.


Eu parecia ter caído em uma rachadura no gelo. Meu coração estava explodindo com uma dor muito forte.


O rosto do Lucien que eu via de perfil na minha frente tinha uma melancolia e maldade que eu nunca tinha visto antes.


Naquele momento, eu na verdade tive um desejo absurdo de me virar e correr.


Era para que eu pudesse dizer à mim mesma que eu não tinha visto ou ouvido tudo aquilo? Que ele não era o Lucien e eu não era eu mesma?


Mas eu não podia ir. A barreira apareceu naquele instante.


Eu tive um estranho sentimento sufocante na minha garganta. Eu abri a boca, mas não conseguia dizer nada.


Eu nem sequer vi que o Lucien já tinha se virado.


Sua mão caiu aberta, e então ele a fechou com força de novo. Eu só pude ver surpresa e omissão em seu rosto.


Mei: Tudo isso é verdade?


Minha voz trêmula era como uma lâmina cega.


Lucien: Mentiras.


Lucien ficou parado ali, seu tom era neutro.


Lucien: Mas se eu disser isso, você vai acreditar em mim?


Eu não confirmei e nem balancei a cabeça. Eu apenas olhei obstinadamente para o Lucien.


Com minha última gota de esperança, eu queria ouvir ele negar tudo aquilo.


Mei: Quem é Ares?


Lucien apontou para ele mesmo e deu um passo em minha direção.


Lucien: Nessas circunstâncias, eu não preciso mentir para você.


Lucien: Tudo o que você acabou de ouvir -- é tudo verdade.


Sua voz fria ecoou no espaço árido. Era como se toda minha energia tivesse sido drenada de mim.


O ofuscante pôr do sol atingia meu rosto dolorosamente.


Parecia que alguma coisa havia espetado meu coração. Eu belisquei minha mão com força para que eu não começasse a chorar.


Meu corpo começou a suar e meu coração batia como um trovão. Incontáveis sons estavam infestando meu cérebro, mas eu não tinha forças para transformá-los em palavras.


Mei: E a maneira como tudo correu tão bem hoje também foi coisa sua?


Lucien: Você é bem inteligente.


Mei: E todas aquelas coisas que você me contou hoje, eram mentiras?


Lucien não respondeu. Ele só olhou friamente para mim.


Mei: ...E antes?


Lucien: Eu nunca me envolvi em perseguições inúteis.


Em um instante, água gelada apagou a última brasa de calor no meu coração.


Suas palavras eram como uma faca, esfaqueando buraco atrás de buraco no meu coração.


Meu instinto era o de fugir para algum lugar onde ninguém me conhecesse, mas meus pés estavam pesados. Eu não podia dar um passo.


Um gosto amargo escorreu para a minha boca.


Mei: ...Por que?


Lucien: Eu te avisei antes. Você ainda teve tempo de correr. Uma pena que você não tem consciência do perigo.


Lucien: Ou devo dizer, você confiou demais em mim.


Lucien falou em um tom moderado que era provocador e zombeteiro.


Com facilidade, ele abriu uma cicatriz que eu não tinha curado totalmente, e minhas lágrimas começaram a se derramar.


Eu não sei porque, mas nesse instante eu pareci ver um flash de tristeza nos olhos dele.


Mas em menos de um segundo, ele recuperou sua compostura. Então, ele apertou os lábios e deu um leve sorriso.


Uma densa escuridão o cercou. Mesmo a luz mais brilhante do pôr do sol não podia alcançá-lo.


Eu realmente sou estúpida. Como uma investigação poderia ser tão fácil assim? Com obstáculos tão convenientes? Tudo foi só uma armadilha armada por ele.


Eu desafiadoramente levantei a cabeça e tentei segurar as lágrimas.


Mas eu ainda esperava que aquele pingo de tristeza que eu vi fosse real. Eu esperava que ele ainda fosse da maneira que ele costumava fingir ser.


Mas então por que seus olhos pareciam tão sinceros?


Mesmo agora, eu não estava disposta a acreditar completamente. Meu coração me dizia que não eram mentiras.      


Me ajudar a salvar meu último show foi verdadeiro. Me salvar do perigo foi verdadeiro. Cada pedacinho de encorajamento e ajuda era tudo verdadeiro.


Se tudo aquilo foi verdadeiro, então poderia ser que a pessoa na minha frente agora era falsa?


Eu me esforcei para encontrar em seus olhos qualquer sinal de dor, esforço, e até um momento de hesitação -- mas não havia nenhum.


Não havia absolutamente nada.


Com a maneira calma e indiferente que ele estava em relação à mim, era como se fossemos dois estranhos.


??: Ares, o que você está esperando?


Os homens de preto viram que o Lucien não estava se mexendo e começaram a correr na minha direção.


Eu não sei de onde tirei forças, mas no mesmo instante, eu segurei algo pontiagudo na direção do meu pescoço.


Eu tremia ao segurar a caneta, sentindo um gosto amargo na minha garganta.


Eles acabaram de dizer que não podem colocar minha vida em perigo, então nesse momento, essa era a única vantagem que eu tinha.


Vendo minha ação, todos pararam.


Que irônico! Ele claramente me deu essa caneta como um presente, e agora ela estava cumprindo sua missão desse jeito.


Mei: Qual é o seu objetivo exatamente?


Lucien: Um futuro melhor.


Ele não quis dizer mais. Ele começou a andar e lentamente veio na minha direção.


Mei: Não se aproxime de mim!


Lucien: Você não vai fazer isso.


Ele estava tão seguro de si como sempre. Seus olhos não se mexeram. Quando ele estava a menos de um metro de mim, ele parou.


Meu pescoço estava doendo terrivelmente, e metade do meu corpo estava ficando dormente.


Eu nem tinha percebido que um fio de sangue estava descendo pelo meu pescoço.


Nós ficamos parados ali, nenhum dos dois se mexeu. O vento frio machucava meu rosto.


Lucien: Não faça nada tolo.


Você está certo. Eu sou muito tola.


Quando eu estava no meu pior momento, ele estendeu uma mão amiga para mim. E eu a segurei em total confiança.


E agora aqui está ele de novo, dizendo com essa mesma voz que me era tão familiar, que isso tudo foi uma armadilha.


Ele me desejou sorte, disse para eu deixá-lo orgulhoso, e até mesmo me disse que enfrentar a verdade exigia sofrimento e tortura.


Não é sofrimento e tortura que ele está me dando agora?


Ele ficou ali, indiferente e frio, com todas aquelas emoções se agitando em seus olhos, que eu nunca entendi antes.


Agora eu finalmente entendi. Foi a emoção de preparar uma armadilha, a alegria de ver sua presa morder a isca.


Mei: Me deixa ir...


Lucien: Você acha que pode negociar comigo?


Mei: ...Você ainda me deve um presente de agradecimento.


Uma lágrima rolou pelo meu rosto silenciosamente.


Quando eu disse isso, sua boca se curvou um pouquinho. Aquele sorriso sutil parecia mais um tipo de zombaria.


Lucien: Eu posso te deixar ir, mas da próxima vez, você não terá essa oportunidade.


??: Ares!


Lucien: Silêncio!


Antes que ele terminasse de falar, aqueles homens foram envolvidos por uma luz branca e desapareceram instantaneamente.


Lucien: Não deixa eu te pegar da próxima vez.


Lucien falou tão suave, mas tão suave, que eu quase não pude ouvir.


Ele virou as costas para mim, parecendo não querer me olhar mais uma vez.


Quem é ele realmente? O Lucien que me deu carinho e encorajamento infinito? Ou esse Ares que diz friamente que eu caí na armadilha dele há muito tempo?


Ele não estava cansado de me enganar todo esse tempo?


Mei: Da próxima vez, eu não vou confiar em você, Ares.


Eu disse o nome dele com determinação. Ele não é o Lucien. Ele é o Ares.


Mei: Eu nunca mais vou confiar em você de novo, porque você não é o Lucien. Ele nunca me faria mal...


Mei: Ares e Lucien não tem nada a ver um com o outro!


Ele se virou, mas não disse nada. Aquela foi a última vez que eu vi aquele olhar gentil em seu rosto. Então ele olhou para o céu, enquanto todo o seu corpo se fundia com as sombras, e ele continuou em frente.


Eu olhei para cima e vi no céu distante duas pipas emaranhadas juntas -- e então elas caíram.


O por do sol estava realmente lindo. No fim, foi um desperdício de um clima maravilhoso.


Eu reuni minha mente quase em ruínas, sequei minhas lágrimas e parti daquele lugar sem relutância.


Eu andei lentamente e não olhei para trás nenhuma vez.


O caminho para casa foi longo e eu estava cambaleando. Não sei por quanto tempo eu andei. Ao redor havia sons distorcidos e distantes de pessoas. Eu me sentia flutuando no meio do oceano.


Em minha letargia, eu escutei alguém chamar meu nome. Eu me virei, mas tudo o que eu vi foi meu próprio reflexo.


Eu parecia me ver entrando em um carro que foi para o caminho errado, um que não foi para o Instituto de Pesquisa quando eu estava preparando o meu último show.


Eu parecia me ver passando pela árvore de cânfora. Um garoto familiar estava sentado debaixo da árvore, mas eu não fui até ele. Eu me virei e fui embora.


Eu até mesmo me vi perseguindo um homem de casaco branco, segurando uma pipa em suas mãos. Em um piscar de olhos, a linha quebrou e a pipa voou para longe. Eu fui deixada sozinha naquele campo.


Um vento frio soprou e todo meu corpo tremeu.


Eu nunca imaginei que pensaria sobre aqueles eventos do passado em circunstâncias como essa.


O garoto com seus desenhos debaixo da árvore de cânfora. O garoto usando o cachecol vermelho, deitado em uma poça de sangue.


As memórias continuavam inundando minha mente, me afogando.


A caneta caiu da minha mão e foi parar no chão, o "X" gravado nela brilhava, parecendo me contar uma história.


A multidão começou a aplaudir. Seguindo seus olhares, eu olhei para cima.


Várias pipas lindas voavam bem alto no céu formando arcos. Eu segui o rastro delas até desaparecerem.


A primavera estava quase acabando. Ninguém mais estaria empinando pipas.


 


♕ Parte 12



A espaçosa sala estava envolta em uma escuridão sombria e mortal. A luz pálida da lua clara e fria se espalhava pelo chão através de duas grandes janelas.


Lucien estava parado ali, sem expressão no rosto.


Na escuridão diante dele estava sentado um indivíduo mascarado.


Seu dedo que tinha um anel batia lentamente no apoio de braço.


??: Ares, dessa vez você me desapontou. Você deveria ter sido mais secreto.


Lucien olhou para o homem na frente dele com um olhar maldoso.


Lucien: O momento é propício. Eu voltarei para o lado dela novamente como Ares.


O som opressivo das batidas parou de repente.


Lucien: O jogo mal começou e você já está ficando muito impaciente.


A luz fria nos olhos do Lucien se solidificou em uma lâmina afiada e arrepiante.


O homem na escuridão alisou seu anel e grunhiu.


??: Então deixe-me ver o quão cruel você pode ser.


A luz da lua do lado de fora da janela nesse momento parecia como a mais afiada das facas.


A terra tremeu e, de repente, a luz da lua se estilhaçou como vidro em incontáveis fragmentos, congelados no ar.


Isso iluminou os olhos do Lucien. Olhos como um mar transbordando. Olhos nos quais a garota não confiava mais.


O afiado raio de luz imediatamente perfurou o olho do Lucien, partindo ao meio sua visão fria. O sangue escorria do seu olho direito e descia por sua bochecha.



Lucien nem sequer piscou. Ao invés disso, um sorriso anormal apareceu em seus lábios, gelado e perverso.


A figura no escuro fez uma pausa, e no silêncio sinistro veio o som de duas palmas estrondosas.


??: Você sempre me surpreende.


??: Não haverá próxima vez.


Lucien riu friamente e com desprezo. Ele se virou e saiu.


Do lado de fora da porta, um homem com uma cicatriz no rosto estava parado ali. Quando viu o Lucien, ele estremeceu.


??: Você não precisava fazer isso.


Lucien não olhou para cima. Depois de um longo tempo, ele lentamente abriu a boca.


Lucien: O que você sabe?


O homem olhou para o Lucien, essa pessoa que todos chamavam de Ares.


Ele estava de costas para a luz, parecendo frio e arrogante. Em seus olhos gelados havia um sentimento oculto como a mais afiada das adagas.


Não importa quando, esse par de olhos sempre deixava alguém se sentindo mistificado e arrepiado até a alma.


Dizem que Ares é a pessoa mais cruel da organização. Respeitado e temido igualmente.


Hoje ele finalmente percebeu que a crueldade do Ares não estava em como ele poderia ser cruel, dissimulado e insensível com os outros.


E sim como ele era cruel consigo mesmo.


Acontece que, por baixo de sua aparência fria, Ares há muito tempo suprimia um desejo feroz.


O homem não entendia e por isso não disse nada. Ele só observou em silêncio enquanto aquela figura ia embora na escuridão.


Ele vagamente sentiu que essa pessoa, seu único companheiro de confiança, estava tramando algo.


Um sorriso frio mais uma vez passou pelo rosto do Lucien, se misturando com o sangue e desabrochando em uma flor misteriosa.


Ele ergueu a cabeça e uma ambição selvagem floresceu em seus olhos mais frios que a noite escura.


Quando a sombra da morte nos envolve, o fim é apenas o começo.


O destino começa de novo e, para esta guerra, ele está pronto e à espera.


 

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.Traduzido por Lu Zhou.

☆ 周棋洛 Miss Chips 




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