segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Mr. Love: Queen's Choice [ARCO 2] ~ Capítulo 11 (Victor) ~ "Paz Final"

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♦ Capítulo 11 -  Paz Final ♦

(14 partes)



♕ Parte 1


Tarde de início de verão. Gotas de chuva pairam no ar.

Uma garotinha anda na calçada,

pisando rapidamente.

Uma folha de ginkgo cai na cabeça da garota.


 Ela ergue as mãos

E cuidadosamente coloca a folha em seu bolso.

Na vitrine de uma loja, um ursinho de olhos redondos

sorri docemente para a garota.



Uma árvore de cânfora na esquina

balançava com o vento,

e os anos passavam

com a brisa.



A garota vira a esquina

e vê uma jovem mulher sorrindo.

"Você finalmente voltou."




................

Eu acordei atordoada, com o rosto gentil do meu sonho desaparecendo diante dos meus olhos.

*Gurgle* Bolhas estouravam em uma garrafa de oxigênio acima da minha cabeça.

Eu olhei em volta para uma vasta extensão de brancura, parecia que eu estava em um sonho.

Eu tentei levantar minha mão mas não tinha força. Meus olhos se depararam com um acesso intravenoso preso nas costas da minha mão.

Eu estou viva?

Isso é...um hospital? O que está acontecendo?

Eu mexi o meu corpo e senti uma dor aguda nas minhas costas, como se algo tivesse sido rasgado.

Eu me esforcei para lembrar o que tinha acontecido. Como se duas mãos grandes tivessem varrido o pó da minha memória, a névoa se clareou.

Eu me lembrei que Victor e eu estávamos filmando um reality show, e ele estava me puxando por um corredor.

E...E aquela dor inesquecível e dilacerante.

E então, nada.

E o Victor? Ele está aqui também? Como ele está?

Mei: ...Victor!

Impulsivamente eu chamei o nome dele, minha garganta rouca me causou algum desconforto.

A porta se abriu, e eu vi o rosto perplexo do Victor.

*Splat* Um documento que estava em sua mão caiu no chão.

A garganta do Victor estremeceu e um milhão de sentimentos passaram diante de seus olhos, do choque à descrença, e então foram substituídos por alegria e excitação.

Nesse instante, foi como se minha memória tivesse se iluminado com a luz do sol entrando pelas rachaduras.

Eu me lembrei do garoto que encontrei a primeira vez quando tinha 5 anos, e aquela luta terrível entre a vida e a morte.

Eu parecia ver a chuva suspensa no ar atrás do Victor, e aquele garoto com o olhar suave, segurando um pudim em suas mãos.

O tempo estava se sobrepondo e o destino se repetindo. Ele foi a primeira pessoa que eu vi quando abri meus olhos.

Meu nariz formigou por algum motivo, e eu meio que não sabia o que dizer.

Victor também estava em silêncio e simplesmente fechou a porta suavemente e andou até mim.

Eu me encontrei desejando que ele andasse mais devagar, me dando mais tempo para pensar sobre o que dizer.

Eu devo perguntar a ele o que aconteceu depois daquele dia? Se ele se machucou? Ou se ele se lembra que me salvou anos atrás?

Quando me dei conta, Victor estava ao meu lado.

Victor: ...Você está acordada?

Mei: ...Mmhmm.

Apenas 3 palavras curtas. O estilo do Victor de sempre.

Eu me senti um pouco aliviada. Como eu poderia ser tão boba, me preocupando tanto agora a pouco...

Eu tentei me sentar, mas uma dor repentina no meu corpo todo me impediu de me mexer.

Victor: Acordada e inquieta.

Mei: Hã?

Victor franziu a testa e me cobriu de volta sem ao menos me perguntar. Só meu rosto ficou de fora do cobertor.

Eu olhei para ele de olhos arregalados.

Victor de repente parou de arrumar o cobertor, e então rapidamente foi saindo do quarto como se lembrasse de alguma coisa.

Mei: O que você...?

Victor: Eu simplesmente esqueci...Eu vou chamar o médico.

Ele olhou rapidamente para mim e então lentamente fechou a porta.

Victor acelerou o passo enquanto ele saía. Ele não esqueceu, ele só foi estúpido.

Ele não tinha certeza se a garota realmente havia acordado, ou se aquilo era só um de seus sonhos recorrentes.

Tinha tanta coisa que ele queria dizer, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

No fim, tudo o que ele disse foi: "Acordada e inquieta."

Na verdade, o que ele realmente queria dizer era: "Eu estou feliz por você estar acordada."

 


♕ Parte 2


Eu continuei deitada na cama enquanto os médicos conduziam os exames.

Mesmo que eu não tivesse idéia do que estava acontecendo, eu estava assustada pela cena na minha frente.

Cerca de 12 médicos estavam parados ao redor da cama. Parecia um pouco exagerado.

Um médico levantou a cama e ajudou a me virar. Eu cerrei meus dentes de dor e obedeci.

Querendo ver como estava meu ferimento, eu tentei virar a cabeça, mas era muito doloroso.

Victor, de repente, estava ao meu lado de novo. Sua mão gentilmente virou minha cabeça de volta e acariciou meu cabelo.

Ele devia saber há muito tempo o quão grave era o ferimento, mas mesmo assim, vendo-o pela primeira vez, o dedo do Victor se contraiu levemente.

Seus olhos permaneceram no pescoço da garota, as rugas em sua testa se tornando mais profundas do que nunca.

Os médicos rapidamente terminaram o exame, e Victor saiu junto com eles.

Não muito tempo depois, ele voltou carregando aquele documento que havia derrubado e se sentou na mesa ao lado da minha cama.

Mei: O que os médicos disseram?

Victor: O ferimento é profundo e é muito sério. Você terá que ficar por mais tempo para observação.

Mei: Oh...que ruim...Vai ter algum dano permanente? Eu vou ficar por mais tempo...?

Ouvindo ele dizer aquilo, eu fiquei em pânico. Eu queria me sentar direito.

Victor: Não se mexa.

Mei: Eu não poderia me mexer agora mesmo se eu quisesse...

Os olhos do Victor brilharam momentaneamente.

Victor: Eu estou aqui. Você não tem que se preocupar com nada.

Mei: Okay...Então quanto tempo eu vou ter que ficar no hospital?

Victor: Duas semanas.

Mei: Tudo isso?

Victor: Você ficou inconsciente por uma semana. Você acha que é só um arranhão?

Assim que ele acabou de dizer isso, Victor se arrependeu. Ele deu uma pausa, e então continuou em um tom mais gentil.

Victor: Duas semanas não é muito tempo. Se precisar de alguma coisa, é só me dizer.

Mei: Entendi....Espera! Eu estive inconsciente por uma semana?

Victor: Sim, uma semana inteira.

Minha cabeça doeu de repente, como se algo que eu não conseguia definir estivesse se sacudindo. Eu franzi a testa.

Victor se levantou e se inclinou na minha frente.

Victor: O que foi?

Ele parecia ansioso, e de repente eu percebi que seus olhos estavam vermelhos, com um círculo bem escuro ao redor deles.

Ele disse que eu fiquei apagada por uma semana. Ele esteve aqui o tempo todo? Eu não pude deixar de me manifestar.

Mei: Estou bem.

Mei: Então...você esteve aqui o tempo todo?

Victor: Sim.

Depois de se certificar que não havia nada errado, Victor voltou a se sentar.

Mei: Aqui por uma semana?

Victor: Sim.

Mei: S--Sete dias...

Victor tinha um olhar em seu rosto como se ele estivesse olhando para uma idiota.

Victor: Só tem sete dias em uma semana.

Sua voz soava a mesma de sempre. Mas só de ouvi-la, eu senti um calor reconfortante passar por mim.

Esse homem que valoriza tanto o tempo, na verdade, passou a semana inteira cuidando de mim no hospital.

Se eu não tivesse insistido para ele participar daquele show, tudo isso não teria acontecido.

E eu caí bem na frente dele, exatamente como quando nós éramos crianças. Ele deve se sentir responsável.

Uma onda de culpa caiu sobre mim, e eu não pude deixar de dizer--

Mei: Me desculpa...

Victor: Por que você está se desculpando?

Mei: Filmar o show aquele dia foi um erro meu. Eu não conferi os detalhes antecipadamente.

Mei: ...E eu te envolvi em tudo isso.

Mei: Você se machucou? O que aconteceu com o show depois daquilo?

Victor: ...Não pense muito sobre isso. Você precisa descansar um pouco.

Parecendo relutante em continuar esse assunto, ele se levantou. Com grande esforço, eu agarrei a camisa dele.

Mei: Mas eu ainda quero saber.

Victor olhou para mim e franziu a testa.

Victor: Descanse um pouco primeiro...

Mei: Eu acordei e me encontrei deitada aqui...

Mei: E então você me diz que passou uma semana, e tem todos esses médicos...

Mei: Estou confusa, mas não quero continuar no escuro. Eu tenho o direito de saber...

Victor: E você tem tanta certeza que eu vou saber?

Mei: Eu imagino que você foi investigar...Afinal de contas, você estava muito irritado lá...

Victor respirou fundo, um tanto conformado.

Victor: HBS rapidamente cancelou o programa e todos os funcionários envolvidos foram dispensados.

Mei: E então?

Victor: Eles saíram desse país definitivamente e desistiram de competir nessa região.

Mei: E...E aquela luz branca?

Ouvindo essas palavras, os olhos do Victor mudaram subitamente.

Victor: Nada disso jamais vai acontecer novamente.

Victor: Eu ainda estou investigando o resto. Você só precisa ficar calma. Não se preocupe com mais nada.

Victor não me deu realmente uma resposta direta. Ele apenas continuou insistindo para que eu parasse de pensar sobre isso.

Mas como eu posso não pensar nisso? Eu estou me sentindo um pouco nervosa desde quando acordei.

Desde o momento que eu vi ele, pequenos fragmentos das minhas memórias de infância continuam voltando.

Por que eu comecei a me lembrar de todas essas coisas de repente? Tem mais memórias?

Eu pensei muito, mas minha mente estava nebulosa.

Por que eu só consigo me lembrar das coisas relacionadas ao Victor?

Por que o set do show era exatamente igual ao local da minha infância? E até a mesma coisa aconteceu de novo?

Mas tudo o que Victor me disse era que tinha sido um grande erro da estação de TV e que a HBS saiu do mercado.

Eu não duvido do julgamento dele, mas todas essas outras coisas estão realmente apenas na minha cabeça?

Antes de eu sair dos meus pensamentos, Victor já estava na mesa folheando alguns documentos.

Eu finalmente comecei a reparar mais ao redor. Parecia mais um quarto de hotel do que um quarto de hospital.

Um armário, sofá, mesa, prateleiras -- tudo o que você poderia precisar, e uma pilha grossa de documentos na mesa que deveria pertencer ao Victor.

Meu olhar parou nele. O queixo dele estava com alguns pelos de barba, e sua camisa limpa tinha algumas dobras nela.

Esses detalhes me diziam que ele realmente tinha ficado aqui por um longo tempo.

Parecia difícil reconciliar que esse homem de rosto sombrio e a criança que me salvou do acidente de carro eram a mesma pessoa.

Mas olhando de novo, eu pensei, que eles realmente são a mesma pessoa.

A vida é estranha, me enviando em círculos, me reunindo com velhos sabores e velhos amigos.

Enquanto eu olhava fixamente para ele, Victor folheou rapidamente entre algumas páginas e então as fechou.

Ele suspirou e esfregou sua testa entre as sobrancelhas.

Victor: Agora eu tenho certeza que você gosta de olhar para meu rosto.

Dessa vez era uma afirmação e não uma pergunta.

Mei: De jeito nenhum, eu só estava olhando para o documento na sua mão...

Eu simplesmente deixei escapar alguma coisa, tentando disfarçar por eu ter sido pega de surpresa.

 


♕ Parte 3


Victor parecia gostar de me ver sofrer, e ele andou até o lado da minha cama com as sobrancelhas erguidas.

Victor: Eu cometi um erro de julgamento.

Mei: Oh? E qual foi?

Victor: Eu subestimei sua força.

Victor: Falante como você está, você não parece uma paciente de jeito nenhum.

Com isso, ele se sentou e pegou o prontuário que estava na cama.

Victor: Você ainda tem mais uma IV essa noite.

Você parece um belo enfermeiro...Eu ironizei silenciosamente para mim mesma.

Victor apertou o botão de chamada e uma enfermeira entrou apressada para tirar minha agulha.

Mei: Victor...

Victor: O que foi?

Mei: Estou com fome...

Me ouvindo dizer isso, uma careta um tanto conformada apareceu no rosto do Victor.

Victor: Você estava tão falante desde que acordou que eu pensei que não estaria com fome.

Victor: O que você quer comer?

Mei: Eu posso escolher qualquer coisa? Eu realmente não sou exigente...

Ouvindo aquelas palavras, Victor mostrou uma rara expressão de alegria.

Mei: De repente eu estou com muito desejo de frango frito. Eu acho que as pessoas sempre querem comer comida de altas calorias quando...

Victor franziu a testa e me interrompeu.

Victor: Parece que eu não deveria deixar essa decisão para você. Uma pessoa doente não deveria comer nenhuma fritura.

Mei: Mas você disse que eu podia escolher.

Victor: Bem, agora estou rescindindo essa autoridade.

Mei: Então já que isso foi tirado de mim também, eu acho que perdi meu apetite...

Victor: É mesmo? Então acho que vou ligar para o Sr. Mills levar de volta os ingredientes.

Apesar de ele ter dito isso, Victor continuou parado ao lado da minha cama.

Mei: Espera! É a comida do Souvenir?

Mei: De repente me deu vontade de comer de novo...Obrigada, Chef!

Um sorriso passou pelo rosto do Victor, mas rapidamente foi contido. Ele abriu a boca:

Mei: ...Deixa eu adivinhar, você vai me chamar de idiota.

Victor: Você adivinhou errado...tonta.

Observando Victor sair, de repente, percebi que em algum momento nós tínhamos voltado ao nosso antigo ritmo.

Descontraídos, sem nenhuma pressão, às vezes discutindo, mas mesmo assim à vontade.

Há algumas coisas do passado que nós dois ainda não trouxemos à tona. Talvez agora não seja a melhor hora.

Vou conversar com ele sobre isso mais tarde. E então dar a ele algo de coração como agradecimento, por todos aqueles anos.

Quando Victor entrou novamente, ele estava segurando uma tigela.

A tigela estava separada em duas partes. De uma lado tinha mingau de arroz e do outro tinha uma montanha de purê de batata doce e mirtilos.

Mei: Essa é a primeira refeição de hospital do Souvenir?

Victor: Sim.

Mei: Sorte minha! Na verdade, eu também sou a primeira que comeu o pudim do Souvenir.

Victor: Você é realmente fácil de agradar.

Mei: A raridade o torna precioso.

Eu sorri para o Victor, e através do vapor eu pude ver ele parado.

Victor: ...Você não deveria falar tanto enquanto come.

Mei: É...

Eu queria pegar a colher da mão do Victor, mas assim que levantei minha mão, senti uma pontada nas costas. Meu corpo todo começou a doer.

Me vendo daquele jeito, Victor pegou a colher e a levou até minha boca. Seus movimentos eram um pouco duros, como se ele nunca tivesse feito isso antes.

Victor: Abre bem.

Eu obedientemente abri minha boca e comi o mingau, uma colher atrás da outra.

Talvez seja porque Victor me pediu para não falar, mas também talvez porque estava incrivelmente delicioso.

Nós não falamos muito, apenas um loop do Victor me dando comida na boca, e eu comendo.

Ele me alimentava com bastante atenção. E a comida realmente tinha um sabor muito bom.

Mei: Eu nunca soube que um mingau poderia ter um gosto tão bom...

Victor: Você acha que tudo tem gosto bom.

Mei: Não é verdade. Aquele cachorro-quente inautêntico do lado de fora do nosso prédio não é nada bom...

Mei: E...e minha própria comida...

Minha voz ficou cada vez mais baixa. Victor riu. Sua boca se curvando em um lindo arco.

Victor: Na verdade, isso é bastante autoconsciente da sua parte.

Eu concordei, mas senti que alguma coisa não estava certa. Eu estava obviamente elogiando ele, mas está me afetando de novo...

Victor colocou a tigela de lado e limpou suas mãos. Eu não pude deixar de rir ao ver como ele parecia.

Victor: O que é tão engraçado?

Mei: Nada, nada.

Victor: Você acha que eu tenho a visão e a audição ruim?

Mei: Se eu disser, você não pode ficar bravo...

Victor: Isso depende do que você vai dizer.

Mei: Eu só pensei que, o jeito que você estava agora era bem...como...qual é a palavra...? Um dono de casa?

No passado, o rosto do Victor teria se fechado, mas hoje seu rosto continuou o mesmo.

Ele só olhou para minha cara como se estivesse pensando. Ele está mostrando sua gentileza para uma pessoa doente?

Victor: ...Suponho que não devo colocar grandes esperanças em suas habilidades de vocabulário.

Ele pegou a tigela e se preparou para sair do quarto.

Mei: Hmm, obrigada...não só pela comida. Obrigada.

Victor parou. Enquanto ele abria a porta, a luz do sol atingiu seu lábios novamente.

Victor: Você tem um pouco de arroz no seu rosto. Parece boba.

Eu virei a cabeça e olhei para o espelhinho ao lado da cama. De fato havia arroz no rosto, me fazendo parecer bem ridícula.

Victor, seu velho...É claro que ele esperou pra me dizer! Lá vai eu parecer uma boba na frente dele de novo!

 


♕ Parte 4


Enquanto eu estava deitada na cama sozinha e entediada, alguém bateu na porta.

Desde que acordei, eu não tinha visto ninguém além do Victor. O hospital parecia ser bem restrito. Quem poderia ser?

??: Mei, sou eu.

Aquela voz familiar. Faz muito tempo desde a última vez que a ouvi. Era ele.

Mei: Lucien...

Uma sombra embaixo da porta piscou. Parecia que ele estava parado ali por um longo tempo.

Lucien: Posso entrar?

Mei: Sim, a porta não está trancada.

A porta se abriu. Lucien estava mais uma vez segurando um buquê de flores, de pé ali.

Um perfume familiar, um rosto familiar. No mesmo instante eu fui levada de volta para aquele outono, quando nós fizemos o passeio juntos.

Lucien abriu a boca mas não disse nada. Ele só suspirou e andou até mim.

Mei: O que você está fazendo aqui?

Lucien: ...Estou aqui para te ver.

Mei: Obrigada...mas como você sabia que eu estava aqui?

Lucien: Se você quer saber algo, sempre tem uma maneira.

Mei: Hã?

Eu estava um pouco confusa. Lucien riu, mas não disse mais nada.

Seu olhar passou por todo meu rosto, parando quando chegou no meu pescoço.

Lucien: Isso dói?

Mei: Um pouco...Mas já está bem melhor.

Lucien colocou as flores ao lado da cama. As pétalas lavanda e delicadas brilhavam como um sonho.           

Mei: Elas são...campânulas?

Lucien: Correto.

Mei: Mas campânulas não florescem nessa estação, não é?

Lucien: Foi o que pensei, mas essa manhã eu olhei pela minha janela e as vi.

Mei: Que estranho...É uma flor tão linda...

Eu respirei fundo. A fragrância suave permaneceu no meu nariz.

O olhar do Lucien pairou sobre as flores, parecia cheio de pena e resignação.

Lucien: Sim. Assim que eu vi, eu quis dar elas para você.

Mei: De repente eu me lembrei de uma coisa que você disse antes.

Mei: Quando esses eventos improváveis acontecem, eles dão às pessoas a sensação de que o destino é real. Como as flores, certo?

Lucien: Sim, é o destino. Mas também é um milagre.

Mei: Eu pensei que você fosse dizer acidente.

Ouvindo isso, os olhos do Lucien se enevoaram, mas quando ele falou, sua voz era suave.

Lucien: Acidente...?

Ele soltou uma risada, parecendo falar consigo mesmo.

Lucien: Na verdade, muitas coisas que parecem acidentes são tudo menos isso.

Ele disse isso com tanta certeza. Eu pisquei confusa.

Lucien: Sejam essas coisas do presente ou do passado distante, elas não são acidentes.

Mei: Eu...acho que não entendi...

Lucien: Você vai.

Lucien esticou a mão e a colocou sobre minha cabeça por um longo tempo...e então a tirou.

Então houve um silêncio. Lucien apenas ficou ali sentado quieto, com uma emoção em seus olhos que eu não conseguia entender.

Mesmo com ele sentado ao meu lado, de repente eu senti que ele estava muito distante.

O som de passos me tirou dos meus pensamentos. Victor estava parado na porta, seus olhos pararam brevemente no Lucien.

Victor andou até minha cama, trocando olhares com o Lucien.

Um rápido e feroz, outro claro e frio, eles se encararam sem fazer barulho.

Essa é a primeira vez que eles se encontram? Por que eles não estão dizendo nada? Que estranho...

Eu tossi, me preparando para apresentar eles um para o outro.

Mei: Hmm...Victor, esse é o Lucien, um neurocientista...

Victor: Oi.

Victor me interrompeu, estendendo a mão.

Oh? O Victor conhece o Lucien? Eu me virei e vi que o Lucien estava estendendo sua mão também.

Lucien: Oi. Eu não sabia que você estava no hospital também.

Victor: Eu estive aqui o tempo todo.

Depois de um suave aperto de mãos, Lucien e Victor se soltaram. A expressão no rosto deles permaneceu inalterada.

Lucien: Você descanse um pouco. Eu tenho que ir.

Depois de um rápido silêncio, Lucien me disse aquilo.

Mei: Está bem, e você toma cuidado na estrada.

A garganta do Lucien estremeceu levemente, e então ele riu em um tom suave e moderado.

Lucien: Está bem.

Ele andou em direção à porta, e quando ele passou pelo Victor, os dois trocaram olhares de novo por um momento.

Quando Lucien saiu do quarto, eu pude sentir o ar de tensão se dissipar lentamente.

Victor abaixou a cabeça e pensou por um momento, e então saiu do quarto também.

Por que Lucien parecia tão estranho hoje, e Victor também...?

Victor fechou a porta e se virou. Ele viu Lucien parado na janela do corredor. A luz do sol dividia o rosto dele em dois, metade escuridão, metade luz.

Lucien se virou e olhou para o Victor. Enquanto ele falava, sua voz tinha um toque de orientação e advertência.



Lucien: Você realmente pensa que o que está fazendo é para o bem dela?

Victor fez uma expressão furiosa, e seu olhar profundo se fixou no Lucien.

Lucien: Ela tem o direito de saber a verdade.

Victor: Isso não tem nada a ver com você.

Suas palavras eram como uma lâmina afiada apontada para o Lucien.

Lucien riu e se virou, a escuridão engoliu todo seu rosto.

Lucien: Em 1908, ocorreu uma explosão nos EUA, na Casa Branca. Não houve vítimas, mas aqueles no local disseram que nunca vivenciaram a explosão.

Lucien: Você não pode presumir em que estado o gato sairá da caixa, nem como ele sairá.

Victor: Eu nunca presumi nada.

Victor: Só há um caminho que esse mundo pode seguir, e ele é determinado pela minha escolha.

Lucien: Mas e se...você estiver na caixa também?

Com isso, Lucien se virou e saiu. Nem um segundo depois, ele já tinha desaparecido do longo, longo corredor.

Victor olhou para o corredor agora vazio, e seus olhos se arregalaram.

Ele sempre soube que havia um poder desconhecido ao redor dele, mas só nesse momento ele percebeu o quanto Lucien era poderoso.

Por trás daquele homem calmo e controlado estava uma vasta rede. Densa, forte e insondável.

Mas dessa vez, ele estaria pronto.

Victor entrou no quarto. Ele não percebeu que no lugar que ele estava agora a pouco, um pequeno buraco negro havia aparecido, como se tivesse sido aberto.

Só que, desapareceu muito rápido.

 


♕ Parte 5


Mei: Você conhece o Lucien?

Assim que o Victor voltou para o quarto, eu olhei interrogativamente para ele.

Victor: Sim.

Mei: Então, vocês dois...

Enquanto eu estava pensando sobre o que perguntar, Victor já estava ao lado da minha cama.

Victor: Está bem, durma um pouco agora. Você teve uma manhã agitada. Não está cansada?

Percebendo que o Victor não queria falar sobre isso, eu obedientemente fechei os olhos.

Victor ficou parado ao lado da minha cama me observando. Quando ele teve certeza que eu havia dormido, ele se afastou silenciosamente.

Eu fechei meus olhos bem apertados, tentando fingir que eu estava dormindo.

Mas eu não conseguia dormir de jeito nenhum. Assim que fechei meus olhos, minha cabeça foi inundada de pensamentos.

Eu me encolhi debaixo das cobertas, e através dos meus olhos parcialmente abertos, eu vi o Victor sentado na mesa. Da pilha de documentos, ele tirou um envelope lacrado. Ele tinha um olhar pesado em seu rosto.

Victor olhou para o papel por um longo tempo. Sua mão segurava ele com tanta força que seus dedos ficaram brancos.

Eu nunca vi o Victor parecer tão nervoso e sério. Alguma coisa deve ter acontecido.

Victor olhou para mim de repente, me pegando desprevenida. Eu rapidamente fechei os olhos e me virei.

Eu pude ouvir os passos do Victor. Parecia que ele tinha andado em direção á porta, e então rapidamente a fechou.

Então eu abri meus olhos e olhei em direção à mesa. Aquele envelope lacrado não estava mais lá.

Tive uma leve sensação de inquietação e segredo no ar, e que isso tinha a ver comigo.

De repente, já era o quarto dia desde que eu havia acordado.

Primeiro eu pensei que um ferimento tão sério levaria muito tempo para se curar, mas estava melhorando muito mais rápido do que imaginei.

A ferida já estava praticamente quase curada, e eu estava me sentindo melhor a cada dia.

Tudo parecia estar indo bem.

Entretanto, mesmo que cada dia passasse tranquilamente, eu ainda tinha algumas preocupações que não conseguia esquecer. Principalmente quando Victor escondia as coisas de mim.

Mei: Victor, você não acha que a minha ferida já está bem melhor...?

Victor: Oh? Eu acho que não.

Victor não levantou a cabeça enquanto folheava rapidamente um documento. Ele parecia bem ocupado.

Mei: Sério? Está toda curada, e eu posso sair da cama e me movimentar. Nem dói mais...

Mei: Eu posso subir oito andares de escada sem nem ficar ofegante...

Victor: Exatamente o que você está tentando dizer?

Mei: Quanto tempo mais eu vou precisar ficar aqui? Eu quero sair do hospital.

Victor: Meio mês ainda.

Mei: Mas você disse antes que seria meio mês no total. Eu me sinto desconfortável aqui...

Victor parou no meio da virada de página e olhou para mim.

Victor: Você está comigo. Não há nada para se sentir desconfortável.

Mei: Não é isso. É só que eu me sinto confinada, exausta, e não vou trabalhar há séculos...

Victor parou e pensou por um momento.

Victor: Pelo menos 10 dias. Você pode retomar lentamente seu trabalho aqui.

Victor: Mas tudo isso com a condição de que os médicos dêem a autorização. Se não, eu não vou te deixar sair.

Seu tom era firme, mas ele tinha razão. Eu não tinha contra-argumentos e concordei com a cabeça.

Desde que fiz o acordo de 10 dias com Victor, sempre fui obediente e tive bastante descanso.

E Victor foi fiel à sua palavra. Com a autorização do médico, ele me trazia um pouco de trabalho a cada dia.

Eram todos somente pequenos projetos que precisavam da minha aprovação final. Mas foi bom voltar calmamente ao trabalho.

E então, nós dois começamos a trabalhar juntos no quarto do hospital.

Ele fez seu trabalho, e eu trabalhei nos meus projetos. Ocasionalmente eu olhava para ele e o encontrava olhando para mim.

Nossos olhares se encontravam e então nós continuávamos trabalhando. Horas se passavam em silêncio, mas nunca incômodo.

Estar com o Victor me lembrava os velhos tempos, apesar de ele ainda ter a língua afiada às vezes.

Mei: Sabe, faz séculos desde que eu vi a Anna. Eu me pergunto como todos estão indo...

Eu olhei para o Victor, enterrado em seu trabalho, e tentei parecer agradável.

Mei: Amanhã é fim de semana. Posso convidar a Anna e os outros aqui?

Victor: ...Vocês todos fariam um barulho estrondoso aqui no hospital.

Mei: Não faríamos não!

Eu ia argumentar de volta, mas então pensei: Espera um segundo -- Sou eu quem está no hospital. Por que eu estou pedindo a aprovação do Victor?

Finalmente eu me dei conta que desde que eu acordei, ele tem tomado todas as decisões por mim. E eu simplesmente fui concordando com tudo.

Mei: Mas eu realmente quero vê-los. Eu estou presa aqui todos os dias, isolada do mundo exterior...

Victor abriu a boca para falar, mas então seu telefone começou a vibrar na mesa.

Quando ele olhou o nome de quem estava ligando, franziu a testa. Ele cancelou a ligação, soltou os documentos e se levantou.

Victor: Discutiremos isso de novo amanhã. Eu tenho que ir agora.

Ele segurou firme seu celular e saiu apressado, parecendo agitado.

Mei: Acho que o Victor realmente está muito ocupado ultimamente...

 


♕ Parte 6


No dia seguinte, eu acordei assustada pela minha própria alucinação. Quando abri os olhos, Anna, Kiki e Willow estavam paradas ao lado da minha cama.

Mei: Eu devo estar sentindo muito a falta delas. Eu até estou vendo elas como alucinações...

Kiki: Chefe! Oooooohhhhh, eu também senti sua falta!

Quando Kiki se jogou em cima de mim, eu percebi que não era um sonho.

Mei: Como vocês chegaram aqui?

Anna: Goldman nos trouxe.

Anna: Ah é, ele também queria que nós te disséssemos que o Victor não virá agora de manhã.

De repente eu me lembrei do pedido que eu tinha feito para o Victor ontem. Eu acho que ele se lembrou.

Anna também me disse que durante todo esse tempo, Victor esteve cuidando da minha empresa. Não só ele designou um time dedicado, como também aprovou projetos pessoalmente.

Não só isso, ele também veio aqui todos os dias para cuidar de mim. Eu comecei a me sentir emocionada.

Antes da Anna sair, ela me deixou uma cópia da última proposta do programa "Descobertas Milagrosas" para eu revisar.

Quando eu quis fazer algumas anotações, percebi que não tinha uma caneta.

Eu fui até a mesa do Victor para emprestar uma e acidentalmente esbarrei no canto dela, espalhando papéis no chão.

Eu rapidamente os peguei e estava prestes a guardá-los quando um documento escrito "HBS" em letras grandes chamou minha atenção.

De repente, a imagem do rosto carrancudo do Victor enquanto lia um documento passou pela minha mente.

Eu sabia que o que eu estava fazendo não era certo, mas eu me peguei lendo o documento de qualquer forma.

O documento mostrava que o grande investidor por trás da HBS era a BLACK SWAN!

Minha mente instantaneamente se lembrou da frase escrita na parede do quarto secreto...

O Coletivo Black Swan. Nós viemos do futuro com a única missão de acelerar a evolução humana.

Nós possuímos Evol. Nós criamos todos. Não podemos ser impedidos, pois temos o mundo em nossas mãos.

Poderia ser que aquele incidente no set de filmagem estava relacionado com essa organização chamada Black Swan?

Era essa a informação que Victor estava escondendo?

Tudo que ele me disse foi que tinha sido um problema da estação de TV, mas minha intuição me dizia que não era tão simples...

Me lembrando do brilho em seus olhos e de sua tentativa de evitar o assunto quando ele me respondeu, minhas mãos tremeram.

Por que ele não me contou?

*Click*

A fechadura da porta virou, e eu instintivamente enfiei o documento de volta na pilha em cima da mesa.

A porta se abriu e ali estava Victor. Eu segurei minhas mãos atrás de mim, rindo envergonhada.

Victor: Por que você está parada aí?

Mei: Eu..Eu estava procurando por uma caneta.

Victor me olhou, pegou a caneta em cima da mesa, e me entregou.

Victor: Aqui.

Mei: Obrigada...Eu também preciso de uma folha de papel...

Victor abriu uma gaveta, tirou um punhado de papel e entregou para mim.

Eu peguei e voltei para a cama, com o coração na garganta, preocupada que ele fosse me chamar e me parar.

Victor: Mei, espera.

Mei: Qu--Que foi?

Victor: O trabalho de hoje.

Ele me deu uma pasta e respirou fundo.

Victor: Mei, espera um minuto.

Mei: Qu--Que foi?

Victor: Talvez você não esteja se sentindo bem?

Antes que eu pudesse falar, ele estava na minha frente, sua mão grande na minha testa.

Mei: Não, eu estou bem...

Mei: (Sussurrando) É só que você continua chamando meu nome e me assustando. Estou suando frio.

Victor: O que você está sussurrando?

Mei: N--nada...

Victor: ...Quando eu entrei eu vi você parada em frente à mesa parecendo boba. Você está arranjando problemas de novo?

Mei: Desde quando eu arranjo problemas...?

Victor: Quando você não está arranjando problemas?

Mei: Bem, você já ouviu falar que causar um problema é o primeiro passo para resolvê-lo?

Victor soltou uma risada.

Victor: Você está exagerando um pouco.

Victor não pareceu detectar nada errado comigo. Ele voltou para a mesa e continuou seu trabalho.

Tudo o que eu conseguia pensar era no que eu tinha acabado de ver. Eu debati se deveria apenas perguntar a ele sobre isso...

Eu dei uma espiada nele, e então lentamente abaixei minha cabeça, e então olhei de novo. Depois de fazer isso várias vezes, Victor não conseguiu se segurar.

Victor: ...Exatamente o que é que você quer?

Mei: Victor, eu vou te perguntar uma coisa e você não pode mentir.

Eu tentei parecer o mais séria possível, e Victor pareceu concordar.

Victor: Pergunte.

Mei: ...Tem alguma coisa importante que você não me contou?

Eu mantive meus olhos fixos no Victor, mas sua expressão não mudou nem um pouquinho.

Depois de alguns segundos de silêncio, Victor abriu a boca, frio como sempre.

Victor: Tem sim.

Mei: O que?

Ele arqueou as sobrancelhas e desviou o olhar.

Victor: Você realmente tem péssimos hábitos de sono.

Mei: ...Hey!

Vendo que ele conseguiu me provocar, Victor sorriu quase que imperceptivelmente.

Eu virei o rosto, mas pelo canto do meu olho eu pude ver que o Victor trancou o arquivo em uma gaveta. De repente ficou claro para mim.

Mesmo se eu perguntar a ele agora, ele não vai me dizer.

Eu sabia que ele devia ter seus motivos.

Então nesse momento, tudo o que eu podia fazer era confiar em sua decisão.

Talvez na hora certa, ele vai aparecer e me contar tudo por conta própria.



♕ Parte 7


Victor realmente estava cada vez mais ocupado.

Não era só pelos constantes vai-e-vem e as constantes ligações. Seu rosto estava ficando cada vez mais cansado, e os círculos ao redor de seus olhos mais escuros.

Minha intuição me dizia que a LFG nunca manteria ele ocupado desse jeito. Ele parecia ter assuntos mais importantes.

E mesmo assim, ele ainda estava vindo ao hospital todos os dias para cuidar de mim...

Mei: Victor! Hmm...Você não precisa continuar vindo aqui.

Victor parou em seus passos e me olhou estranhamente.

Mei: Eu estou quase totalmente melhor, e eu estou muito animada. Eu poderia arrebentar esse lugar...

Ouvindo isso, a boca do Victor se curvou em um pequeno sorriso.

Mei: Então você não precisa vir todo dia. Além do mais, eu vou sair em dois dias.

Eu olhei para o Victor e dei um grande sorriso para ele, tentando tranqüilizá-lo.

Victor: ...Pessoas que não conseguem manter o cobertor em cima delas enquanto dormem não tem lugar para fazer tal declaração.

Mei: ...!! Quando foi isso?

Victor: Ontem.

Mei: Eu pensei que você tinha saído ontem.

Victor: Eu voltei para pegar algumas coisas e vi você daquele jeito.

Mei: Oh...

Victor: Bem, por que você está me dizendo tudo isso de repente?

Victor parou de folhear as páginas do documento, como se estivesse prestes a se aprofundar no assunto.

Victor: Você acha que eu não tenho a habilidade para cuidar da empresa e de você ao mesmo tempo?

Mei: Não é isso...você sempre consegue fazer qualquer coisa se você se empenhar.

Mei: De verdade, eu pensei sobre isso por um tempo. Eu prometo que eu posso me cuidar sozinha.

Victor arqueou as sobrancelhas, não parecendo realmente acreditar no que acabei de dizer.

Mei: Então é isso. A partir de amanhã você não precisa mais vir. Obrigada pela ajuda!

Para minha decepção, Victor pensou por alguns segundos e então concordou.

Naquela noite, eu me revirei na cama, não conseguia dormir.

Victor estava realmente agradável hoje. Afinal, desde que eu estou no hospital, ele tem sido bem mais severo do que antes sobre tudo.

Não me deixando fazer isso ou aquilo, pedindo todas as minhas refeições sozinho...Ele parecia tão nervoso o tempo todo.

Ele pode não ter dito isso, mas eu acho que ele deve se sentir culpado, e é por isso que ele estava cuidando de mim desse jeito.

Ugh, quando é que eu vou poder sair desse hospital? Essa é uma coisa que eu ainda não consegui me acostumar...

Enquanto eu pensava isso, eu de repente ouvi um barulho, estranhamente nítido no quarto que antes estava silencioso.

Parecia vir do corredor...

Eu agarrei meu cobertor, diminuí minha respiração, e abri minhas orelhas para prestar atenção no que era.

O barulho parou, e então começou de novo, misturado com o som crepitante de eletricidade. Calafrios percorreram meu corpo todo.

Eu apertei o botão de chamada na cabeceira da cama várias vezes, mas não houve resposta.

Victor havia dito antes que eu era a única pessoa nesse andar...E agora...

Eu me forcei para ficar calma. Afinal de contas, eu havia acabado de falar para o Victor eu podia me cuidar sozinha...

Eu gentilmente acendi a luz, peguei a pasta mais grossa que estava por perto, e lentamente saí da cama.

Houve um som de *pow* repentino, e tudo ficou escuro. O som de vidro quebrado veio do corredor. Eu estava começando a perder a consciência...

Como se alguém estivesse me puxando, eu não pude mais controlar os meus pés e me sentei com uma pancada forte.

Nesse momento, um vento feroz soprou através das cortinas. O vento forte preencheu o quarto inteiro!

Eu segurei minha cabeça, e quando estava prestes a ficar inconsciente, o som elétrico parou bruscamente.

Não só a eletricidade...tudo havia ficado em silêncio.

Meus olhos estavam fechados bem apertados, e meu coração estava quase pulando pra fora da minha garganta--

Então, duas mãos pararam nos meus ombros.

Mei: Aaaahh------!!! Socorro!!!!

??: Abra seus olhos e veja quem é.


 

♕ Parte 8


Essa voz...essa voz!

Meu coração instantaneamente voltou para o peito. Eu levantei a cabeça e lentamente abri os olhos.

Claridade inundou minha visão. Parado na minha frente e carrancudo, estava o Victor.

Ele olhou para a janela totalmente aberta, e então olhou para mim, ele ainda estava um pouco ofegante.

Victor: Você está bem?

Eu balancei a cabeça negando. Eu me sentia tonta, e eu ainda estava pensando naquele som estranho agora a pouco.

Mei: Agora...agora a pouco...

Eu apontei em pânico para a luz no teto e fiquei chocada ao descobrir uma pintura de parede parada silenciosamente no ar.

Não só isso, mas as cortinas ondulantes, as sombras e o relógio tique-taque...estavam todos paralisados.

O mundo todo estava parado, exceto as batidas do coração do Victor e do meu.

Ba-dump, ba-dump...

Simples assim, eu olhei em choque para o Victor. Ele estava um pouco ansioso e em pânico.

Depois de me olhar por inteiro cuidadosamente, Victor suspirou.

Victor: A eletricidade acabou há pouco.

Então seu olhar parou no meu pé descalço.

Victor: Eu retiro aquela promessa que te fiz anteriormente. Você não tem mesmo a habilidade de se cuidar sozinha.                  

Logo que ele disse isso, Victor me pegou em seus braços.

Ele me segurou em seus braços gentilmente, mas firme.

Victor: Está claro que você não quer melhorar.

Mei: Não, não é isso! Aquilo realmente me assustou. Eu estava em pânico...

Eu pisquei e meus olhos começaram a encher de lágrimas quando as emoções me atingiram.

Victor abriu a boca, parecendo que ia me repreender por alguma coisa, mas no fim ele não disse nada.

Ele me colocou na cama do hospital, e então sem dizer uma palavra, ele se agachou e colocou minhas meias para mim.

Olhando para a nuca do Victor, não pude deixar de pensar que desde que eu o conheço, eu sempre tive que olhar para cima para vê-lo.

E agora ele estava agachado na minha frente como se não fosse nada...Era como uma brisa suave do mar no meu coração.

Eu simplesmente fiquei olhando fixamente para o Victor, sem nem desviar o olhar quando ele se levantou.

Victor: Você estava assustada, estúpida?

Vendo o olhar vazio em meu rosto, Victor franziu levemente a testa.

Depois de um minuto desse jeito, Victor suspirou e se abaixou para ficar no mesmo nível dos meus olhos.

Ele pegou minha mão e acariciou as costas dela suavemente.

Victor: Assustada?

O tom do Victor era gentil e ele tinha um brilho reconfortante em seus olhos.

Eu voltei à mim e hesitantemente balancei a cabeça em negação.

Eu não sei porque, mas só de olhar para ele desse jeito, meu coração se acalmou.

Vendo que eu parecia normal, Victor foi até a janela e fechou o vidro.

Então, ele ficou olhando pela janela por um longo tempo.

Mei: Eu claramente me lembro de ter fechado a janela antes de ir dormir...

De repente eu me lembrei do som de vidro quebrado que eu ouvi, mas a janela estava perfeitamente bem.

Tudo aquilo foi coisa da minha cabeça?

Mei: Mas...

Victor: Já chega. Não deixe a sua imaginação correr à solta. Foi só uma queda de energia normal.

Victor: Comigo aqui, nada vai acontecer.

A promessa do Victor parecia prova de que eu realmente estava imaginando coisas.

Mei: Mas, como você estava aqui em primeiro lugar? É tarde da noite.

Victor: Eu estava no quarto ao lado.

Mei: No quarto ao lado? Então você nunca saiu o tempo todo?

Victor: Eu ainda estou certo do que é mais importante.

Mei: ...Obrigada.

Victor: Durma um pouco agora.

O tom do Victor era rígido e me deixou sem espaço para argumentar.

Mei: ...Eu não consigo dormir. Eu já estava me sentindo muito ansiosa.

Mei: Agora piorou ainda mais...

Victor me olhou por um longo tempo, e então ele suspirou e saiu rapidamente do quarto. Quando ele voltou, ele estava carregando um casaco.

Victor: Coloque isso.

Mei: Nós vamos sair? Você quer fazer uma caminhada ou algo assim?

Victor me lançou um olhar que dizia: "fecha a boca." E eu obedientemente coloquei o casaco sem fazer mais perguntas.

 


♕ Parte 9


Eu andei com o Victor até a janela trancada. No momento que ele afastou as cortinas, meu queixo caiu.

Uma varanda envidraçada apareceu diante de mim, o profundo céu noturno acima de mim e as luzes da cidade abaixo.

Mei: É lindo aqui...

Victor puxou uma cadeira e fez sinal para eu me sentar. Ele ficou de pé com as mãos segurando o parapeito.

Mei: Eu nunca percebi que tinha uma varanda assim aqui! Mas por que estamos aqui?

Victor: Você não queria aliviar um pouco a ansiedade? Esse é o meu método.

O método do Victor?

Um homem poderoso como o Victor...tem momentos de ansiedade também?

Mei: Você está me dizendo que olhar para o céu pode aliviar a ansiedade?

Victor: Não, olhar para baixo.

Victor: Quando a cidade toda está aos seus pés, suas preocupações simplesmente somem.

Ele parecia estar dizendo isso para mim, mas também para ele mesmo.

Eu segui o olhar do Victor e olhei para a cidade abaixo, brilhando com luzes e suas ruas com fluxos de veículos mesmo a essa hora da noite.

Eu não conseguia distinguir nenhum pedestre, mas as luzes brilhantes pareciam me dar um pouco de paz e aconchego.

Eu olhei para as costas do Victor. Será que ele está sentindo o mesmo que eu agora?

Mei: Eu costumava pensar que olhar para o céu era bom. Eu nunca imaginei que olhar para baixo sobre a cidade seria bom também.

Victor: Isso não é difícil.

Mei: Que?

Victor: Se quiser, você também pode conseguir.

Victor olhou para frente, sua boca se curvou em um arco gentil. Ele estava me encorajando?

Eu nunca tinha visto esse lado do Victor, despido de sua antiga ferocidade e orgulho, sua cabeça banhada pela luz suave da lua.

Talvez tenha sido a excessiva ternura do momento, mas não pude deixar de perguntar o que estava em minha mente.

Mei: Você tem momentos de ansiedade também?

Victor se virou, pernas cruzadas e encostado no parapeito. Sob a luz da lua, seus olhos pareciam suaves e brilhantes.

Victor: Eu tenho.

Mei: Essa é a primeira vez que eu ouço você dizer algo assim.

Victor não respondeu como de costume. Ele só arqueou a sobrancelha, sinalizando para que eu continuasse.

Mei: Eu sempre pensei que não havia nada que você não pudesse fazer, que você tem tudo.

Mei: Que ansiedade fosse uma palavra que não tivesse nada a ver com você.

Victor andou até mim e se sentou.

Victor: Trabalho e vida nunca tiveram efeito nas minhas emoções.

Victor: Mas tem uma pessoa nesse mundo com quem eu nunca consegui parar de me preocupar.

Eu me virei e olhei para o rosto dele.

Sentindo meus olhos nele, Victor sorriu, e quando falou de novo eu pude ouvir um riso em sua voz.

Victor: Eu adoraria saber o que você está pensando toda vez que olha desse jeito para o meu rosto.

Mei: Eu estou claramente olhando para aquela estrela ali...

Victor olhou para o céu sem estrelas e riu, mas não disse nada.

Mei: Na verdade, eu estava pensando que você não parece o mesmo Victor que eu me lembro...

Victor: Quer dizer que você não me vê como um cara de poker sem graça?

Mei: Você ainda se lembra...

Victor: Você sempre fala isso para mim. Seria difícil esquecer.

Mei: Afinal de contas, toda vez que eu te olho você está com uma cara séria...

Mei: Mas eu acho que desde que eu acordei, você parece um pouco diferente.

Mei: Não está com a língua tão afiada como antes. E é fácil lidar com você a maior parte do tempo.

Mei: Só as vezes você é meio assertivo.

Victor: Como assim?

Mei: Como sobre o que eu vou comer, ou só me dando um arquivo para trabalhar, ou insistindo que eu durmas as 9...

Victor não respondeu. Ele só olhou pela enorme janela, com um olhar em seus olhos que me dizia: "Viu, isso é o que acontece quando você cuida de si mesma."

Eu queria argumentar de volta, mas não tinha nada que eu pudesse dizer.

Mei: Você tem cuidado tão bem de mim ultimamente...É por que eu te salvei?

É a culpa que está fazendo você me proteger, escondendo todas aquelas coisas de mim?

Eu olhei para o Victor e tentei colocar em palavras as dúvidas que estavam pairando em meu coração esse tempo todo.

Só que eu não disse em voz alta a segunda pergunta.

Victor: Não totalmente.

Mei: Então por que? É por que quando éramos pequenos...?

Victor: Você só tinha 5 anos naquela época.

Mei: ...Por que eu não entendo?

Victor: ...Porque você é uma idiota.

Mei: De novo me tratando como uma idiota!

Victor: Admitir que você é uma idiota é o primeiro passo para resolver seus problemas.

Eu não estava esperando que Victor fosse virar aquela frase contra mim. Eu me senti atrapalhada e corei.

Nós não falamos de novo e apenas ficamos olhando as luzes suaves enquanto a noite ficava cada vez mais quieta.

Exatamente como Victor disse, sentar aqui nesse lugar me deu paz. Eu lentamente baixei minha guarda. Olhando à distância eu murmurei:

Mei: Honestamente, eu não quero só me esconder em um lugar seguro...sempre sendo protegida...

Mei: Eu também não quero ser sempre tratada como uma idiota.

Com o olhar perdido na cidade, eu não percebi que o Victor estava olhando para mim por um longo tempo.

Talvez seja a noite calma. Mas minha mente estava como um lago tranquilo, refletindo a luz da lua.

A sonolência tomou conta de mim e as luzes da cidade se tornaram uma névoa quando minhas pálpebras caíram.

Sentindo um peso em seu ombro, Victor se virou e viu que a garota tinha dormido.

Victor: Você consegue dormir em qualquer hora e qualquer lugar. Você realmente é descuidada.

Victor: Você tem se perguntado o dia todo, e quando eu te conto, você não entende. Isso não é idiotice?

Victor: Eu não tenho nada além de culpa e arrependimento em relação à quando você era criança. Entendeu?

Apenas algumas das inúmeras luzes dos apartamentos abaixo estavam acesas. A cidade inteira estava escura como breu.

Victor se virou e olhou para a janela seguramente fechada, seus olhos escuros se fundindo com a escuridão da noite, escondendo a luz por dentro.

Começando naquele momento, a aura de perigo que constantemente circulava no ar se solidificou.

Victor se virou para olhar a garota dormindo.

Sua respiração gradualmente se juntou à dela, devagar e delicada.

Victor: Eu pagarei qualquer preço para te manter longe daquele perigo e discórdia...

Victor: Eu deixarei você fazer o que quiser, mas agora não é a hora.

Victor: Então, você precisa se comportar.

Victor ergueu a cabeça e viu que a noite clara agora estava totalmente nublada. A terra ao longe estava envolta por um vento preto.

Ele ficou desse jeito observando o céu por um longo tempo.

Victor podia sentir que uma tempestade estava prestes a chegar.

 


♕ Parte 10


O dia que eu pude sair do hospital finalmente chegou. Depois de passar por toda a papelada, eu estava sentada no carro do Victor.

Eu o agradeci por tudo o que ele fez recentemente. Ele não disse nada, só me levou até em casa.

Victor: Eu venho te pegar amanhã de manhã, às 9. Não se atrase.

Mei: Hã?

Victor: Não há negociações com o tempo.

Mei: Espera, você pode dizer isso de novo?

Victor: Eu não me lembro da sua audição ser tão ruim antes. Eu vou te pegar e levar ao trabalho amanhã às 9.

Eu estava espantada. Esse...esse era o mesmo Victor? Logo depois que pensei nisso, deixei escapar.

Mei: Você tem certeza que é o Victor...?

Victor: ...Você tem certeza que é uma tonta?

É, é ele.

Mei: Mas você é tão ocupado...

Victor: Isso não tem nada a ver com te levar e te buscar no trabalho. Já chega, eu tenho que voltar para o escritório. Não se atrase amanhã.

Antes que eu pudesse responder, Victor simplesmente subiu o vidro do carro e acelerou, me deixando parada ali atordoada.

Na manhã do dia seguinte--

Mei: Obrigada. Você pode me deixar aqui no cruzamento. Eu atravesso a rua sozinha.

Victor: Eu vou fazer o retorno.

Mei: Está tudo bem. Eu posso atravessar sozinha...

Dois minutos depois, o carro parou na frente do escritório.

Mei: Bem, obrigada. Toma cuida--

Victor: Não se atrase para sair do trabalho.

Sem esperar por uma resposta, Victor só latiu aquele comando para mim e acelerou de novo.

Mei: Hey, Hey! Você nunca ouviu falar em dar a outra pessoa a oportunidade de falar?!

Assim que eu entrei no prédio do escritório, eu notei duas fileiras de guardas de segurança desconhecidos parados no saguão, parecendo bem severos.

Mei: Kiki, por que tem tantos seguranças aqui no nosso prédio?

Kiki: Você não soube? Ontem toda a segurança do nosso prédio foi trocada, principalmente no nosso andar.

Depois de ouvir a Kiki falar isso, eu percebi que também havia rostos diferentes na entrada do escritório.

Kiki: A administração do edifício disse que essa área não tem sido segura ultimamente, então eles estão reforçando a segurança.

Isso fez eu me preocupar por um momento, mas a vida parecia ter voltado ao normal. Tranquila, mas ocupada.

Só que às vezes eu tinha a sensação de que alguém estava me observando, mas nunca via ninguém.

Hoje, enquanto eu estava correndo para a sala de conferência, eu acidentalmente esbarrei no Minor vindo na outra direção com um copo cheio em sua mão.

Mei: Aaah!

Minor: Meu super caro Café Civeta!

O café foi derrubado e caiu no meu pulso. Ele freneticamente me ajudou a enxugar.

Minor: Ugh, eu sou tão idiota. Chefe, te queimou...?

Antes que ele pudesse tocar meu pulso, um homem estranho agarrou o braço dele e prendeu nas costas.

Minor: Oww, isso dói! Quem são vocês?!

Outros dois homens, vestindo o uniforme da administração do prédio, apareceram atrás de mim, separando Minor e eu.

??: Senhorita Mei, você está bem?

Mei: Estou bem. Quem são vocês?? O que estão fazendo? Soltem ele!

??: A identidade dessa pessoa é desconhecida, e ele acabou de ameaçar a segurança da Srta. Mei. Nós somos responsáveis pela sua segurança pessoal.

Mei: Ele é meu colega de trabalho! Aquilo foi só um acidente!

Minor concordou com a cabeça, seu rosto estava vermelho de dor.

Minor: É verdade! Não só colegas de trabalho, nós íamos na mesma escola. Somos amigos há muitos anos!

Eles continuaram em alerta e só soltaram o Minor de má vontade quando nós explicamos as coisas várias vezes.

Depois de confirmar repetidamente que o que eu disse era verdade, eles concordaram comigo e se prepararam para sair.

Mei: Espera aí! Vocês não são da segurança do prédio? O que estão fazendo no escritório da nossa companhia?

Mei: E também, por que vocês disseram que são responsáveis pela minha segurança pessoal?

Os homens olharam uns para os outros, parecendo não estar dispostos a falar.

De repente eu me lembrei de como eu me senti estar sendo observada. Deve ter sido esses caras.

Mei: Quem são vocês exatamente?

??: Nós somos seu guarda-costas pessoal, Srta. Mei, responsáveis pela sua segurança.

Mei: Eu nunca tive guarda-costas antes. Quem enviou vocês aqui?

Eles ficaram em silêncio. Não importa o quanto eu perguntava, eles não me diziam quem havia mandado eles aqui.

Mas na minha mente um nome claramente apareceu --só podia ter sido ele.

Eu liguei para o número do Victor.

Victor: O que é?

Mei: Tem pessoas aqui alegando serem meus guarda-costas. Isso não seria coisa sua, seria..?

Houve uma pausa por vários segundos no outro lado da linha.

Victor: Seria.

Mei: Por que?

Victor: Garantindo sua segurança.

Mei: Entendo, mas por que você não me contou?

Victor: Eu não queria que você começasse a se preocupar.

Mei: ...Isso não é um pouco exagerado? Eu realmente estou bem. Eu não preciso...

Antes de eu terminar de falar, Victor me interrompeu.

Victor: O grupo de investimentos por trás da HBS é na verdade um magnata internacional com ficha criminal, cujo alcance se estende até a cidade de Loveland.

Ele realmente acabou de dizer isso para mim? Não foi isso que eu vi naquele documento? Ele está planejando me contar dessa vez?

Victor: O que aconteceu da última vez foi só um acidente, mas eu ainda não posso confirmar sua segurança 100%, então esses guarda-costas são uma necessidade.

Mei: Mas...

Victor: Sem mas. Eu disse antes, aquele tipo de coisa não vai acontecer de novo.

Mei: ...Okay.

Victor: Tchau.

Quando eu desliguei, me senti um pouco triste. Claro, Victor estava fazendo o que era melhor para mim, mas eu ainda me sentia um pouco estranha.

 


♕ Parte 11


Ter guarda-costas ao meu redor tornou minha vida mais estranha, mas sabendo que o Victor só estava cuidando de mim, eu decidi simplesmente tentar me acostumar com isso.

Enquanto a vida continuava, aquelas coisas que costumavam me preocupar se tornaram menos problemáticas a cada dia.

Mas paz não significa falta de perigo. Eu não conseguia esquecer a verdade por trás de tudo aquilo

Ao mesmo tempo, além do perigo iminente ter se tornado parte da minha vida, havia também o Victor.

Não só ele me ligava todos os dias para perguntar o que tinha acontecido, como também me levava e buscava todos os dias bem na hora, mas nem os guarda-costas ficavam mais escondidos.

Onde quer que eu fosse, eles me seguiam. Eu não pude deixar de me sentir mais e mais encurralada.

Eu protestei para o Victor muitas vezes, e toda vez a resposta dele era: "Segurança em primeiro lugar."

Só até hoje--

Um dos velhos amigos do meu pai veio me visitar, e até mesmo tinha um novo projeto colaborativo, mas ele foi barrado na porta pelos guarda-costas.

Eu trouxe o homem para dentro do escritório, mas inesperadamente 5 guarda-costas entraram também e ficaram ao nosso redor.

Essas coisas podem parecer sem importância, mas sempre tem a gota que faz transbordar o copo. Como agora.

Eu me senti um pouco irritada, e depois de ficar remoendo sobre isso a tarde toda, eu corri até a LFG.

No caminho todo até lá, eu pensei sobre meu espaço pessoal estar sendo invadido por esses guardas.

Mais um dia pacífico lançado no caos por causa desses guarda-costas. Eu já não conseguia mais suportar.

Claramente eu sabia que ele estava preocupado comigo, mas eu estava ficando um pouco cansada disso. Eu precisava esclarecer as coisas com ele hoje.

Eu bati na porta do escritório do Victor. Ele ficou um pouco surpreso em me ver e fechou o arquivo que estava em suas mãos.

Mei: Você está livre? Tem uma coisa que eu venho pensando por um longo tempo e eu quero discutir isso com você hoje.

Victor: Fala.

Mei: Você pode dispensar esses guardas pessoais? Deixe só os que estão guardando o escritório.

Victor: Por que?

Depois de só alguns segundos de pausa, quando Victor falou novamente, era como se ele estivesse falando consigo mesmo--

Victor: ...Isso é sobre espaço pessoal, não é?

Mei: Sim...Eu entendo os perigos que você citou, mas eu não sou uma criancinha. Eu sei que a segurança é importante.

Victor: E a liberdade pessoal está em conflito com isso.

Mei: Eu sei, mas agora eu praticamente não tenho mais nenhuma liberdade...

Mei: Eu sinceramente prometo que serei boazinha. Eu não vou agir imprudentemente! Você precisa confiar em mim.

Depois de me olhar por um tempo, Victor concordou com a cabeça.

Victor: Eu confio em você. Da mesma forma, você precisa confiar nas minhas decisões.

Mei: Então...

Victor: Então, eu não vou dispensar os guarda-costas.

Victor falou com decisão, não deixando absolutamente nenhum espaço para discussão.

O ar de repente se tornou frio. Eu fiquei ali parada, completamente perdida.

Por que é que toda vez que eu quero conversar sobre alguma coisa com o Victor, sempre acaba tão abruptamente...?

Em meu estado transtornado, eu simplesmente falei o que estava pensando.

Mei: Por que você é sempre tão dominador e insensato?

A luz nos olhos do Victor se intensificaram. Ele me olhou com os lábios fortemente cerrados.

Mei: Eu entendo as suas intenções e também entendo o quão assustador o perigo é.

Mei: Mas eu não quero apenas permanecer no escuro, me escondendo atrás de você desse jeito.

Mei: Talvez eu nunca sinta o perigo dessa forma, mas é realmente isso o que você quer?

Mei: Eu entendo a sua culpa, mas...mas...

Mei: Está sendo muito difícil pra mim ultimamente...eles...é como se eu estivesse sendo monitorada...

Victor: Monitorada? É dessa forma que você vê isso?

Mei: Eu não sei se você entende esse sentimento ou não...

Mei: Passar todos os dias com medo, não ter liberdade, sua vida saindo cada vez mais do seu controle.

A boca do Victor se apertou ainda mais, e ele franziu a testa.

Victor: Tenho essa sensação tanto quanto você.

Mei: Eu sei que você está fazendo o que é melhor pra mim, mas eu só quero um pouco de espaço...

Mei: Eles estão bem atrás de mim todos os dias. Quando eu vou para reuniões, em locais de filmagens...

Mei: Até mesmo quando meus amigos estão conversando comigo, ele ficam parados bem do lado...

Victor não disse nada. Ele só ficou olhando para mim. Eu não conseguia ler sua expressão, mas sentia que ele estava bravo.

Vendo o Victor daquele jeito, foi a primeira vez que eu senti como se ele fosse um estranho.

Mei: Você não era desse jeito antes...

Ao me ouvir dizer aquilo, a luz nos olhos do Victor desapareceu lentamente.

Essa era uma expressão que eu nunca tinha visto em seu rosto antes.

Mei: ...O que foi?

Victor olhou para mim e abriu a boca, mas demorou muito tempo antes de eu ouvir qualquer som.

Victor: Então, você odeia tudo isso, correto?

A sentença ecoou pela sala toda.

As palavras continuaram se repetindo em minha mente.

Esse claramente não era o caso, mas minha mente deu branco. Eu não sabia como responder.

Victor: Entendo.

Um olhar passou pelo rosto do Victor, como se ele já soubesse o tempo todo.

Ele pensou um pouco, como se estivesse tomando uma grande decisão.

Victor: Daqui pra frente eu não te darei mais caronas, e as ligações também vão parar.

Victor: Mas ao mesmo tempo, você deve ser ativamente responsável por sua segurança pessoal. Eu não vou dispensar os guarda-costas por enquanto, mas eles manterão distância de você.

Mei: ...Okay.

Victor: Há quanto tempo você está querendo me dizer isso?

Mei: Por volta de uma semana...

Victor: Por que você não me disse antes?

Mei: Eu pensei que lentamente iria me acostumar com isso...

Victor ficou em silêncio e eu decidi sair, mas quando cheguei na porta ele me parou.

Victor: ...Como eu era antes?

Mei: Antes...

A imagem do Victor me levando para casa tarde da noite apareceu de repente na minha mente.

Victor discutindo comigo no Souvenir. Victor me encontrando no set de filmagem.

E aquela noite... quando olhamos juntos a paisagem noturna da cidade.

Todos esses lados dele formaram o Victor que ele é agora.

Por um momento, eu não tinha certeza de quais palavras usar para descrevê-lo.

Ele realmente não tinha a língua tão afiada. Ele era carinhoso. E ele não era dominador. Ele respeitava as pessoas.

Na verdade, ao ter dito aquelas coisas sobre ele há pouco, eu realmente tinha ido longe demais...

Sem eu perceber, Victor tinha andado até mim e parado na minha frente.

Victor: Quer seja eu antes ou eu agora, só há um Victor. Entendeu?

Quando voltei para o escritório, eu coloquei minha cabeça na mesa, incapaz de tirar a cena da minha mente.

Eu estava preparada para entrar em uma briga com o Victor, só que descobri que eu não conseguia.

Ele realmente estava bravo, e eu realmente me expressei mal. Eu...deveria me desculpar com ele.

Apesar que, se eu fizer isso, a vida pode mesmo voltar a ser como antes...?

Eu olhei para o relógio. 19:30h. Antes, eu estaria entrando no carro do Victor nesse momento, a caminho de casa.

Mei: Agora, vamos voltar ao trabalho!

Sem ser percebido por ninguém, um carro parou na esquina da 'Lu Uesugi Company'. Victor era quem estava sentado do banco do motorista.

Ele olhou para a luz ainda acesa no andar lá no alto e suspirou, então acelerou e foi embora.

 


♕ Parte 12


Depois daquele dia, Victor realmente parou de me dar caronas e as ligações mudaram para somente uma por semana.

Minha vida começou a voltar ao normal, só que às vezes eu sentia como se estivesse faltando alguma coisa.

Anna: As audiências recentes do programa têm sido boas. As revisitas que planejamos para o programa 'Descobertas Milagrosas' precisam ser antecipadas na agenda.

Kiki: Revisitas? Começando com os primórdios do show? Isso foi há muito tempo, não foi?

Anna: Não precisa revisitar se não faz muito tempo. Nós éramos os reis de audiência naquela época.

Willow: Estou dentro. Se fizermos um bom trabalho, será uma grande história!

Por causa da importância do show, eu decidi me envolver pessoalmente em todo o processo.

Nosso primeiro assunto revisitado era sobre um mestre artesão de cristais de vidro colorido. Ninguém mais no país conseguia manipular o vidro como ele.

Ele também foi o primeiro convidado do 'Descobertas Milagrosas'.

Para aprender mais sobre ele, eu li as anotações de entrevista do meu pai, onde descobri um segredo chocante!

No dia do acidente de carro do meu pai, ele se encontrou com esse homem.

O que significa que ele provavelmente foi a última pessoa que viu meu pai antes de ele morrer!

Meu coração acelerou incontrolavelmente. Eu senti como se tivesse encontrado algo vital.

Nesse momento, eu pensei em algo que o Lucien tinha me falado e que me intrigou.

Lucien: Sejam essas coisas do presente ou do passado distante, elas não são acidentes.

Se essas coisas não são acidentes, então o que elas são?

Eu tinha um pequeno pressentimento de que essa revisita seria a primeira chave para desvendar todo esse mistério.

E esse velho mestre certamente era um personagem bem estranho. Ele só concordou com a entrevista se eu fosse sozinha.

E acontece que ele vive em um velho vilarejo no topo das montanhas.

Mas não importa o que, eu tinha que ir!

Depois de fazer a transferência do metrô para o ônibus e andar por mais uma hora, eu finalmente cheguei na casa do velho artesão, uma pequena cabana na montanha.

Mei: Olá, eu sou a Mei. Nós temos uma entrevista agendada hoje.

Eu bati na porta e esperei respeitosamente. Abriu-se só uma fresta e uma voz saiu de lá de dentro.

??: Diga para essas pessoas atrás de você se afastarem. Eu não desejo vê-los.

Pessoas atrás de mim? Eu me virei confusa e vi 5 guarda-costas atentos atrás de mim, mantendo 5 metros de distância, é claro.

Mei: Vocês podem voltar rapazes. Eu não preciso que vocês entrem comigo.

Guarda-costas: As ordens do Sr. Victor foram para manter 5 metros de distância, mas não mais do que 10 metros. Nós nos afastaremos um pouco.

Dito isso, eles deram dois passos grandes para trás.

O velho mestre ainda não abriu a porta. Eu estava ficando ansiosa. Eles tinham que se afastar mais.

Mei: Vocês devem se manter a 10 metros dessa casa -- não, 20 metros.

Guarda-costas: Mas...

Mei: Se não, eu vou...eu vou contar para o Victor...

Os guardas foram forçados a atender meu pedido. A porta se abriu e eu finalmente entrei.

??: Senhorita, você já ouviu a expressão 'lobo em pele de cordeiro'?

Mei: Hã?

Eu parei por um momento. O velho homem na minha frente me olhava com um sorriso nos olhos, com uma expressão de significância em seu rosto.

Mei: Qu--Quem, eu?

O velho mestre riu, e eu comecei a rir também, e a atmosfera se iluminou.

Mei: Oi, eu sou a Mei.

Velho Homem: Eu sei. Eu era amigo do seu pai. Meu nome é Charles, mas você pode me chamar de Vovô Chuck.

Mei: Olá, vovô Chuck!

Eu peguei minha caneta gravadora, ajeitei a câmera e comecei a entrevista.

Mei: Quando você esteve no programa, seu super-poder era que você possuía uma outra dimensão pessoal, onde você podia manipular um tipo exclusivo de vidro colorido.

Mei: Posso perguntar, como você descobriu que tinha esse super-poder?

Vovô Chuck: Pode parecer estranho, mas no começo eu não sabia pra que era esse espaço dimensional. Eu simplesmente pensei que era um lugar normal.

Vovô Chuck: Na época, eu levei minha esposa para lá, e ela gostava de fazer trabalhos manuais, então eu montei todas as ferramentas para ela lá.

Vovô Chuck: Aos poucos, descobri que o local possuía uma espécie rara de pedra envidraçada que dá ao cristal cores únicas.

Mei: Então, quando você descobriu a primeira vez sobre outras dimensões, como se sentiu?

Vovô Chuck: Na primeira vez, é claro que não acreditei. Eu estava surpreso. Eu achei que era uma coisa assustadora, e até mesmo pensei que eu não era uma pessoa normal, que eu era um monstro. hahaha.

Mei: ...E depois?

Vovô Chuck: Depois, eu encontrei alguém, e ele me disse que eu posso usar Evol para fazer algumas coisas. Que eu era uma pessoa normal e muito útil para esse mundo.

Mei: Esse alguém...

Vovô Chuck: Era o seu pai. Então mais tarde eu me tornei o primeiro convidado a estar no programa.

Tendo dito isso, vovô Chuck olhou para a câmera e ficou em silêncio, pensando.

Vovô Chuck: Na realidade, o verdadeiro milagre não é Evol. É este mundo.

Vovô Chuck: Evol não é nem um pouco especial. Eu também sou só uma pessoa normal e tenho minha vida e meus problemas.

As palavras do vovô Chuck me fizeram pensar. Talvez fazer com que todos entendessem essa idéia era o objetivo do meu pai ao começar este programa há 17 anos.

Super-poderes não são particularmente especiais. Todos vivem na mesma Terra juntos.

Mei: Como você conheceu meu pai?

Vovô Chuck: Ele reconheceu imediatamente que os vidros que eu fazia não eram desse mundo. Depois ele lentamente foi se tornando o tipo de amigo com quem eu podia conversar sobre qualquer coisa.

Enquanto ele falava sobre meu pai, o rosto do vovô Chuck mostrava nostalgia, saudade e tristeza.

Mei: E quando...quando...foi a última vez que você viu meu pai?

Vovô Chuck: No dia do acidente de carro dele.

Meu coração pulou na garganta de repente. Eu tive a vaga sensação de que eu estava prestes a saber a verdade.

Vovô Chuck:  Criança, eu devo desculpas à você. Naquele dia, ele veio até minha casa apressado. Ele disse que havia algo em meu espaço dimensional que ele tinha que encontrar. Eu estava me preparando para levá-lo lá.

Vovô Chuck: Então seu pai recebeu uma ligação. A expressão dele mudou de repente, e ele disse que voltaria mais tarde. E então eu nunca mais vi ele novamente...

Ouvindo o que aconteceu aquele dia pela primeira vez, eu me senti comovida. O que era a ligação que meu pai tinha recebido? O que tinha na outra dimensão que ele precisava encontrar?

Vovô Chuck: Se eu tivesse o levado para lá mais cedo, aquele acidente não teria acontecido...

Vovô Chuck deu um tapinha nas minhas costas, e por um tempo, nós dois não dissemos nada.

Vovô Chuck: Criança, você quer ver? O meu espaço especial?

Vovô Chuck: Desde aquele dia, eu não voltei mais.

Eu me recompus, concordei e segui o vovô Chuck para dentro.

Vovô Chuck me fez fechar os olhos, e quando eu os abri novamente, um ateliê apareceu na minha frente. Esse era o lugar que meu pai queria vir antes do acidente.

Pela aparência do local, ninguém vinha aqui há anos. Uma fileira de cristais inacabados no chão tinha teias de aranha crescendo neles.

Mei: Meu pai disse o que ele queria encontrar aqui?

Vovô Chuck: Ele não disse. Eu só sei que ele estava muito ocupado na época, freqüentemente desaparecendo por períodos de tempo. Ele estava com um olhar bem pesado em seu rosto.

Isso coincidia com minhas memórias. Naquela época, meu pai estava sempre muito ocupado, e ele me pedia firmemente para que eu cuidasse da minha segurança, muito parecido...com recentemente.

Vovô Chuck me entregou um copo de vidro. Uma garotinha de rabo de cavalo estava pintada nele.

Vovô Chuck: Reconhece ela? É você.

Eu olhei de perto para a garotinha. Na mão dela havia um balão vermelho e ela tinha um grande sorriso.

Mei: Isso é...

Vovô Chuck: Seu pai que pintou. Na época, ele ia te dar como um presente de aniversário. Agora finalmente chegou em suas mãos.

Eu gentilmente passei meus dedos pelo copo e então cuidadosamente o guardei.

Mei: Obrigada.

Mei: Vovô Chuck, eu posso voltar aqui mais vezes futuramente?

Vovô Chuck: Claro.

Vovô Chuck eliminou sua expressão triste e sorriu para mim.

Vovô Chuck: Fique a vontade. Porém da próxima vez, você não precisa trazer aqueles guarda-costas com você. Vovô Chuck não é um homem mal.

Mei: Eles...eles foram enviados pelo meu amigo.

Com isso, eu me lembrei de repente que Victor ia me ligar hoje. Eu corri checar meu celular.

Dizia que era 11 horas da manhã. Eu desliguei o modo silencioso para que eu não perdesse a ligação dele.

Vovô Chuck: Criança, por que você está tão distraída?

Mei: Não, não, você não entende. É por que alguém que ama se preocupar vai me ligar para ter certeza que eu estou bem.

Mei: A mesma pessoa que mandou os guarda-costas que estão lá fora...

Vovô Chuck começou a rir disso.

Vovô Chuck: Essa pessoa deve realmente gostar muito de você.

Vovô Chuck: Você deve ser importante para ele, caso contrário ele não se preocuparia tanto com sua segurança.

O rosto frio do Victor de repente apareceu na minha mente, e aquele olhar triste em seus olhos da última vez que o vi.

Pensar nisso de repente me deu uma idéia.

Mei: Vovô Chuck, pode me ensinar como fazer alguma coisa?

Vovô Chuck: Claro, apesar que não há tempo para fazer tudo. Aqui, pinte qualquer desenho que quiser.

Vovô Chuck me entregou duas peças inacabadas e um pincel. Eu peguei uma em formato de xícara.

Eu olhei para a xícara em minha mão e pensei um pouco.

Vovô Chuck: Criança, você pintou...um cachorro?

Mei: Uh...é difícil dizer? Esse é um gato, e esse é um cachorro...

Vovô Chuck olhou para o gato rosnando e o cachorro com sorriso bobo e não conseguiu evitar a risada.

Vovô Chuck: Haha! Tão vívido! Eu vou colocá-los para secar. Deve levar umas duas horas para vitrificar.

Depois de uma longa espera, finalmente meu primeiro trabalho manual saiu do forno.

Eu olhei para o copo brilhante e translúcido, tingido de azul claro, e fiquei maravilhada com a beleza.

Mei: Esse será um ótimo presente de desculpas...

 


♕ Parte 13


Quando vovô Chuck e eu saímos da outra dimensão, no momento que pisamos do lado de fora, eu fiquei atordoada.

O que eu estou vendo?

A porta da cabana estava totalmente aberta, e do lado de fora já estava anoitecendo. Um Victor com rosto pálido estava parado na entrada, ofegante.

Seu rosto estava carrancudo, e o crepúsculo lançava uma auréola tranquila sobre seu cabelo curto.

No momento que ele me viu, um olhar de alívio e alegria passou pelo seu rosto, rapidamente substituído por raiva.

Muito mais irritado do que a última vez em seu escritório. Como um gato gigante pronto para me engolir inteira.

Mei: Como você...

Victor: Sua idiota!

Victor cerrou os dentes, rosnando ainda mais do que o gato na xícara.

Eu baixei a cabeça com culpa. Apesar de eu não saber o porque ele estava tão bravo, eu estava com medo.

No segundo seguinte, eu fui envolvida em um abraço bem apertado.



O Victor que era estúpido, ou era eu?

Estranho. Por que eu sinto meu nariz arder?

No peito em que fui pressionada, eu senti um coração bater incrivelmente rápido.

Mei: O que foi? Eu desliguei o modo silencioso dessa vez para não perder sua ligação...

Me ouvindo dizer isso, a mão do Victor relaxou por um momento e então me agarrou com mais força.

Mei: Você ainda está zangado?

Um longo tempo passou antes de eu ouvir sua voz abafada.

Victor: ...Não.

Mei: Eu pensei que você ia continuar bravo desde a última vez que nos falamos...

Victor: Eu sou assim tão impiedoso?

Mei: Não, é só que, daquela vez você estava tão bravo que nem me chamou de tonta.

Victor: ...Tonta.

Okay...agora você me chamou mesmo de tonta...mas dessa vez eu nem fiquei irritada.

Parecia que eu tinha ouvido Victor rir, e então ele me soltou.

Foi só então que eu percebi pequenas gotas de suor em sua testa. Seu rosto parecia insuportavelmente ansioso, mesmo assim era como se um peso tivesse sido tirado.

Uma brisa soprou no anoitecer suave lá fora, e uma luz tênue caiu sobre o rosto de Victor.  

Vendo o rosto dele, eu disse--

Mei: ...Me desculpa.

Victor: Que?

Mei: Eu fui longe demais com o que disse antes. Eu fui muito impulsiva...

Victor: Me desculpa.

As duas simples palavras escaparam da boca do Victor.

Mei: ...O que você disse?

Victor: Eu não deveria ter usado a sua segurança como uma desculpa para te restringir.

Victor: Agora, vou voltar para o meu velho eu.

Meu coração batia que nem louco. Não sabendo o que dizer, eu só fiquei olhando fixamente para ele.

Victor também estava me olhando. Ele não desviou o olhar. Seus olhos sorridentes eram dignos e orgulhosos.

Antes de eu ir embora, vovô Chuck me entregou uma caixa e disse que era um presente para mim.

Eu a peguei e expressei minha gratidão a ele.

Vovô Chuck andou até o Victor, sua expressão se tornou séria.

Vovô Chuck: Jovem amigo, enquanto houver tempo, tudo pode mudar.

Ouvindo as palavras do vovô Chuck, um olhar sério apareceu no rosto do Victor.

Vovô Chuck: Porque tempo é o futuro.

Victor olhou sério para o vovô Chuck, concordou, e saiu da cabana comigo.

Antes de entrar no carro, Victor olhou para trás, para a cabana do vovô Chuck. As árvores ao redor pareciam mais altas do que quando ele chegou.

Victor não viu que uma fenda estreita se abriu acima da cabana. Um vórtice negro brilhou por um momento e depois se fechou com força novamente.

Mei: O que você está olhando?

Victor balançou a cabeça. Ele se virou e entrou no carro.

Mei: Como você encontrou esse lugar?

Victor: Você me diz primeiro, por que veio aqui?

Mei: Nós estamos fazendo uma revisita para o 'Descoberta Milagrosas'. Vovô Chuck foi o primeiro convidado do show.

Victor: Quanto tempo você acha que ficou ali?

Mei: Hmm...umas duas ou três horas?

Victor: Na verdade, foram seis.

Mei: Que? Como pode...?

De repente eu pensei na outra dimensão. Poderia ser esse o motivo?

Mei: Eu...Eu fui para a outra dimensão do vovô Chuck!

Victor: Existem muitos espaços alternativos como esse no mundo. Além das diferenças no fluxo do tempo, algumas das outras dimensões têm ainda mais diferenças.

Mei: Aquilo...era um outro mundo?

Victor não respondeu. Ele inconscientemente franziu a testa.

Victor: Lá, tempo é uma coisa física. Pode ser tocado e pode ser alterado.

Mei: Então quer dizer que...eu posso voltar ao passado?

Victor virou a cabeça e olhou firme para mim, apertando os lábios.

Victor: Não.

Mei: Por que?

Victor: Porque é um espaço-tempo diferente do anterior.

O que isso quer dizer? Eu estava completamente confusa.

Victor: Você realmente quer voltar ao passado?

Mei: Sim...Eu quero descobrir a verdade. Toda a verdade.

Victor me olhou e pisou no freio, parando na beira da estrada. As árvores grossas lançavam uma grande sombra no pára-brisa.

Mei: Eu sei que tem algumas coisas que você não me contou, mas eu realmente quero saber.

Mei: Eu posso não ter nenhum poder, mas eu vou enfrentar corajosamente e tomarei responsabilidade sozinha.

Mei: Antes, eu costumava fugir das coisas. Eu pensei que estar segura era tudo o que importava.

Mei: Mas agora eu entendo que isso não é bom. Fugir nunca resolveu nada.

Mei: Então, serei corajosa.

Victor inclinou a cabeça levemente. Ele pensou por um momento, e então concordou.

Victor: Ótimo.

Um vento frio soprou pela cidade ao cair da noite.

Um corvo voou até o teto do carro, parando por um momento, e então abriu a asas e voou novamente.

O viaduto estava congestionado com carros e o som interminável das sirenes de polícia.

Eu olhei quando o carro da polícia passou por mim.

Parecia que um grande acidente tinha acabado de acontecer.

 


♕ Parte 14 


Depois de ter levado a garota para casa, Victor ligou o carro e se preparou para voltar ao escritório.

Seu telefone tocou. Era um número desconhecido.

Victor atendeu.

Victor: Alô.

A voz clara e calma de um homem soou do outro lado da linha.

??: Olá, Sr. Victor.

Então, a pessoa do outro lado da linha ficou em silêncio. Havia somente o som do motor sendo desligado.

Victor parou e pensou, então virou a chave e acionou o freio de estacionamento.

No momento que a porta do carro se abriu, um par de botas surgiu de trás do carro.

Victor cuidadosamente fechou a porta do carro e olhou para o homem diante dele, de meia-idade vestido casualmente e com rosto sério.

??: Olá. Eu sou o comandante Leto, da Força Tarefa Especial.

O homem estendeu sua mão. Victor, com um olhar de indiferença em seu rosto, não respondeu.

O homem soltou uma risada e colocou as mãos no bolso.

Leto: Sr. Victor, eu vim aqui hoje para fazer um acordo com você.

Victor: Você pegou a pessoa errada.

Leto: Você nem sabe qual é o acordo.

Victor: Não importa o que seja, eu não estou interessado.

Tendo dito isso, Victor se virou para sair.

O rosto do homem não tinha expressão. Seus olhos olharam o carro de polícia que passava correndo.

Leto: O futuro está mudando, com cada uma das escolha que nós fazemos.

Leto: A segurança da pessoa que você quer proteger depende desse futuro.

A mão do Victor parou no ar, e a luz em seus olhos se intensificou.

Então ele se virou e mais uma vez avaliou o homem que chamava a si próprio de comandante.

Leto: Adapte-se a ele ou supere-o. Tudo depende da sua escolha.

Nuvens negras surgiram no céu sobre a cidade. Os dois homens foram envolvidos em um bolsão de baixa pressão atmosférica.

Uma escuridão se refletiu nos olhos do Victor. Ele apertou os lábios, então abriu a porta do carro e saiu dirigindo.

O comandante olhou para a poeira levantada, sua boca se curvou em um sorriso quase imperceptível.

Em algum lugar a mais de mil quilômetros da cidade de Loveland, uma tempestade uivava.

Ventos fortes e violentos levantavam as pedras e balançavam as árvores. Um raio cortou o céu, iluminando duas pessoas presas em um impasse.

O rosto do Gavin estava completamente desprovido de sua antiga calma, e no lugar havia fúria.

A poderosa corrente de ar ao lado dele se condensou em uma lâmina afiada, cortando o homem à sua frente.

O homem olhou para o Gavin e estreitou os olhos levemente.

Então ele riu descontroladamente, e uma expressão arrogante voltou ao seu rosto.

??: Ora, nós finalmente estamos levando isso à sério. Já estava na hora!

Seu olhar se tornou sombrio. Em seus olhos estreitados havia uma zombaria desenfreada e desprezo.

Gavin: Eu te avisei. Ela está fora de questão.

??: Você está me ameaçando?

Gavin: Você não vale a pena.

O homem ergueu uma sobrancelha e desacelerou sua fala de propósito.

??: De qualquer forma, meu objetivo já foi alcançado. Eu não me importo brincar com você mais um pouquinho.

??: Mas eu não sei quanto tempo mais essa garota por quem você está tão obcecado ainda tem para viver.

Isso enfureceu Gavin até a alma. O vendaval começou a se espiralar enquanto a sujeira se espalhava no vento uivante.

Os dois lutaram com uma ferocidade incrível. O homem lentamente estava perdendo espaço.

Então, o céu rugiu, e uma chama branca conectou o céu e a terra. O mundo inteiro brilhou em uma luz branca.

Quando ele conseguiu enxergar de novo, o homem havia desaparecido sem deixar rastros.

Gavin franziu a testa.

As palavras do homem ficavam se repetindo em sua mente.

No dia que a garota foi levada para o hospital, Gavin voltou correndo do seu esquadrão.

Afastando todos ao seu redor, Gavin ficou em silêncio ao lado da cama, olhando para ela por um longo tempo.

Ele se abaixou, pegou suavemente a mão da garota, e a colocou no rosto dele.

Gavin: Eu vou caçar qualquer um que te machucar.

Gavin: Me empresta o seu poder -- e aguarde meu retorno.

O barulho das folhas lá fora parecia lembrá-lo que o tempo estava passando.

Gavin se levantou, olhou para a garota mais uma vez, e então desapareceu na vasta noite.

Agora, Gavin estava entre as ruínas espalhadas, com a mão direita em seu peito.

Ele podia sentir um poder pulsando em seu peito, incontrolável, pronto para explodir por todo seu corpo.

Não era a primeira vez que ele sentia isso. Entretanto, dessa vez era bem mais intenso que antes.

O chão tremeu, o vendaval se transformou em um vórtex negro, e Gavin caiu no centro dele.

A escuridão avançou, prestes a devorá-lo.

 

 

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Traduzido por:  Lu Zhou ~ (周棋洛 Miss Chips)  ʕ •ᴥ•ʔ☆

 


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