quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Mr. Love: Queen's Choice [ARCO 2] ~ Capítulo 12 (Gavin) ~ "Salvação do Vento"

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♦ Capítulo 12 -  Salvação do Vento ♦

(12 partes)


♕ Parte 1


Uma tarde tempestuosa, guarda-chuva em mãos,

Eu ando sozinha na multidão.

Um gatinho encharcado

para ao lado do meu pé.



Parece querer me levar

para alguma terra desconhecida.

Eu o perdi.

Na minha frente apareceu um garoto de cabelo marrom.

Ele está na chuva

encharcado.

Eu levanto meu guarda-chuva e o protejo da chuva.

Ele se vira e me dá um sorriso gentil.




...................


BLACK SWAN.

Eu continuei traçando esse nome estranho em um pedaço de papel. Ao lado, meu caderno estava aberto, cheio de anotações sobre as infinidades de coisas que aconteceram nesse tempo.

Do acidente de carro e ser perseguida no beco, até o tiroteio mais intenso no telhado e o quarto secreto na convenção de hackers, e então o reality show recriando eventos que aconteceram há 17 anos.

Tudo isso parecia voltar ao mesmo nome: O Coletivo Black Swan.

Até agora, minha única impressão sobre essa organização eram aquelas frases enigmáticas do quarto secreto.

Os documentos da investigação do Victor mostraram que o Black Swan era o maior patrocinador da HBS.

17 anos atrás eles já tinham aparecido na cidade de Loveland.

17 anos atrás...foi quando eu apareci no orfanato, e então perdi minha memória.

17 anos atrás, meu pai relatou um incidente de tráfico humano em um orfanato que causou um grande rebuliço.

No incidente, houve dezenas de mortes misteriosas de órfãos, várias pessoas desaparecidas, e algumas crianças que foram resgatadas.

Depois que o relato saiu, as pessoas envolvidas foram todas presas e o orfanato foi abandonado. Mas ninguém soube a verdade sobre o incidente.

Dois anos atrás, a Black Swan mais uma vez se tornou ativa na cidade de Loveland, logo que o meu pai se foi.

Isso tudo não pode ser só coincidência!

Victor disse que ele continuaria investigando, mas eu não posso só ficar sentada esperando.

Eu folheei o caderno do meu pai que ele sempre carregava com ele. 10 anos de anotações. Talvez o que eu estou procurando esteja aqui dentro.

Eu cuidadosamente li cada página, mas infelizmente não havia sinal de nada relacionado com a Black Swan.

Mas eu descobri uma informação que eu não havia percebido antes.

Nas anotações de 17 anos atrás, no meio de um monte de anotações sobre super-poderes, havia um caso que não foi mostrado em nenhum jornal ou buscas online.

Uma família de 4 pessoas desapareceu repentinamente em uma cachoeira na zona norte, sem nenhum traço de luta na cena. A única coisa deixada foi um sedan trancado por dentro e uma câmera quebrada.

A polícia formou uma unidade especial, mas nenhum de seus esforços teve resultados em encontrar o marido, esposa, ou o garoto e a garota. Conforme o tempo passou, se tornou só mais um caso sem solução.

Devido à inacessibilidade de informações na época e ocultação deliberada pela polícia, não houve notícias em lugar nenhum sobre esse incidente descrito no caderno.

Então como meu pai sabia disso? Eu comecei a me arrepiar da cabeça aos pés.

Quer tenha acontecido naquela época ou hoje, algo assim era estranho -- absolutamente assustador.

Depois de algumas páginas em branco, havia um relatório de acompanhamento referente ao Key.

Bem no final do relatório, meu pai escreveu isso: Key concordou em se encontrar comigo, mas agora eu não consigo entrar em contato com ele. É tarde demais.

Kiro havia me contado que o Key tinha se retirado por certas razões. Por que meu pai disse que não conseguia contatá-lo? E por que era tarde demais?

Continuando a leitura, nas anotações de 2 anos atrás, eu descobri que meu pai estava investigando essa família desaparecida novamente.

Um dia antes do acidente de carro, meu pai escreveu isso:

Pai: Se não estou enganado, eles devem estar lá! Eles estão voltando. Eu devo me apressar...

No fim da frase havia a letra "S", com a cauda puxada um pouquinho para cima.

O que isso significa? Eu folheei por todo o caderno e não consegui encontrar isso em mais lugar nenhum.

Esse "Eles" é a Black Swan?

Por que meu pai começou a investigar esse caso de novo há dois anos? Esse acidente de carro dele foi realmente um acidente, ou...estava relacionado com a investigação?

Essa especulação me arrepiou até a alma. Quanto mais eu pensava, mais minha cabeça girava. Eu não conseguia esclarecer nenhuma das pistas aqui dentro.

O toque do meu celular interrompeu meus pensamentos. Era o Gavin. Eu não tinha notícias dele há muito tempo.

Tocou algumas vezes, e então eu atendi. O clima parecia um pouco tenso depois de não termos nos falado por tanto tempo.

Eu abri a boca e então ouvi o Gavin respirar do outro lado da linha.

Gavin e Eu: Você...

Depois de uma pausa, nós dois começamos a falar de novo--

Gavin e Eu: Você vai primeiro...

O som da risada do Gavin veio pelo telefone e então ele limpou a garganta.

Gavin: Mei, você está melhor?

Mei: Sim, me recuperando bem. Praticamente de volta ao normal agora.

Gavin: Oh, isso é bom. Na verdade, eu...

Gavin pareceu ter respirado fundo. Ele também parecia ter um monte de coisas que queria me dizer.

Gavin: Deixa pra lá. Estou feliz por você estar bem.

Mei: Por onde você esteve esses dias? Eu nunca conseguia falar com você. Fiquei preocupada...

Gavin: Eu estava fora em uma missão. Acabou agora. Não precisa se preocupar.        

Sua voz se tornou carinhosa, mas era firme como sempre.

Gavin: Onde você está agora?

Mei: Ainda estou em casa...Certo, eu tenho algumas coisas que quero te perguntar.

Gavin: Que coisas?

Mei: Sobre Black Swan. Lembra que eu mencionei essa organização para você?

Mei: Eu descobri algumas coisas recentemente. Acho que os perigos em que eu estive estão relacionados com essa organização...

Mei: Apesar que, eu não tenho como provar isso.

Mei: O incidente do orfanato há 17 anos, o repentino acidente de carro do meu pai, pode estar tudo ligado com essa organização.

Mei: Agora eu quero mais informações sobre isso. Você pode...me contar o que você sabe?

Gavin: Quem te contou tudo isso?

Mei: Victor...

Gavin ficou em silêncio por um momento e então falou rapidamente de novo.

Gavin: Está bem, eu vou te dizer. Espere por mim. Eu vou te levar a um lugar.

Mei: Hã? Aonde?

Gavin: Um lugar onde eu posso te contar a verdade.

Meu coração estava acelerado. Eu tinha a sensação de que esse era o mais perto que eu já estive da verdade.

 


♕ Parte 2


Eu corri escada a baixo e vi o Gavin já esperando por mim na porta.

Como se ele tivesse sentido, bem quando pisei no último degrau, ele se virou.

Eu não via ele há muito tempo. A luz através das folhas das árvores brincavam fazendo sombras em seu rosto. Ele parecia estar mais magro do que a última vez que nos encontramos.

Ele estava encostado na sua moto, pernas cruzadas, uma mão no bolso e a outra segurando um capacete.

Me vendo parada ali, os olhos de Gavin se estreitaram, suas sobrancelhas se ergueram e ele esboçou um sorriso, como se perguntasse: "Por que você não está vindo"?

Eu andei rapidamente até o Gavin.

Gavin: Não me reconhece?

Isso foi o que ele disse, mas o sorriso nunca saiu de seu rosto.

Eu peguei o capacete da mão dele, um pouco envergonhada.

Mei: N-Não, é só que parece tanto tempo desde que eu te vi...

Eu sorri para o Gavin e ele esticou suas mãos, me ajudando a colocar o capacete.

Ele colocou o capacete dele e subiu na moto.

Eu sentei na garupa e segurei na cintura do Gavin.

Gavin: Segura firme.

A moto disparou. Eu me encostei nas costas do Gavin, o vento batendo em meu rosto e assobiando em meus ouvidos.

De repente eu percebi que ele tinha um novo machucado em seu pescoço.

Talvez Gavin não tenha falado nada porque não queria me deixar preocupada, mas ele deve ter passado por muita coisa recentemente.

Mei: Gavin, você teve problemas recentemente?

Gavin: O que te faz perguntar?

Mei: Porque...hm...você parece mais magro...

Antes de eu terminar, minhas duas mãos sobrepostas foram puxadas para frente pela mão do Gavin.

Gavin: Então me segure mais forte.

Eu estava pressionada com força contra as costas do Gavin. Estava quente, misturada com o cheiro de seu perfume.

Ele dirigia rápido e eu estava um pouco atordoada. Tudo o que eu podia ouvir era o som de seu coração batendo.

Logo nós estávamos fora da cidade, nos subúrbios.

Eu olhei ao redor do local desconhecido, e consegui perceber, pelas placas que havia na estrada, que este era um distrito onde a entrada foi proibida há muito tempo.

Não havia prédios à vista na terra deserta, apenas muros altos e cinzentos, cheios de arame farpado, que diziam para qualquer um que se aproximasse: "Fique Longe".

Dizia que alguma coisa havia feito o nível de radiação nessa área exceder os níveis normais, tornando-a imprópria para habitação. Então ela tinha sido isolada há muito tempo.

Esse é o lugar que Gavin queria me trazer?

Gavin: Mei, feche os olhos.

Gavin parecia não ter intenção de parar, e na verdade foi ainda mais rápido. O muro estava chegando cada vez mais perto. Eu fechei meus olhos com medo e segurei com força no Gavin.

Mas o que eu pensei que fosse acontecer não aconteceu. Eu hesitantemente abri os olhos, e o que eu vi diante de mim tirou todos os pensamentos da minha cabeça.

Um túnel selado, amplo e alto, feito de aço cinza escuro, com uma luz fria irradiando de cima.

Nós dirigimos em uma superfície preta e, em cada arco que passávamos, uma luz azul brilhava ao nosso lado.

Eu parecia sentir inúmeros lasers escaneando meu corpo, um após o outro, até nós sairmos do túnel e chegar em um grande salão branco.

Mei: O que foi aquilo lá atrás...?

Gavin: É o efeito do Evol especial. Isso afeta o modo como o olho humano forma imagens.

Gavin estacionou a moto, tirou o capacete, e fez sinal para eu descer.

Eu observei esse espaço bizarro. Além do choque eu também me sentia curiosa.

Mei: Onde estamos?

Gavin: Base de operações da Força-Tarefa Especial na cidade de Loveland.

Mei: Força-Tarefa Especial?

Isso era totalmente diferente do que eu imaginava. Eu pensei que seria como os militares, mas era completamente o oposto.

O salão todo branco estava completamente vazio, só havia um dispositivo preto que ficava no centro.

Gavin colocou a mão nele e depois de alguns segundos o painel do dispositivo acendeu uma luz verde.

"Identidade confirmada. Bem vindo de volta, Agente B-7." Uma voz fria e mecânica ecoou pela espaço.

Uma rachadura se abriu na parede, alargando-se rapidamente, me revelando tudo o que havia por trás dela.

Um corredor branco prateado se estendia à frente, cada pedaço exatamente igual, brilhando com o aço frio.

Quando fui seguir o Gavin pelo portão, eu me senti apreensiva e hesitei.

Mei: É permitido eu entrar aqui?

Gavin: Não se preocupe. Eu já fiz a solicitação.

O único som no corredor prateado de aço era o eco dos nossos passos. Gavin falou enquanto nós caminhávamos.

Gavin: A Força-Tarefa é nominalmente uma divisão de forças especiais dos militares, mas somos independentes deles e do governo, não estamos subordinados a nenhuma organização.

Gavin: Agora é a hora do treino. Os outros estão fora no campo de treinamento.

Depois do corredor, à esquerda, havia um amplo espaço vazio. Ouvindo gritos altos, estiquei minha cabeça para olhar e descobri que este era realmente um campo de treinamento ao ar livre.

Uma grande cobertura transparente se estendia sobre o terreno gigante.

Infelizmente, eles só estavam fazendo o treinamento físico normal, e não usando Evol como eu estava imaginando.

Todos no campo estavam imersos no treinamento. Somente um jovem oficial, usando o mesmo uniforme do Gavin, me viu e encarou, e então me deu um sorriso.

Ele piscou para mim, então abriu a boca e parecia dizer alguma coisa. Eu queria saber o que era, mas Gavin entrou na minha frente e bloqueou minha visão.

Gavin: Nós podemos ser independentes dos militares, mas o treinamento aqui é de longe mais rigoroso e cruel.

As palavras do Gavin chamaram minha atenção, me fazendo esquecer o pequeno incidente que acabou de acontecer.

Mei: Todos aqui tem super-poderes?

Gavin: Sim, todos aqui são Evolver, chamados de Agentes Evol.

Gavin: O dever principal dos Agentes Evol é investigar crimes de super-poderes e prender super criminosos. Então nós não somos policiais comuns.

Mei: Quando você começou a me proteger, aquilo foi uma missão designada pela Força-Tarefa?

Gavin diminuiu seus passos e me olhou nos olhos.

Gavin: Não exatamente. Eu mesmo pedi.

Ele parou na frente de uma porta grande. Lasers azuis vieram de todas as direções, escaneando o corpo do Gavin.

A luz azul se retraiu, a fechadura girou e a porta começou a se abrir lentamente.

Dentro havia uma parede simples, branca e curva com mais de uma centena de telas emitindo uma luz azul fraca.

Gavin andou até a estação de controle no centro do local e palavras apareceram na tela.

"Teste Base de Flutuação Evol."

A superfície da estação de controle se abriu e dois dispositivos giratórios subiram.

Um feixe vermelho escaneou o corpo do Gavin de cima a baixo, enquanto um gráfico rolava rapidamente pela tela.

Mei: Isso é para detectar Evol?

Gavin: É, para detectar níveis de flutuação Evol.

Depois de 10 segundos, o escaner parou, e os resultados foram mostrados na tela: "Evol Sob Controle".

Gavin: Durante as missões, não podemos cometer nenhum deslize, então nosso Evol precisa ficar dentro do limite.

Eu estava um pouco surpresa. Isso era muito diferente do que eu sabia sobre Evol.

Mei: Você está dizendo que Evol pode ter flutuações?

Gavin: Não só isso, se exceder uma certa quantidade, mutações podem ocorrer.

Mei: Mutações? Eu nunca ouvi falar nisso antes...

Gavin: Na ausência de um motivo especial, essa situação raramente ocorre.

Como se algo tivesse acontecido com ele, Gavin ficou em silêncio por um tempo e mudou de assunto.

Então, o comunicador em sua mão apitou. Ele olhou para baixo e franziu a testa.

Mei: O que é isso? Aconteceu alguma coisa?

Gavin: Está tudo bem. O Comandante quer te ver.

Mei: Comandante?

Gavin: O líder da Força-Tarefa Especial. Você precisa da aprovação dele para entrar na base.

Mei: Mas por que o Comandante precisa me ver?

Gavin: Não tenho certeza.

Gavin balançou a cabeça e gentilmente colocou a mão no meu ombro.

Gavin: Não fique nervosa. Eu vou com você.

 


♕ Parte 3


O escritório do comandante era diferente do estilo high-tech do resto da base. Na sala espaçosa, atrás de uma mesa de madeira escura estava sentado um homem de meia-idade com rosto severo.

Sua expressão era séria, emanando uma fria aura autoritária.

Gavin: Comandante, Agente B-7 retornou.

Gavin deu um passo à frente e o comandante acenou levemente com a cabeça. Eu estava pensando no que ia dizer quando ele virou seu olhar para mim e falou primeiro.

Leto: Olá, Srta. Mei. Talvez você esteja se perguntando o porque eu pedi para você vir.

Mei: ...Tem a ver com a organização Black Swan?

Depois de eu fazer minha suposição, o Comandante parou por um momento e então confirmou.

Leto: A Força-Tarefa sempre atuou como monitor, mas agora é a hora, e nós devemos iniciar uma nova operação.

Leto: E essa operação pode ter algo a ver com você.

Mei: Comigo?

Leto: No esquema todo da Black Swan, você é o elemento mais crucial.

Leto: Não duvide da sua importância, apesar do motivo ainda não ser claro.

Leto: Mas o incidente no orfanato da cidade de Loveland há 17 anos, e as movimentações iniciadas nos últimos meses, todos tem muito a ver com você.

Mei: Mas...eu não estou entendendo nada. Eu nem sei o que eu posso fazer.

Leto: Você não precisa se preocupar muito com isso. Nós te convidamos até a base com a esperança de que você coopere conosco em futuras operações da Força-Tarefa.

Mei: Eu...

Tive a confirmação repentina de que eu estava envolvida em tudo isso, mas ainda não podia dizer o que estava em jogo. Por um momento, eu não soube o que responder.

Leto: Você não precisa me responder imediatamente, mas esse assunto é de grave importância, e eu espero que você considere isso cuidadosamente. Quando já tiver pensado, me ligue nesse número.

Eu concordei e aceitei o cartão que o Comandante me entregou.

Mei: Eu definitivamente pensarei sobre isso.

Leto: Bem, obrigado pela sua compreensão.   

Leto: Eu garanti ao Capitão Gavin o código de acesso aos arquivos confidenciais. Lá deve ter tudo o que você quer saber.

Com isso, o Comandante parou de falar, e eu silenciosamente saí da sala com o Gavin.

Gavin: Você tem certeza que quer ir à sala de arquivos?

Eu olhei para o Gavin, e ele retornou o olhar com preocupação e cuidado.

Mei: Sim, não importa qual seja a verdade, estou preparada.

Gavin: Está bem, eu vou te levar.

"Agente B-7. Autorização Máxima Confirmada."

A porta prateada de metal se dividiu para os lados, abrindo para uma sala espaçosa com tetos arqueados.

A superfície da parede parecia uma única tela brilhando com um brilho prateado. Uma luz azul piscou no alto de forma intermitente.

Essa era a sala dos arquivos secretos da Força-Tarefa Especial.

Gavin colocou sua mão no leitor que ficava no centro da sala, e num instante as palavras BLACK SWAN apareceram na tela a nossa frente.

Gavin: Então...o Coletivo Black Swan, também conhecido como CBS. Aparentemente, é um instituto de pesquisa genética, mas na verdade isso é uma fachada para todos os tipos de experimentos ilegais.

Enquanto Gavin continuava, as imagens na tela mudaram, velhas fotografias e documentos escaneados apareceram na frente dos meus olhos.

Gavin: Em seus primeiros dias, era uma instalação secreta de pesquisa subterrânea criada por um grupo de cientistas e empresários. Após rápido desenvolvimento e reestruturação, tornou-se a organização criminosa internacional que é hoje.

Gavin: De acordo com nossas investigações, o número de membros da Black Swan chega a dezenas de milhares, espalhados por todo o globo, em todos os estilos de vida.

Gavin:  A única coisa que eles tem em comum é que todos eles tem uma certa influência na sociedade.

A imagem mudou, mostrando 12 nomes.

Gavin: Esses são os superiores da Black Swan -- "Os Doze". Eles ocupam cargos de extrema importância na organização.

Gavin: Atualmente, não conseguimos identificar nenhuma informação real sobre "Os Doze".

Gavin: E ninguém nunca viu o líder superior deles. Por 17 anos esse indivíduo nunca mostrou seu rosto.

Gavin debruçou na mesa, o brilho frio lançava luz e sombra sobre seu rosto sério, seus olhos eram precisos e astutos.

Nesse momento, ele não demonstrava nada de sua rebeldia anterior, apenas uma formalidade fria.

Gavin: A pesquisa genética feita pela Black Swan foi para a ativação, implantação e recriação do gene Evol. Em outras palavras, transformar pessoas normais em Evolvers.

Eu não pude deixar de pensar naquela cientista britânico que Lucien me contou uma vez, o que foi banido permanentemente da Organização Mundial Genética. Por que alguém faria esse tipo de experimento?

Mei: ...Evolvers podem ser modificados?

Gavin: Há 17 anos, eles modificaram um Evolver com sucesso. Mas depois ninguém soube o que aconteceu com ele.

Eu comecei a me arrepiar. Um Evolver modificado...Que tipo de ser seria isso?

Gavin: Entretanto, apesar da Black Swan se envolver em pesquisas ilegais, devido às suas fortes capacidades de contra-inteligência e às enormes forças à sua disposição, é difícil para nós encontrar qualquer evidência útil.

Gavin: Também é por isso que estamos rastreando eles por tanto tempo.

Mei: Então qual é o objetivo deles ao fazer tudo isso?

Gavin: Evolução humana? Evolvers dominando a humanidade? Ou mais terrível, destruição mundial? Por enquanto, nós não fazemos idéia.

Ouvindo essas palavras da boca do Gavin, meu coração paralisou no meu peito.

Gavin: Você é o elemento mais crucial relacionado ao objetivo supremo deles, levando-os a iniciar uma série de eventos.

Mei: O elemento mais crucial...O que isso significa?

Gavin apertou seus lábios e não respondeu.

Depois de me olhar por um longo tempo, Gavin desviou o olhar.

Gavin: ...No momento, nós ainda não temos certeza.

Gavin: Lembra aquela bala que eu bloqueei? E a bala no telhado? Ambas são da Black Swan.

Gavin: Especialmente construída, mas não letal. Nós detectamos resíduos de uma poção especial dentro dela.

Gavin: Os técnicos do laboratório acabaram de confirmar que é um tipo de alucinógeno. Nós ainda estamos conduzindo mais testes no restante.

Toda frase que saia dos lábios do Gavin me fazia ter calafrios por toda a espinha.

Se essa bala tivesse entrado no meu corpo...Eu não quero nem imaginar...

Uma mão quentinha envolveu a minha mão fria. Eu ergui a cabeça. Gavin estava ao meu lado, com um olhar sincero em seu rosto.

Gavin: Estou aqui. Você não precisa ter medo.

Seu olhar me dizia que eu podia confiar em sua palavra.

E eu confiava nele também.

 


♕ Parte 4


BLACK SWAN --

A misteriosa organização clandestina é como um vórtex sem fundo. Quanto mais eu aprendia mais infinito parecia.

Gavin e eu saímos da sala de arquivos e fomos até o laboratório para ver os últimos resultados do teste daquelas balas.

No caminho todo até lá, eu estava tentando assimilar toda a informação que eu havia acabado de receber, e suas ligações com as pistas no caderno do meu pai.

Alguma coisa em mim era crucial para a Black Swan. Mas o que?

Por que essa organização quer modificar Evolvers? E o que isso tem a ver comigo?

Gavin: Por aqui.

Gavin me puxou quando eu comecei a ir para a direção errada pela terceira vez. Ele parou e olhou para mim.

Gavin: O que foi?

Mei: Eu não sei, eu estou um pouco confusa...

Eu olhei para o Gavin com um olhar perdido e assustada, desejando que eu pudesse ter as respostas através dele.

Mei: Se tem alguma coisa em mim que a Black Swan quer, por que eles simplesmente não vem até mim diretamente?

Mei: Por que passar por todo esse trabalho com o quarto secreto e o set recriado?

Mei: Exatamente o que eles querem fazer?

A mão grande do Gavin parou sobre a minha cabeça, e o calor dela me ajudou a me acalmar um pouco.

Gavin: Talvez a coisa que eles estejam procurando é algo que o seu eu-presente não tem.

Mei: Meu eu-presente? Então o objetivo deles tem a ver com 17 anos atrás...?

Gavin: Antes de chegar à uma conclusão final, isso tudo é só suposição.

Mei: Estou preocupada...

Gavin: Não tenha medo. Estou aqui.

Gavin: Eu vou te atualizar sobre os resultados da investigação. Eu vou te contar a verdade. Eu não vou esconder nada de você.

Gavin: Você só precisa se proteger. Deixa o resto comigo.

Mei: E o que você vai estar fazendo?

Gavin: Indo atrás da verdade e protegendo você.

Vendo o olhar decidido em seus olhos, meu coração lentamente se aquietou. Aquelas conspirações sombrias que pareciam se espreitar em todo canto, de repente perderam o seu terror.

Mei: Certo. Eu confio em você.

Eu sorri para o Gavin e ele suspirou.

De repente, percebi que a franja do Gavin tinha uma mecha rebelde que estava para cima.

Depois de olhar por um tempo, eu distraidamente estiquei minha mão para abaixar a mecha de volta no lugar.

As orelhas do Gavin ficaram um pouco vermelhas, e ele olhou discretamente para cima.

Nesse momento, um Agente Evol veio correndo apressado em nossa direção.

Eu rapidamente afastei minha mão e virei o rosto.

Gavin: *Cough*...

Os olhos afiados do Gavin escanearam o Agente Evol.

Oficial: Senhor, o humor do prisioneiro na sala de interrogatório está extremamente instável. Você precisa ir até lá!

Ouvindo essa notícia, Gavin olhou para mim e concordou.

Gavin: Eu estarei lá em um minuto.

Então, Gavin me levou para uma sala de recepção vazia, me disse para esperar por ele ali e saiu apressado.

Alguns minutos depois que ele saiu, houve uma batidinha na porta.

Quem poderia estar procurando por mim a essa hora e nesse lugar?

Eu abri a porta curiosa e vi um homem jovem sorrindo para mim. Eu olhei para ele e me lembrei que foi ele quem me viu quando entrei na base.

??: Olá! Você é a Mei, certo?

Eli: Eu sou o companheiro de esquadrão do Gavin, Capitão Eli. Você pode me chamar só de Eli! Eu e Gavin nos alistamos juntos.

A repentina familiaridade e entusiasmo dessa pessoa me pegou desprevenida. Por um momento eu não soube como reagir.

Eli: O Gavin não está aqui? Dizem que ele trouxe uma garota para cá. Todos estão bem curiosos.

Ele riu enquanto falava, me olhando como se já soubesse.

Mei: Mas...depois que entramos na base, pouquíssimas pessoas me viram...

Eli: Bem...talvez seja porque você não percebeu! Haha...

Ele coçou a cabeça e rapidamente mudou de assunto.

Eli: Depois dessa última missão, Gavin desapareceu sem deixar rastro. Ele deve ter ido te ver, certo?

Mei: Hã? Gavin só veio me ver hoje.

Eli: Ele teve tantos ferimentos, eu pensei...

Ouvindo Eli dizer aquilo, meu coração quase parou. Eu rapidamente pedi para ele explicar.

Mei: Ele teve muitos ferimentos?

Eli: Você não sabia? Eu pensei que tivesse visto.

Mei: Não, eu não...Você pode me contar?

Eli: Eu não sei muitos detalhes. Aconteceu do nada. Nós ainda estávamos em missão, e ele foi embora de repente.

Eli: Conhecendo ele todos esses anos, eu nunca o vi tão furioso. Nem durante aquela missão do inferno anos atrás.

Eli: Há duas semanas atrás, ele finalmente voltou, mas ele não estava com o esquadrão. Ele estava tão acabado que eu nem tive coragem de perguntar.

Há duas semanas...Não foi o período que eu estava no hospital? A imagem da cicatriz em seu pescoço que eu vi essa manhã apareceu na minha mente.

Ele me disse que a missão havia terminado e que eu não precisava me preocupar. E eu realmente não me preocupei.

Mas como eu ia adivinhar que ele estava me dizendo isso coberto de ferimentos?

O que foi que aconteceu com o Gavin na última metade do mês?

Eli: De qualquer forma, não se preocupe muito. Gavin pode ser caladão, mas eu posso ver que ele está tranquilo agora.

Mei: Ele não era assim antes, quando ele estava com o esquadrão?

Eli balançou a cabeça em negação. Ele abriu seu celular e me mostrou uma foto.

Eli: Ele era sempre assim antes.

O rosto do Gavin na foto era um pouco imaturo. Vestindo seu uniforme militar, mesmo ele estando batendo continência, ainda havia um olhar inconfundível de indiferença e indisciplina.

Mei: Quando essa foto foi tirada?

Eli: Esse era nosso segundo ano na academia, ao voltarmos da missão do inferno. Gavin foi promovido a Capitão do esquadrão nessa época, mesmo ele não querendo.

Mei: Missão do inferno?

Eli: Oh, essa é uma tradição da academia. Todos do segundo ano vão para uma missão de sobrevivência. Gavin e eu fomos parceiros na mesma unidade.

Eli: Nossa missão foi apreender um terrorista com um super-poder. Suas habilidades anti-reconhecimento e a maneira como ele lidava com seus crimes eram particularmente cruéis.

Eli: Nós passamos o mês todo indo atrás dele.

Eli: Nós saímos em mais de 50 pessoas, e somente Gavin e eu voltamos.  Se ele não estivesse lá por mim no momento certo, eu provavelmente teria morrido também.

Ao falar sobre esse evento comovente do passado, um olhar de tristeza e perda passou pelo rosto do Eli.

Ouvindo ele falar, eu podia imaginar como Gavin deve ter sido, cheio de bravura, erguendo sua cabeça com orgulho enquanto corria em uma saraivada de tiros.

Eli: Mais tarde eu soube que esse camarada quase morreu lá também.

Eli: O criminoso deve ter descoberto de alguma forma a fraqueza do Gavin e armou um grande incêndio para ele, mas felizmente Gavin conseguiu sobreviver.

Mei: Gavin...tem medo do fogo?

Eli: Hm...não exatamente. É só que, devido a certos motivos, casos relacionados ao fogo normalmente não são enviados para ele.

Eu estava um pouco chocada. Aos meus olhos, Gavin nunca tinha medo de nada. Ele dificilmente fala sobre esses incidentes do passado comigo.

Uma área enorme com fogo...Eu não sei porque, mas eu tive uma leve sensação de mal-estar.

 


♕ Parte 5


Então bateram na porta. Um Agente entrou e falou com o Eli em voz baixa.

Eli: Gavin ainda está no interrogatório?

Oficial: Sim, mas o prisioneiro ainda não quer entregar nada...

Eli olhou para mim e lentamente abriu a boca para falar.

Eli: Srta. Mei, eu sei que o Gavin não quer te envolver nisso, mas é por esse motivo que eu quis te ver hoje.

Eli, que até agora era todo sorrisos, de repente ficou sério. Eu concordei em resposta, de forma séria também.

Eli: Esse prisioneiro que estamos interrogando se chama Jay. Você deve se lembrar dele, foi ele quem te sequestrou naquele telhado.

Eli: Ele está sendo bem difícil. Exceto ter admitido seu crime, ele não diz uma palavra. Mas seu único contato na Black Swan é uma figura chave na investigação.

Eli: Eu acho que você será um ponto decisivo no caso, e eu gostaria que você colaborasse, mas não irei te forçar a participar do interrogatório.

Eu nunca pensei que seria questionada sobre isso tão de repente. Eu pensei por um momento e então concordei.

Isso não é só para ajudar a Força-Tarefa. Pode ser também um trampolim para  eu encontrar a verdade.

Na porta da sala de interrogatório eu respirei fundo e então segui o Eli para dentro.

A grande sala era separada em um espaço interno e outro externo por uma partição de vidro temperado.

O oficial de interrogatório, com uma pilha de fotos em mãos, estava tentando persuadir o prisioneiro. Gavin estava parado ali, carrancudo, e nem percebeu a nossa chegada.

E oposto a eles, do outro lado do vidro, havia um homem sem expressão, algemado, com a cabeça baixa em silêncio.

Interrogador: Por que você fez isso?

Jay: ...

Gavin: Se a vítima morrer, sua irmã pode voltar? Explique isso.

Jay levantou a cabeça e olhou para o Gavin. Seus olhos eram desprovidos de luz, totalmente escuros.

Jay: Significa exatamente o que diz.

Interrogador: Quem te disse isso?

Jay: Ninguém.

Eles estavam em um impasse. Eu olhei nervosamente para o Gavin e ouvi Eli suspirar.

Eli: O interrogatório para aqui toda vez. Ele se recusa a colaborar por mais tempo.

A expressão do Gavin ainda mostrava esperança. Ele olhou para o prisioneiro e riu.

Gavin: Nós encontramos a sua irmã.

Jay: Isso não é possível!

Jay levantou a cabeça com rapidez. Gavin não disse nada, só olhou para ele.

Jay: Não é possível...ela desapareceu no distrito norte. Ninguém conseguiu encontrá-la...

Gavin: Onde no distrito norte?

Gavin segurou na mesa com as duas mãos. O prisioneiro balançou a cabeça, se calou e olhou para o Gavin com olhar de extremo desafio.

O distrito norte? Eu pensei sobre o incidente das pessoas desaparecidas que eu li hoje de manhã. A cachoeira era no distrito norte!

Eu senti um choque e instintivamente dei um passo à frente. Quando fiz isso, eu entrei na linha de visão do Jay.

No instante que ele me viu, ele ficou agitado e começou a se debater. Se ele não estivesse algemado na cadeira, ele provavelmente teria corrido bem na minha direção.

Jay: Por que você ainda está viva? Você claramente foi...

Um olhar de incredulidade e raiva brilhou em seus olhos, e depois um profundo desespero.

Jay: Por que...?

Gavin: Ainda não entendeu? Você só foi usado.

Gavin andou na minha direção e parou na minha frente, seu rosto paralisado.

Gavin: O que você está fazendo aqui?

Gavin olhou para o Eli, que estava fingindo não saber de nada. A voz dele era baixa quando me perguntou e soava bem descontente.

Jay: Por que você não morre?! Você deveria ter morrido...Você deveria estar morta!

Ele estava ofegante e suas palavras eram cheias de veneno e ódio.

Gavin conteve sua raiva e soltou uma risada leve.

Gavin: Você sabe por que a vítima não morreu?

Gavin: Porque aquela bala não era letal. O objetivo deles não era matar a vítima.

Gavin: Você foi usado. Sua irmã Josie nunca vai voltar.

O prisioneiro de repente afastou o olhar, e ele continuou balançando a cabeça em pânico.

Gavin: Mesmo agora você não quer aceitar isso? Suas vidas foram jogadas fora por escolha própria.

Jay: O que você sabe?! Ela era minha irmã! A única família que eu tinha!

Jay: No instante que ela desapareceu, minha vida já foi destruída!

A voz histérica dele preenchia a sala de interrogatório. Seus olhos ficaram vermelhos e todo seu corpo começou a tremer.

Gavin: Crime é crime! Nenhuma desculpa é o suficiente para deixar isso bonito.

Gavin: A vida de ninguém pode ser destruída tão facilmente.

Gavin: Um monte de pessoas nesse mundo, se colocadas na mesma condição, ou pior, nunca se tornariam criminosas.

Eu olhei atordoada para o Gavin. Seu rosto decidido estava brilhando como nunca antes, mesmo debaixo das luzes fluorescentes da sala.

Ele falou com um poder bruto e uma força chocante. Era como se eu pudesse ouvir o poder em sua medula e um coração inextinguível de inocência infantil.

Era o poder do destino e da fé, uma grande clareza e responsabilidade em relação a questões de vida e morte.

O ex-jovem petulante que conheci, e o homem sombrio e decidido descrito por Eli, ainda hoje carregam dentro de si aquele impulso e certeza do início

Jay: Heh...você tem algum arrependimento?

Gavin: Nenhum.

Jay: Eu também... Eu nunca fiz nada de que me arrependo!

Ele olhou para mim, com um olhar lamentável. Assim como ele disse, sem arrependimentos, apenas relutância e desespero.

De repente, o corpo todo dele teve um espasmo, e seu rosto ficou terrivelmente pálido. Seus olhos opacos de repente acenderam com uma luz.

Jay: Vocês todos querem a verdade. Tudo o que eu queria era que ela vivesse.

Jay abriu a boca, e ela se entortou para cima em um sorriso anormal. Gavin ficou tenso em choque. Ele estava prestes a dizer alguma coisa, mas aquele sorriso estranho congelou no rosto do prisioneiro.

No instante seguinte, as pupilas dele rapidamente se romperam e seu corpo todo caiu para trás, drenado de força.

Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, duas mãos grandes cobriram meus olhos.

No segundo seguinte, eu fui firmemente carregada por alguma força para as costas do Gavin.

Eu fui selada nesse mundinho seguro. Meu pulso, que estava envolto com força pela mão dele, começou a suar.

Gavin: Não olhe.

Eu fechei meus olhos e me pressionei contra as costas quentinhas do Gavin. A batida do coração dele, firme e forte, dispersava meu medo.

Gavin: Não há nada para ter medo.

Enquanto Gavin acalmava a garota, ele fez sinal para os outros tomarem conta da situação.

Eli correu e pegou o prisioneiro, o deitou em seu braço, e rapidamente colocou dois dedos em seu pescoço.

Então ele olhou para o Gavin e balançou a cabeça em negação.

Gavin ficou sem palavras olhando para o prisioneiro que havia morrido tão de repente. Ele franziu a testa.

Um sangue bem vermelho saía dos olhos, do nariz e da boca do prisioneiro, escorrendo pelo chão onde se agrupava formando uma massa escura como um desabrochar assustador.

 


♕ Parte 6


Quando saí da sala de interrogatório, eu ainda estava tremendo incontrolavelmente. Gavin tirou a mão dele do meu olho mas continuou segurando minha mão.

Seu rosto estava ainda mais imponente e severo do que na sala. Eu queria afastar minha mão, mas ela foi segurada no lugar por uma grande força.

Os oficiais no corredor foram saindo um a um de forma ordenada.

Gavin: Eu vou te levar para casa agora mesmo. Até lá, não saia do meu lado.

Mei: O que acabou de acontecer ali? Aquela pessoa...

Pensando naquela cena bizarra que acabou de acontecer, meu corpo todo congelou. Eu olhei para o Gavin, querendo uma resposta exata.

Gavin ficou em silêncio, uma névoa impenetrável preenchia seus olhos.

Gavin: ...Ele morreu.

Meu corpo todo tremeu, e eu inconscientemente apertei a mão do Gavin, esperando obter algum calor.

Mei: Como?

Gavin: Eu não sei. Para uma causa específica, nós teremos que esperar a autópsia.

Gavin desviou o olhar, não querendo dizer mais nada.

Gavin: Eu vou investigar, mas você tem que me prometer que não vai ficar pensando nisso. Apenas espere eu obter as respostas.

Mei: Está bem.

A boca do Gavin rapidamente se curvou em um sorriso, mas sua testa continuou fortemente franzida.

Mei: A irmã que o prisioneiro acabou de mencionar--

Antes que eu pudesse terminar, um enorme som estridente           veio do fim do corredor. O espaço todo pareceu tremer.

Mei: O que é isso?

Foi seguido por vários outros estrondos e as pessoas começaram a gritar. O barulho de metal e vidros quebrando me deixaram em pânico.

Gavin não respondeu, ele andou rapidamente até a esquina do corredor, eu fui junto com ele.

O grande salão estava cheio de pessoas, desordem em toda parte. Um oficial alto estava no centro.

Os olhos dele estavam cheios de sangue, seu peito arfava violentamente enquanto ele estava ofegante. Havia alguma coisa muito errada com ele.

Os oficiais ao redor dele observavam nervosos. Qualquer um que se aproximasse para conter ele era jogado longe pela sua mão robusta.

Gavin: O que é isso?

Oficial: Gavin! Ele é um Evolver do tipo-energia, recém ingressado. Eu não sei o que causou isso! De repente ele ficou desse jeito!

Enquanto ele falava, o oficial furioso soltou um rugido e arrancou uma mesa redonda gigante que estava fixada no chão, a erguendo bem alto e jogando na multidão.

Gavin: Afastem-se!

Um ciclone se levantou, envolvendo a mesa que estava prestes a cair na multidão e a jogando de lado, onde caiu fazendo um barulho alto.

Oficial: Aaaahh--

Depois de soltar outro grito, os músculos do oficial incharam de repente, escorrendo finas gotas de sangue dos tendões rasgados que pingavam por todo o chão.

Todos se moveram com extremo cuidado e sob as orientações do Gavin eles se afastaram e rodearam o oficial enfurecido, observando atentamente cada movimento dele.

*Boom!*

De repente, as luzes acima começaram a estourar. Enquanto eu estava em pânico, eu vi uma figura toda ensangüentada correndo na minha direção--

Antes que eu tivesse tempo de reagir, eu fui puxada para trás por alguma força e uma jaqueta cobriu minha cabeça.

Tudo ficou escuro. Eu podia ouvir a voz do Gavin, parecendo anormalmente no limite.

Gavin: Fica aí! Não se mexa!

Eu não ousei tirar a jaqueta e me encolhi contra a parede, ficando lá assim como Gavin tinha dito.

Eu podia ouvir sons de uma luta violenta, vento uivando, vidro quebrando, gritos de dor...

Gavin: Unngghh--

Mei: Gavin!

Meu coração pulava incontrolavelmente e eu tirei a jaqueta e olhei para a cena.

Eu vi o Gavin com a mão em seu peito por um momento e ele rapidamente ergueu a mão novamente.

Quando ele ergueu a mão, ele segurou com força o pescoço do oficial e o submeteu ao chão, então o algemou com um movimento rápido.

Ele olhou para cima e me viu, seus olhos eram brilhantes e ferozes. Então ele murmurou as palavras "estou bem" para mim.

Meu coração finalmente voltou para o peito.

As luzes restantes no teto piscaram. Havia dezenas de oficiais entre nós, mas parecia que nós éramos os únicos ali.

Mesmo estando completamente contido, o oficial raivoso não parou de se debater.

Gavin segurou ele para baixo com mais força e com uma expressão pesada ele entregou o oficial para um esquadrão de Agentes Evol que chegou correndo.

Ele deu algumas ordens para eles e então veio até mim.

Gavin: Como você está? Com medo?

Eu saí do meu transe e rapidamente balancei a cabeça negando.

Mei: Você está bem? Aquele cara... o que aconteceu com ele?

Gavin franziu a testa.

Gavin: Eu te disse antes sobre flutuação Evol e mutação. Ele chegou no limite e perdeu o controle.

Mei: Mas vocês não passam pelo teste de flutuação todos os dias? Esse é algum tipo de acidente?

Gavin não respondeu. Ele franziu mais ainda a testa.

 


♕ Parte 7


Então, o Comandante chegou. Depois de rapidamente examinar a cena e conferir tudo, ele se aproximou.

Leto: Qual é a situação?

Gavin: Sob controle. Confirmação inicial é que uma anormalidade na flutuação Evol causou uma perda de controle. Causa específica é desconhecida.

Leto: Vou notificar a equipe de inteligência para fazer um acompanhamento. Vocês dois vem comigo.

Sua expressão era grave, e Gavin e eu seguimos atrás dele.

Leto: O relatório de autópsia ainda não saiu, mas uma nano-bomba secreta com veneno foi encontrada na artéria carótida do prisioneiro, programada para se ativar assim que ele falasse a palavra chave.

Leto: A equipe de inteligência recuperou a bomba e encontrou esse símbolo nela.

O Comandante ligou um projetor na pequena sala de conferência mostrando um símbolo ampliado.

Estava distorcido, mas ainda dava para ver que era um "S" com a cauda puxada um pouquinho para cima.

Leto: Baseado em informações de nossos espiões, nós podemos afirmar com certeza que esse é o totem da Black Swan.

Meu sangue congelou em minhas veias. O totem da Black Swan era exatamente igual ao que eu vi no caderno do meu pai!

Gavin: Mei, o que foi?

Mei: Eu vi esse totem! No caderno do meu pai!

Mei: 17 anos atrás, quando ele estava investigando o desaparecimento de uma família de 4 pessoas na cachoeira do distrito norte, ele desenhou esse símbolo.

Leto: Mais alguém sabe sobre esse assunto?

Mei: Não.

A expressão do Comandante ficou mais pesada. Ele olhou para o símbolo na tela e então falou.

Leto: Desde o estabelecimento da Força-Tarefa Especial, há somente uma coisa que eu nunca mencionei.

Ele digitou uma senha e um documento em preto-e-branco apareceu na tela.

Leto: 17 anos atrás, na cachoeira do distrito norte, uma família de 4 pessoas desapareceu. Nós também enviamos pessoas para investigar, mas nenhum deles nunca voltou...

Ele parou por um momento e então continuou a falar devagar e deliberadamente.

Leto: Todos eles desapareceram.

Leto: E todos que sabiam sobre esse caso, exceto por mim, ou morreram ou desapareceram há 17 anos.

Ao olhar nos olhos do Comandante e ver uma raiva encoberta, eu congelei. A verdade estava muito acima da minha imaginação. Por que meu pai foi investigar esse tipo de coisa?

Leto: Claro que não ficamos de mãos vazias. Nós investigamos essa cachoeira. O investigador líder na época propôs uma hipótese.

Leto: Nós chamamos de 'Cabine Preta'. É um espaço que existe independente do nosso mundo.

Leto: É a fronteira entre todos os espaços. Você pode pensar nela como se fosse um corredor, dois finais conectando espaços em diferentes dimensões.

Leto: Nesse espaço da Cabine Preta o tempo não corre. Se ficar preso nela, a pessoa estará perdida para sempre em uma dimensão desordenada.

Uma velha fotografia embaçada apareceu na tela. Mostrava um marido e mulher segurando suas duas crianças, seus rostos brilhando de felicidade.

Leto: Eu olhei para o relatório do caso na época e descobri que o nome dessas duas crianças eram Jay e Josie.

Josie, irmã do Jay, era uma estudante na Loveland High School.

Uma foto da Josie apareceu no fim da tela: uma garota fofa, pequena e normal.

Eu olhei para as duas fotos e rapidamente percebi o que estava errado.

Mei: A garota da primeira foto parece ter uns 6 ou 7 anos, mas nos dias atuais Josie ainda é só uma estudante colegial!

Leto: Talvez uma coincidência. Mas talvez eles entraram naquele espaço. Quanto ao porque eles não mudaram seus nomes, nós também não sabemos.

Leto: Mas esse caso agora parece ter um peso significativo  no incidente da cachoeira há 17 anos.

Leto: Se tudo isso estiver conectado com a Black Swan, então essa Josie é de extrema importância.

Eu inconscientemente fechei os punhos. Mesmo na sala espaçosa, eu me senti inexplicavelmente oprimida.

Leto: De acordo com nosso pessoal à campo, Josie apareceu inúmeras vezes na recepção do Hotel Greenwood, no sul da cidade.

Gavin: Comandante, deixe essa missão comigo!

Mei: Eu também posso...?

Gavin: Estou te levando para casa.

Gavin falou decidido, não deixando nenhum espaço para que eu pudesse argumentar.

Por causa da Força-Tarefa estar ocupada com o incidente recente, ninguém percebeu que na tela de detecção no portão, a seção do Gavin começou a piscar em vermelho.

Depois de ter me trazido em casa, Gavin olhou para o céu noturno sem lua e sem estrelas, com uma expressão sombria.

Gavin: Fica em casa, okay? Não vá para fora.

No passado ele sempre dizia para eu não sair "desnecessariamente", mas dessa vez ele proibiu totalmente.

Pensando em tudo o que nós passamos hoje, e n     aquela pessoa que de repente morreu na minha frente, eu concordei.

Mei: Está bem...Mas é melhor você tomar cuidado.

Gavin: Eu vou. Eu te prometo.

Ele pegou minha mão e o bracelete de ginkgo no meu pulso repousou na mão dele.

Seus olhos eram carinhosos, com um toque de sorriso.

Mei: Que?

Gavin: Lembre-se de ficar com ele. Dessa maneira eu posso correr até você sempre que precisar de mim.

Ele suavemente passou os dedos na folha de ginkgo e quando ele afastou a mão, eu vi uma cicatriz fina no pulso dele que ainda não tinha sarado.

Mei: ...Você pode deixar eu ver seu pulso por um segundo?

Gavin: Que?

Mei: Eu só quero dar uma olhada. Eu ouvi do Eli que você foi seriamente ferido...

Gavin: Se machucar em missões é normal. Você não precisa se preocupar comigo.

Mei: Mas eu realmente estou preocupada. Deixa eu ver.

Gavin suspirou conformado, mas estendeu o pulso para que eu pudesse olhar.

Eu lentamente rolei a manga dele para cima e me surpreendi.

Uma cicatriz vermelha percorria todo o seu antebraço. O ferimento não estava grande, mas não era tão difícil imaginar o quanto deve ter sido sério.

Examinando a mão do Gavin de perto pela primeira vez, eu só agora percebi que ela era cheia de cicatrizes.

Algumas estavam quase curadas, deixando apenas marcas leves, mas outras pareciam recentes. A pele entre seu indicador e seu polegar também estava calejada por carregar a arma frequentemente.

Eu pensei no que Eli me disse sobre o passado do Gavin. Aqueles momentos entre a vida e a morte estavam todos enterrados nessas cicatrizes agora.

Eu levantei a cabeça e olhei em seus olhos. Meu coração estava prestes a transbordar de preocupação e inquietação.

Mei: Você prometeu que tomaria cuidado. Que não se machucaria de novo.

Gavin: Eu prometo. Você não tem que se preocupar comigo.

Olhando enquanto Gavin ia embora, aquele sentimento de inquietação no meu coração só aumentou.

O bracelete de ginkgo no meu pulso brilhou com uma luz delicada. Eu rezei para que a missão do Gavin fosse tranquila.

 


♕ Parte 8


Por eu ter passado por tanta coisa hoje, eu comecei a ficar sonolenta enquanto folheava as páginas do caderno do meu pai.

O vento fresco da noite soprou. Lentamente tudo foi ficando branco e meus olhos se fecharam.

Quando abri meus olhos novamente já era no dia seguinte.

Eu me levantei da mesa sonolenta. O caderno, que eu dormi em cima a noite toda, estava bem amassado.

Eu massageei minha cabeça e olhei para o relógio na parede. Já era meio-dia.

Eu realmente dormi por muito tempo...Eu me pergunto como o Gavin está...

Eu liguei para ele, mas não tive resposta. Aquela inquietação no meu coração apareceu de novo.

Uma brisa soprou pela janela, balançando as páginas do caderno.

Um recorte de jornal no caderno, onde se lia "Grande Incêndio", chamou minha atenção.

Era de anos atrás. A data estava borrada e apenas as palavras podiam ser entendidas.

Era sobre um grande incêndio que aconteceu na cidade de Loveland anos atrás. Muitos feridos. Um morto.

De repente me lembrei de ter aprendido na Força-Tarefa, o fato do Gavin ter medo do fogo.

Eu queria tentar descobrir a data, mas quando coloquei a mão nela, uma dor intensa me atingiu.

Um enorme som estridente explodiu na minha cabeça, como uma serra elétrica e uma chama ao mesmo tempo, dividindo meu cérebro ao meio. Eu fechei os olhos com força.

Quando minha visão embaçou,  eu vi na minha mente chamas intensas que subiam até o céu.

Eu vi uma pessoa, sua jaqueta pegando fogo. Suas costas estavam curvadas debaixo de uma pesada estrutura de madeira.





Eu reconheci ele.

Mei: Gavin!

Seu rosto estava em agonia, olhos bem fechados. Não importa o quanto eu gritava, ele não me ouvia.

As chamas que subiam borraram seu contorno e então o devorou...

Eu estiquei meu braço, mas a cena diante de mim se dissipou como fumaça.

Somente a visão do Gavin caído no meio daquele incêndio enorme foi gravada profundamente na minha mente.

O que foi aquilo? Minha mente acelerou enquanto eu pensava no que tinha acabado de acontecer. Por que cenas que eu nunca vi antes apareceram na minha mente?

Eu tentei usar a ponta do meu dedo para tocar o recorte e a dor mais uma vez voltou, o vermelho e sombras apareceram de novo na minha mente.

Poderia ser que...eu estou prevendo o futuro? O futuro do Gavin?!

Sem me preocupar com a dor, eu estiquei a mão de novo e toquei o recorte. Eu precisava confirmar se era realmente ele!

Gavin estava completamente cercado pelas chamas. Ele já não tinha mais um olhar de dor em seu rosto. Mas agora parecia que ele estava dormindo para sempre!

A cena diante de mim continuou mudando e tremulando.

No quarto totalmente tomado pelas chamas, um relógio digital com as palavras "Hotel Greenwood" caiu no carpete. A data e hora mostrada era hoje, 15h.

Gravado na placa de metal da porta estava o número 404...

Eu abri os olhos de repente, meu corpo todo suava frio.

Hotel Greenwood...esse é o lugar que o Comandante nos disse, onde a Josie havia aparecido!

Eu me virei e olhei para o relógio na parede: 14:15h

Aquela corda que apertava tão forte meu coração de repente arrebentou.

"Desculpe, o número que você ligou não está disponível..." Tudo o que eu pude fazer foi deixar uma mensagem para o Gavin.

Eu me apressei enquanto mandava a mensagem de texto para o Gavin, dizendo para ele não ir ao hotel. Contanto que ele não fosse ao quarto 404 antes das 15h, minha visão não iria acontecer.

Um agente da Força-Tarefa me disse que Gavin não havia voltado e que ele devia ter ido direto ao hotel. Depois de pensar por alguns segundos, eu corri para fora.

Mesmo que Gavin tenha dito para eu não sair, mesmo que eu tivesse que enfrentar mais perigos, eu não podia simplesmente ficar sentada sem fazer nada enquanto Gavin corria risco.

Da minha casa até o Hotel Greenwood dava 30 minutos de carro, mas Gavin conseguiria fazer só em 5 minutos, então eu tinha que correr!

Comigo apressando o motorista durante todo o caminho, finalmente ele parou na frente do hotel. Eu olhei para cima e não vi nenhum sinal de incêndio do lado de fora.

Mei: Oi, você pode me dizer se alguém está ficando no quarto 404 hoje?

Recepcionista: Desculpe, nosso hotel não tem um quarto 404.

Mei: Então você pode me dizer em que quarto a Srta. Josie está ficando? Eu sou uma repórter do Noticiário da Cidade com informações urgentes para ela.

Eu peguei minha credencial e entreguei para a recepcionista. Ela pegou meio desconfiada.

Recepcionista: Desculpa, essa é uma informação particular. Somente um passe de imprensa não é o suficiente. Você teria que ter um mandato judicial.

Mei: Então me dê um quarto no quarto andar. Rápido, por favor!

Mei: Por acaso não tem outro Hotel Greenwood na região, tem? Quantos quartos tem aqui no total?

Recepcionista: Nós somos o único Hotel Greenwood na cidade de Loveland. Temos 6 andares, 20 quartos por andar. Aqui está, o cartão do seu quarto. Quarto 411.

Eu peguei o cartão e corri para o elevador. Eu olhei para o relógio. Ainda falta 20 minutos.

Eu peguei meu celular e tentei ligar para o Gavin de novo. Dessa vez ele atendeu.

Mei: Alô! Gavin!

O único som do outro lado da linha era uma interferência eletrostática. Com só uma barra de sinal, eu falei rapidamente.

Mei: Não vem para o Hotel Greenwood, quarto 404! É perigoso! Eu vou te esperar na entrada do hotel!

Mei: Você...

A ligação caiu sozinha. Será que o Gavin ouviu o que eu disse?

O elevador parou no quarto andar. Quando pisei no corredor as portas se fecharam atrás de mim.

As luzes no teto piscaram. O longo corredor estava vazio, somente eu e minha própria sombra.

Eu hesitei por um momento e andei passo a passo até ir chegando ao fim do corredor. 401...408...406...

O quarto 404 que supostamente não existia apareceu bem diante dos meus olhos. Um arrepio percorreu minha espinha.

A porta estava ligeiramente entreaberta.

Através da fresta, eu pude ver uma suave luz amarela lá dentro e ouvi o som de um canto alegre que vinha da TV. Eu estremeci mais ainda.

Eu estiquei o braço e antes que eu pudesse tocar na porta, ela se abriu sozinha.

O quarto estava bem iluminado e as cortinas bem fechadas, um show estava passando na TV. A água estava correndo no banheiro vazio. Parecia um quarto normal.

Eu dei um passo a frente, entrando cuidadosamente no quarto. O carpete absorvia o som dos meus passos.

De repente eu ouvi uma risada arrepiante.

Com uma pancada forte, a porta se fechou atrás de mim, e fechadura girou.

Eu corri para a porta e puxei a maçaneta, mas ela não abria.

Mei: Quem está aí? Abra! Por que você está me trancando aqui?!

 


♕ Parte 9


??: Não tem ninguém lá fora. Só aqui dentro.

Uma voz feminina falou atrás de mim. Quando me virei--

Mei: É você!

Josie: Acho que eu não preciso me apresentar.

Assim como na foto, uma garota fofa, pequena, mas com um olhar frio em seu rosto. Ela se levantou do sofá e andou até mim.

Mei: O que você está fazendo aqui?

Josie: Vocês todos não sabiam que eu estava aqui?

Eu me virei em pânico e olhei para o relógio: 14:55. Ainda não era 15h.

Eu não sabia onde o Gavin estava agora, ou se ele estava bem...

Josie: Está preocupada com o Gavin?

Vendo a expressão assustadora no rosto dela, eu tive uma vaga impressão na minha mente.

Mei: Você sabe onde ele está, não sabe?

Josie: Não, eu não sei. Eu só sei que originalmente era para ele estar aqui. Eu não esperava que você viesse.

Ela se virou e olhou para o relógio na parede, suas sobrancelhas lentamente se franziram.

Eu segui o olhar dela e vi que o relógio não tinha mudado. Ainda estava em 14:55h.

O rosto da Josie de repente brilhou ao perceber algo. Ela riu friamente e então se virou ferozmente.

Josie: Entendi. Ele realmente tem uma vida encantadora. Enfrentando a morte iminente e alguém aparece para tomar o lugar dele.

Josie: Isso é tudo culpa sua. Por que você veio aqui?

Ela se aproximou de mim, sua voz se tornou mais aguda. O sorriso anormal mais uma vez apareceu em seu rosto.

Josie: Mas não importa, você simplesmente vai morrer no lugar dele. Você é uma cúmplice afinal de contas.

Josie: Mas não se preocupe, ele vai estar aqui logo para te acompanhar...

Josie: E vocês dois podem ser enterrados ao lado do meu irmão!

Mei: Espera! Como você descobriu que o seu irmão morreu?        

Um sinal de desprezo apareceu nos olhos da Josie, e então ela olhou para mim.

Josie: Eu tenho meus métodos.

Mei: Você não estava lá na cena. A morte do seu irmão teve muitas circunstâncias estranhas.

Mei: Se você estiver disposta a ir comigo até a Força-Tarefa, eles vão te dizer a verdade e te proteger!

Josie: Cala a boca! Por que eu deveria confiar em você? Meu irmão foi morto pela sua gente!

A fúria em seu rosto aumentou e seus olhos ficaram vermelhos.

Josie: Eu não suporto o seu tipo. Você soa tão legal, mas não faz idéia de como parece ser cruel.

Josie: Justiça?! Verdade?! No fim tudo o que vocês querem é se livrar de qualquer um que seja diferente de vocês!

Josie: Você sabe o quanto eu fiquei feliz quando ouvi que meu irmão tinha sequestrado aquela garota que fez bulling comigo? Como eu desejei que uma bomba explodisse!

Josie: Eu quero que todos que olharam para mim com desprezo paguem por isso!

Minhas pernas estavam duras, e o suor nas minhas costas estava ficando gelado.

Mei: Você está errada. Você nunca terá nenhuma satisfação nisso. Além do desgosto, tudo o que senti foi tristeza.

Mei: O único desejo do seu irmão antes de morrer era para que você tivesse uma vida boa.

Mei: Eu também sei como é a dor de perder a pessoa mais importante no mundo para você.

Mei: Foi por isso que eu corri até aqui. Para proteger alguém que é importante para mim.

Mei: Da mesma forma, eu preciso proteger a verdade. Você também...

Josie: A verdade? Você nunca vai ver ela de novo, ou ele.

Depois de me interromper, a boca dela silenciosamente se abriu e fechou. Antes que eu pudesse reagir, um choque intenso, como a lâmina de uma faca, instantaneamente perfurou meus ouvidos.

Parecia que meus tímpanos tinham sido colocados na água fervente. Ondas de choque, afiadas como facas, estavam penetrando meus nervos.

Eu não consegui suportar e caí no chão, cobrindo minha cabeça com força, sentindo como se todo meu interior fosse despedaçar...

Mei: Por que...você está...

Eu estava perdendo a consciência. Eu me esforcei para levantar, mas falhei.

Um fio de chama subiu pela cortina. Eu consegui virar minha cabeça e vi que o sofá também estava em chamas.

O fogo repentino se espalhou rapidamente. Em algum momento, eu fui cercada pelas chamas.

O relógio elétrico caiu no chão. Nele se lia: 14:55.

Mei: Pelo menos...

Eu suspirei, e no meu torpor eu percebi que alguma coisa não estava certa.

A garota estava rindo. Sua risada era mais perfurante do que sua onda sonora.

Josie: Hahaha, a suposta Rainha não é nada mais do que isso!

Josie: Não se preocupe, eu vou dar ao Gavin o melhor presente...Ele realmente vai me agradecer.

 


♕ Parte 10


Gavin fechou uma porta e continuou sua procura. Nesse momento, seu celular tocou.

Era a garota. Gavin atendeu.

A ligação estava cheia de sons elétricos e estáticos. Ele conseguiu entender o que ela estava dizendo.

Mei: Gavin, não vem...

Gavin: Que?

Mei: ...Greenwood...quarto 404...entrada do hotel...

Teve um som forte de onda elétrica e a ligação caiu.

Gavin franziu a testa. Parecia ser urgente, deixando Gavin com um sentimento ruim.

Ele olhou para a hora em seu telefone. 14:50. Ele correu escada abaixo.

O saguão do hotel estava completamente vazio, mas a frente dele estava lotada de gente. Todos estavam olhando para cima e em pânico e pareciam muito ansiosos, como se algo grande tivesse acontecido.

Gavin: O que aconteceu?

Pedestre: Você não sabe? O andar superior do hotel de repente começou a pegar fogo! Do nada!

O coração do Gavin despencou! Ele olhou para cima e só conseguiu ver a janela do quinto andar com uma fumaça saindo dela.

Pedestre: Não se preocupe. Os bombeiros já foram chamados. Eles estão a caminho.

Gavin: E as pessoas lá dentro? Todos saíram?

Gavin ergueu a voz e várias recepcionistas confirmaram que sim.

Recepcionista A: Todos saíram. Nós não tínhamos muitos hóspedes para começar. Os guardas estão fazendo a verificação final.

Recepcionista A: Eu não sei porque o alarme de incêndio falhou de repente hoje. Se alguém não tivesse percebido nós estaríamos acabados!

Recepcionista B: Ah é, e aquela repórter de agora há pouco. Por que não vimos ela?

Gavin: Que repórter?

As têmporas do Gavin pulsaram e seu rosto ficou tenso.

Recepcionista A: Agora há pouco uma repórter mulher nos perguntou se tinha alguém chamada Josie ficando no quarto 404. Mas nosso hotel nem tem um quarto 404...

Recepcionista B: Não se preocupe, ela está ficando no quarto 411. O guarda já verificou e o quarto está vazio.

Assim que ela disse isso, uma enorme explosão aconteceu. Nuvens espessas de fumaça negra subiram em direção ao céu e chamas vermelhas cresciam. A multidão gritou.

Gavin sentiu como se todo o sangue do seu corpo tivesse corrido em direção ao cérebro!

Seus olhos ficaram vermelhos e sua mão começou a tremer, passando para seu corpo todo.

Recepcionista A: Oficial, por que seu rosto está tão branco? Os bombeiros chegarão logo. Se você deixou algo lá dentro terá que esperar...

Gavin cerrou os punhos e correu para dentro do hotel.

Ele mesmo não percebeu que um redemoinho negro começou a girar silenciosamente em torno de seu corpo.

Ela estava lá! No incêndio!

O fogo já havia se espalhado pelo hotel inteiro. Tudo estava em chamas e a temperatura escaldante fazia suas mãos tremerem incontrolavelmente.

A placa na porta com o número 404 estava distorcida pela fumaça e pelo fogo, assim como o quarto todo.

Depois de abrir a porta com um chute, Gavin sentiu como se seu coração tivesse sido esmagado por inúmeras pedras gigantes.

Um enorme incêndio se espalhava na frente dele. A garota estava prestes a ser devorada por um mar de chamas.

A memória enterrada daquele incêndio de anos atrás surgiu como uma enchente, engolindo o Gavin.

O olhar de desespero da mãe dele, seus próprios gritos impotentes por socorro, as chamas aumentando -- aquilo perfurou o coração do Gavin como milhares de flechas.

??: Salve a mamãe! Eu te imploro, salve a mamãe!

??: O problema não é que eu fiquei sentado sem fazer nada, é que você é muito inútil! Você não foi capaz de salvar sua mãe!

??: Você nunca deveria ter nascido para começar! Você é meu maior fracasso!

As chamas torturantes torciam o coração do Gavin e distorciam o rosto da garota na frente dele.

Ela abriu os olhos fracamente. Suas pupilas que antes brilhavam como estrelas, agora estavam lançadas na escuridão. As palavras "Me Salve" se formaram levemente em seus lábios.

Gavin ficou abalado. Ele segurou sua cabeça com dor, uma veia azul saltou na testa dele.

Um vento negro surgiu incontrolavelmente, afastando as chamas e instantaneamente destruindo tudo no quarto inteiro.

No segundo seguinte, ele avançou no mar de fogo e pegou a garota, como se estivesse segurando um tesouro que antes estava perdido e agora foi encontrado.

Gavin: Não tenha medo..Está tudo bem...

Ele continuou repetindo essas palavras, como se ele estivesse acalmando a garota em seus braços e também a ele mesmo.

O vento uivante separou as chamas e envolveu os dois dentro dele. A garota chorava sem parar, agarrando as roupas dele firmemente.

Mei: Oficial, eu estava preocupada que você não fosse me salvar a tempo...preocupada que eu nunca fosse te ver de novo...

O olhar do Gavin parou momentaneamente no pulso sem nada da garota antes de focar no vento instável.

O vento dele no meio do enorme incêndio parecia completamente incapaz de bloquear as chamas. O fogo queimou a pele dele.

Mei: Oficial, você acha que nós vamos morrer aqui...?

Gavin fechou os olhos e empurrou a pessoa que estava nos braços dele.

Gavin: Você não é ela!

Desde que o conheceu melhor, ela quase nunca se dirigia a ele de maneira tão formal. E ela havia prometido sempre usar a pulseira.

E este fogo sem fumaça, não importa o quanto queime, ainda é apenas uma fraca imitação!

O rosto do Gavin se iluminou com brilho e seriedade na luz tremeluzente do fogo.

Seu dedo tremeu. Aquele pesadelo que o havia atormentado todos esses anos parecia ter sido tirado do seu corpo no mesmo instante.

A vida real que ele viveu nesta terra, o peso que sentiu, a dor da perda, a grandeza da fé e a vontade de proteger...

...todo o seu ser, nunca foi um fracasso!

Ele abriu os olhos de novo e viu que a ilusão da garota nas chamas havia desaparecido. No instante seguinte, o mar de chamas desapareceu.

Houve um grande rugido, e a luz e a escuridão se entrelaçaram. O quarto todo era como uma gaiola selada.

O espaço se abriu debaixo do Gavin e ele caiu rapidamente...

 


♕ Parte 11


Nunca tendo sentido uma onda sonora tão poderosa, eu caí no chão, sem nem um pingo de força sobrando.

Josie andou até mim e parou, completamente destemida no meio das chamas, rindo com naturalidade.

Por um momento eu fiquei surda e então lentamente comecei a ouvir o som de um coração batendo, chamas, risadas...

Eu olhei para a Josie. O fogo violento no quarto e a janela trancada parecia acabar com qualquer chance de escapar.

Josie: Você ainda não está pensando em uma maneira de escapar, está?

Mei: ...Enquanto eu estiver viva, não vou desistir!

Josie: Você realmente está mostrando muita perseverança. Mas eu não entendo. Por que simplesmente não te matar? Por que passar por todo esse trabalho?

As chamas subiram sobre mim. Eu não tinha para onde ir. A sensação da queimadura fazia eu me sentir como se estivesse prestes a derreter.

Mei: ...Está queimando!

Eu queria tirar uma brasa que havia caído no meu ombro, mas não tinha força para me mexer.

O tempo passava e as chamas começaram a queimar todas as minhas esperanças. Minhas mãos estavam suando frio.

Minha habilidade de pensar claramente começou a parar e a cena diante de mim se tornou um enorme borrão.

Vendo a janela engolida em chamas, eu não pude deixar de ver o rosto do Gavin em minha mente.

Gavin...Será que eu vou te ver de novo?

Josie: Eu simplesmente amo o olhar de desespero no seu rosto, como se todas suas esperanças estivessem destruídas...

Josie: Não se iluda! A pessoa que você quer proteger não virá te salvar!

Quando eu estava prestes a fechar os olhos, eu ouvi um som estrondoso que vinha do teto--

Eu olhei para cima. As chamas saltaram, pedaços de madeira voaram pelo ar e uma luz dourada brilhou tão forte que quase não consegui abrir os olhos.

Gavin descia do alto, seu rosto frio, envolto por ventos fortes.

Ele parecia ter alguns ferimentos recentes em seu rosto, mas seus olhos estavam calmos.

No momento que ele me viu, muitas emoções que eu não entendi passaram pelos olhos do Gavin.

Eu não consegui dizer nada. Eu só fiquei olhando ele aparecer na minha frente.

Nesse momento, meu coração parou de tentar pular pra fora do meu peito, voltando para sua posição original.

Eu já havia presenciado o Gavin correr para me salvar em vários momentos de perigo, como aquela vez no beco ou no telhado.

Dessa vez, no momento final entre a vida e a morte, ele desceu do céu como um herói.

Eu não consegui dizer uma palavra. Eu só senti que o mundo todo havia se calado e todos os meus medos haviam se resolvido.

Mei: Gavin...

Josie: Você ainda consegue entrar aqui?

Josie parecia surpresa com a chegada do Gavin. Ela abriu a boca e uma breve onda sonora quebrou todas as janelas, fazendo cacos de vidro voarem por todo o local.

Uma enorme quantidade de ar e vento entrou, soprando as chamas, que engoliram tudo em um instante.

Gavin me protegeu. Uma poderosa corrente de ar atravessou as chamas e empurrou a Josie, que bateu contra a parede. A onda sonora parou, mas o fogo continuava.

O vento caótico girava ao redor do Gavin, nos separando do fogo.

As chamas continuaram corroendo a corrente de ar oscilante, diminuindo-a pouco a pouco. Eu podia sentir levemente o calor do fogo.

Gavin segurava minha mão mais forte do que nunca, fazendo eu me sentir muito tranquila em um momento como esse.

Gavin: Não tenha medo. Estou aqui.

Eu sorri para o Gavin. Eu não estava com medo. Ele veio. Eu não estava nem um pouco assustada.

Meu corpo relaxou nesse momento e a escuridão tomou conta do meu cérebro. Com as mãos do Gavin segurando as minhas, eu fechei os olhos.

A última coisa que eu vi foram as chamas vermelhas devorando tudo.

Eu estou em um sonho.

No sonho eu vi poderosas chamas devorarem uma estranha residência, sem nenhum som.

No sonho eu vi um garotinho, parado e petrificado enquanto o fogo tingia metade do céu de vermelho, junto com seu rosto apavorado.

Eu não sei porque, mas eu acordei do sonho chorando.

Ao abrir meus olhos, eu não sabia onde estava. O quarto branco estava completamente vazio. Sem fogo e nenhuma marca de queimadura das chamas.

Poderia ter sido tudo uma alucinação?

A jaqueta do Gavin cobria meu corpo. Ele estava parado na frente de uma janela quebrada, olhando para fora por um longo tempo.

Um vento quase imperceptível se entrelaçou ao redor dele, incitando pequenas correntes de ar pretas.

Mei: Gavin...

Ouvindo minha voz, Gavin rapidamente andou até mim, se abaixou e suavemente segurou minha mão.

Seu rosto estava um pouco pálido, em suas bochechas havia finas faixas de suor, e na sua testa havia veias levemente saltadas.

Então eu vi um novo machucado em seu queixo, fino com gotas de sangue.

Mais uma vez eu fiz o Gavin me resgatar e se machucar.

Meu nariz começou a arder.

O rosto do Gavin ainda estava bem machucado, mas sua expressão era mais alegre.

No segundo seguinte a alegria em seus olhos desapareceu.

Gavin: Por que você veio? Eu não falei para você esperar em casa?

Gavin olhou para mim com raiva, dor, confusão e hesitação em seus olhos.

Essa era a primeira vez que ele ficava bravo comigo.

Eu ergui a cabeça e olhei seriamente nos olhos dele.

Mei: Porque eu estava preocupada com você! Meu Evol parece ter sido restaurado...

Mei: Eu simplesmente vi o futuro e era sobre você, então eu tive que vir para ter certeza que você estava à salvo...

Mei: Eu não posso ver você em perigo e ficar sem fazer nada, então dessa vez não me afaste!        

Pelo menos ele estava bem. Ansiedade e preocupação correram em meu coração, transformando-se em auto-piedade e lágrimas.

Deu um branco no Gavin por um momento. Enquanto ele me olhava, uma emoção pesada surgiu em seus olhos.

Depois de um longo tempo ele levantou as mãos e enxugou minhas lágrimas.

Gavin: ...Me desculpa. Eu prometo que não vou. Não chora.

Mei: Okay.

Eu concordei e me esforcei para parar de chorar.

Depois de me acalmar, eu olhei ao redor e finalmente percebi que a Josie não estava ali.

Mei: O que aconteceu com a garota?

Gavin: Ela desapareceu de repente.

Mei: Desapareceu? Nós ainda estamos no mesmo quarto?

Gavin: Sim. Parecia que nem ela mesma sabia o que tinha acontecido. Ela estava apavorada. Quando ela desapareceu, o fogo também sumiu e o quarto ficou desse jeito.

Mei: Então, nós podemos sair agora?

Gavin: Ainda não.

Mei: Por que?

Gavin não falou. Ele me pegou e andou até a janela.

 


♕ Parte 12


Eu coloquei minha cabeça para fora e fiquei em choque com a cena na minha frente.

Grandes ondas se quebravam na praia abaixo. Nós parecíamos estar em algum lugar muito, muito alto acima da superfície da água.

Eu olhei para o Gavin incrédula.

Gavin tirou uma moeda do seu bolso e a jogou para baixo.

Gavin: Sem eco, sem ruptura. Isso não é uma ilusão. Esse lugar é real.

Gavin: E o ambiente lá fora está mudando continuamente.

O som das ondas desapareceu. Eu olhei para fora da janela de novo e só consegui ver penhascos altos.

Mei: Nós não estamos no hotel então...?

Gavin: Não. Mudou. Esse hotel nem tinha um quarto 404 para começar.

A inquietação em meu coração ficou ainda mais forte. A cena absurda na minha frente desafiava a crença.

Meu celular não tinha nenhum sinal. A hora na tela mostrava 14:55.

O tempo não havia mudado desde que eu entrei aqui!

Mei: Gavin, quando eu entrei no quarto, a hora estava 14:55 e ela continua a mesma até agora!

Mei: O tempo parou aqui.

Gavin olhou para a hora em seu celular e ficou em silêncio pensando.

Gavin: Eu recebi sua ligação às 14:50.

Mei: Como isso é possível? Eu te liguei por volta das 14:30!

Mei: Esse lugar...

Gavin: Talvez esse quarto não exista no nosso mundo.

Não existe no nosso mundo...Eu pensei na outra dimensão do vovô Chuck e na Cabine Preta que o Comandante havia falado.

Gavin obviamente também tinha esse pensamento em mente. Sua expressão ficou séria.

Gavin: A topografia do lado de fora da janela continua mudando. Talvez esse lugar esteja se interconectando com outras diferentes dimensões.

Gavin: Se nós sairmos no local errado, então pode ser como o Comandante especulou, que nós ficaremos presos para sempre em um espaço caótico.

Mei: Então como nós encontraremos a saída certa?

Gavin não respondeu. Ele focou no cenário que mudava do lado de fora da janela, seu rosto paralisado e intenso. Seu corpo todo estava imóvel.

De repente, a mão do Gavin se contraiu, e ele arregalou os olhos surpreso.

Mei: O que foi?

Eu andei rapidamente até a janela e olhei para baixo.

Mei: Uma cachoeira!

As águas velozes surgiram abaixo da janela, lindas e magníficas, fluindo incessantemente. Apesar de eu não conseguir ouvir o som da água.

Meu coração acelerou. A resposta aparentemente saltando aos meus lábios. Eu me virei e olhei para o Gavin.

Ele também olhou para mim. Eu tinha a sensação que eu e ele estávamos pensando a mesma coisa.

Mei: Eu...Eu estou pensando naquela cachoeira misteriosa do distrito norte...

Gavin não disse nada, só franziu a testa.

Mei: Uma família de 4 pessoas se perdeu lá, e muitos Agentes Evol, e depois Josie desapareceu lá também...

Mei: Se Jay e Josie realmente eram aquelas duas crianças que desapareceram anos atrás, então eles devem ter conseguido sair desse espaço também!

Não havia nenhuma prova no que eu disse, mas minha intuição me dizia que essa era a chave para sair daqui.

Gavin, você acha que nós deveríamos...

Gavin não tirava seus olhos da cachoeira. Uma luta intensa parecia estar acontecendo em sua mente. Sua testa estava coberta de suor.

Gavin: Se, e estou dizendo se, nós não formos bem sucedidos em voltar, e ficarmos presos em uma dimensão desconhecida...

Ele olhou para mim, seu rosto mais sério e nervoso que nunca. Seus olhos que estavam sempre brilhando com positividade agora estavam pretos como ferro, pesados com tantas palavras.

Vai saber quantos momentos perigosos como esse o Gavin já não passou. Na minha mente, ele sempre foi decidido e assertivo. Essa era a primeira vez que eu o via tão hesitante.

Aquele sentimento inexplicável no meu coração apareceu de novo.

Mei: Eu não me arrependeria. Mas eu quero tentar. Não importa o que você diga, eu confio em você.

A expressão do Gavin se aprofundou e ele soltou sua mão. E então com um sorriso, o olhar hesitante em seus olhos foi substituído por determinação.

Gavin: Está bem. Se você confia em mim, então eu sei que posso fazer isso.

Ele focou na cachoeira do lado de fora da janela. Nesse quarto onde o tempo não corria, eu ainda podia sentir o ponteiro dos segundos tiquetaqueando em minha mente.

Depois de um longo silêncio, Gavin suspirou e olhou para mim.

Um sinal de sorriso se formou nos olhos do Gavin. Ele pegou minha mão, colocando nossas palmas juntas, e entrelaçou nossos dedos.

Gavin: Me empresta seu poder.

Eu apertei a mão dele de volta. Gavin me envolveu gentilmente em seus braços.

Gavin: Se você ficar com medo, feche os olhos.

Mei: Não estou com medo.

Enquanto eu falava, um ciclone preto nos envolveu, se tornando maior enquanto girava.

Me segurando, ele pulou pela janela.

O vento forte assobiava em meus ouvidos, e logo à frente da cachoeira se tornou escuro de repente.

Depois de não sei quanto tempo, eu lentamente senti uma luz intensa brilhar nas minhas pálpebras.

Eu me esforcei para abrir os olhos e olhei levemente para cima, uma luz âmbar brilhava nos olhos do Gavin.

As estrelas distantes de nós desapareceram e um céu azul entrou no meu campo de visão.

Os raios da tarde se entrelaçavam ao redor de nossos corpos e as nuvens brilhavam com a luz dourada do sol poente.

Era impossivelmente lindo.

Eu estava pressionada contra o peito do Gavin, ouvindo seu coração bater forte e firme, como o solo mais gracioso do mundo.

Por uma fração de segundo, eu desejei que esse momento durasse por mais tempo.

Me segurando, Gavin pousou firme na superfície. Eu senti ele respirar fundo e então me soltou.

Depois de um pouso silencioso, o som familiar do ambiente ao redor mais uma vez voltou aos meus ouvidos.

Depois de olhar tudo ao redor e permanecendo no chão firme, eu olhei alegremente para o Gavin.

Mei: Nós conseguimos! Nós realmente voltamos!

Nesse momento, o rosto do Gavin ficou pálido.

O vento se dispersou. De repente ele colocou a mão no chão.

Ele estava apertando seu peito com força, mordendo tão forte os lábios que eles ficaram brancos.





Parecia ter algo incontrolável tentando sair de dentro do corpo dele. Os dedos do Gavin estavam ficando brancos.

Mei: Gavin, você está bem...?

Lembrando do machucado que eu tinha visto no queixo dele, eu fiquei ansiosa e quis examiná-lo.

Quando minha mão tocou o braço do Gavin, eu fui empurrada para longe por uma corrente de ar muito poderosa.

Mei: Gavin...

Gavin ainda estava com uma mão apoiada no chão, uma veia saltava do seu pescoço.

Eu levantei do chão e corri de volta na direção do Gavin. O vendaval instantaneamente girou para cima , tão afiado quanto uma lâmina, e cortou minha bochecha.

Mei: Aaahh--

A dor aguda do corte fez eu colocar a mão no meu rosto. Sangue fluía pelas frestas dos meus dedos.O líquido quente me deixou espantada.

Mei: ...O que está acontecendo?

Eu olhei para o Gavin. O corpo todo dele estava paralisado no lugar.

Ele olhou para mim, seus olhos se tornaram um vermelho escarlate. Com uma mão ainda apertando seu peito com força, ele lentamente se levantou.

Gavin: Fique longe de mim!

Mei: Gavin?

Gavin: ...Ou então eu vou te machucar.

Quando ele falou, virou as costas para mim, parecendo não querer ver meu rosto.

Mei: Gavin, você está machucado? Ou...

Mei: O seu Evol saiu do controle?!

Eu queria chegar perto dele, mas toda vez eu era empurrada para trás pelo vento forte.

Gavin: ...Não se aproxime de mim!

Sua voz parecia sufocada e cheia de dor.

O vento estava ficando cada vez mais forte e Gavin inteiro foi envolto no centro de uma tempestade.

Eu não conseguia me aproximar, eu só podia olhar enquanto o vento nos afastava cada vez mais.

Mei: Gavin!

Gavin olhou para trás. Seus olhos estavam cheios de uma frieza estranha.

Eu abri a boca, mas minhas palavras foram engolidas pelo vento. Vendo o Gavin se afastar cada vez mais de mim, eu tentei com todas as forças atravessar o vento e segurá-lo.

Mas não importa o quanto eu me esforçasse, o vento intenso me deixava presa no lugar.

Eu observava de olhos arregalados enquanto o Gavin sumia de vista, até mesmo o último sopro de vento desaparecer.

As lágrimas amargas no meu rosto já haviam se secado há muito tempo pelo vento, se transformando apenas em manchas.

Eu fiquei parada onde eu estava, entorpecida, olhando o tempo todo na direção em que Gavin tinha ido.

À distância, sirenes de polícia soaram. Meu celular recuperou o sinal e começou a vibrar.

As árvores de ginkgo ao meu redor balançavam, folhas verdes caíam no chão.

Eu olhei para cima, mas o céu estava vazio.

.................

Kiro estava sentado em uma sala escura. Seus dedos que digitavam rapidamente pararam, e um arquivo pessoal com a foto da garota apareceu diante de seus olhos.

Ele apertou enter e descobriu que o arquivo estava vazio -- todos os documentos haviam desaparecido.

Ele pensou por um momento e então digitou rapidamente no teclado.

Linha após linha de números flutuavam diante dele. Um programa chamado 'Salomão' apareceu na tela.

Kiro fechou os lábios com força.

Ele saiu da sala, apertando os olhos com a luz do sol repentina enquanto se acostumava com a claridade.

No corredor estreito, um homem vestindo um sobretudo branco vinha na outra direção, com um homem de preto ao seu lado.

Homem de Preto: Ares, a reunião está prestes a começar.

O homem concordou e esbarrou seu ombro no Kiro enquanto passava.

Quando eles estavam próximos um do outro, o alarme de aviso da reunião começou a tocar no corredor.

Kiro: Foi você.

Sua voz era baixa e foi completamente escondida pelo som do alarme.

O homem de sobretudo branco não esboçou reação e continuou andando.

Ele parou na frente de uma porta de metal e bateu levemente.

??: Você está aqui.

O homem concordou e se virou. Seu rosto não tinha expressão, até mesmo seus olhos eram desprovidos de emoções.

??: Ares, é hora de abrir a caixa.

Ares: Sim.

O rosto do homem foi lentamente coberto por sombras. Ele ergueu o olhar, sua boca se curvou ligeiramente para cima.

??: Aqueles que passaram muito tempo na luz, eventualmente devem retornar à escuridão.

 

  

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.Traduzido por Lu Zhou.

☆ 周棋洛 Miss Chips 




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